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Anda toda a gente muito irritada com o peregrino agravamento das coimas que pretendem punir a não reclamação de facturas e com o reavivar de uma lei que não pertence a este governo. Acho que se ..." /> Crónicas da Sábado: pedregulho neles! - Quinta do Careca - Record

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Crónicas da Sábado: pedregulho neles!

24 Fevereiro, 2013 916 visualizações

Anda toda a gente muito irritada com o peregrino agravamento das coimas que pretendem punir a não reclamação de facturas e com o reavivar de uma lei que não pertence a este governo. Acho que se trata mais de aproveitar uma oportunidade para desancar quem nos está a ir ao bolso pela medida grande do que outra coisa. É que não seria possível, com a enorme redução de funcionários públicos em curso, aumentar a vigilância do Estado sobre o consumidor, quando nem sequer se aperta com os emissores dos papelinhos, que são em menor número. Mas como o secretário de Estado das Facturas quis fazer prova de vida para gozar com a gente, só se perdem as que caem no chão. Como diria Cavaco, o outro: não há paciência para ajudantes de ministro.

Não é que ser secretário seja assim tão mau. Pode, mesmo, ser uma montra, uma oportunidade de mostrar serviço, de arranjar um gancho numa empresa na vidinha futura ou, apenas, de ficar bem visto perante a vizinhança ou de ter o protagonismo que a profissão, se a houver, nunca deu. Pois, se nem sendo esse o caso, até o ex-ajudante Francisco José Viegas se viu na necessidade de divulgar a sua importante posição quanto à suposta fiscalização das facturas, não vá cair-nos no esquecimento! Mais: temendo, quiçá, não ser contundente o suficiente para se valorizar nas redes sociais e na blogosfera da presunção, não hesitou em utilizar linguagem imprópria de um vulto da intelectualidade, recorrendo, no entanto, à expressão brasileira, que sempre torna mais cosmopolita a ordinarice. Coitado do secretário Núncio, até viu estrelas.

A propósito: com esta história do asteróide, dou comigo a matutar no que faria se me fosse dito: como ele tem de chocar contra a Terra, escolhe lá tu o local. Confesso que passou o tempo em que só não matei por medo do Inferno ou da cadeia. Mas se fosse Deus e tivesse consciência do quanto tenho andado distraído desde a fase da Criação, creio que aproveitaria para deixar cair o pedregulho aí num deserto qualquer, cuidando, antes, de povoar a área com todos os malfeitores que encontrasse. Desde violadores de crianças a genocidas, numa fila para o cadafalso onde caberiam todos aqueles que vieram ao Mundo apenas com o desígnio de torturar, matar, fazer sofrer os outros. Ficaria por aí. Não consigo hoje estender os meus ódios à bandidagem comum, seja a que assalta para comer, a que arromba para consumir ou a que, mais refinadamente, se apropria do que não é seu, com descaramento, engenho e alguma arte. Calculo o que o leitor estará a pensar, mas não. Mandaria os responsáveis pelo roubo das nossas pensões, cometido sobre gente indefesa, para o deserto, sim, talvez o do Cazaquistão que é bem longe, mas fora da zona de impacto.

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 21 fevereiro 2013