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Quando Fernando Santos foi escolhido para selecionador nacional, alguns doutos opinadores embandeiraram em arco: ele era o homem indicado para o que diziam ir ser “a renovação da Seleção”. O certo ..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

E Bernardo Silva?

28 Março, 2017 0

Quando Fernando Santos foi escolhido para selecionador nacional, alguns doutos opinadores embandeiraram em arco: ele era o homem indicado para o que diziam ir ser “a renovação da Seleção”.

O certo é que só fomos campeões da Europa graças à inteligência do engenheiro, à sua prudência e ponderação, e ao acerto das suas escolhas, convocando jogadores jovens mas constituindo a base da equipa com futebolistas maduros, que deram aos mais novos o enquadramento indispensável. Sem Pepe, Ricardo Carvalho, José Fonte, Bruno Alves, Moutinho ou Quaresma, e sempre Cristiano – que é uma mistura virtuosa de juventude e veterania – o resultado da nossa participação no Europeu teria sido outro e provavelmente pior.

Mas seria um erro que o selecionador caísse agora no radicalismo oposto e acreditasse que aos campeões europeus é devida alguma preferência, como se poderia deduzir da constituição da turma titular do jogo com a Hungria. É que se a ausência do onze, e mesmo a não utilização de Renato Sanches ou Gelson Martins se pode aceitar, já o facto de Bernardo Silva – que está numa forma superlativa – ter ficado no banco até perto do final da partida é, no mínimo, incompreensível.

Esperemos que o desafio a feijões com a Suécia permita ver um pouco mais dos artistas do futuro da Seleção. Ou o fantástico trabalho de Rui Jorge, nos Sub-21, acabará emperrado nas ordens de mérito, de lugares cativos e de direitos adquiridos.

Canto direto, Record, 27MAR17

A velharia de Fernando Santos

15 Novembro, 2016 0

Quando Fernando Santos chegou à Seleção, os mesmos plumitivos que aplaudiram as saídas de Scolari e Paulo Bento, “autorizaram” a nomeação do selecionador nacional com a alegação de que ele iria ter de renovar uma equipa envelhecida.

O engenheiro cedo dissipou as dúvidas com uma convocatória inicial conservadora, na qual não faltou sequer um Bosingwa já com poucas condições para altas cavalarias. E a partir daí foi chamando, uma a uma, as muitas revelações em que felizmente é fértil o futebol português, procedendo à renovação com segurança e sem desaproveitar, como muitos vaticinavam e até “exigiam”, os veteranos sem os quais jamais teríamos alcançado o topo da Europa.

Lembrei-me disso ontem, primeiro ao ver, nas laterais da defesa, João Cancelo e Raphael Guerreiro, dois talentos puros, dois jovens que darão poucas hipóteses de voltarmos a ter no onze titular da Seleção três campeões europeus: Cédric, Vieirinha e Eliseu. E depois, já sobre o final do jogo com a Letónia, quando vi o golo de Bruno Alves, esse podre de velho sempre generoso, sempre concentrado e sempre útil, que tantos têm dado como acabado e que insiste, com modéstia e determinação, em fazer prova de uma vida futebolística que chegará, pelo menos, até ao Mundial.

E é apenas na zona de ação de Bruno, José Fonte e Pepe que está por fazer a tal renovação tranquila, um pouco por falta de opções imediatas, mas muito pela inegável qualidade dessa velharia que nos assegura o presente e o futuro próximo. Mais tarde, um dia, Santos fará então o trabalho.

Canto direto, Record, 14NOV16

 

Les petits Français

11 Julho, 2016 0

Compatriotas de Nicolas Chauvin, soldado condecorado por Napoleão pelo seu heroísmo e depois mais conhecido pela sua imensa vaidade, “les petits Français” deram à Seleção o empurrão que faltava, puxando pelo brio dos nossos futebolistas e adormecendo, em simultâneo, o ego sobredimensionado dos seus próprios jogadores – alguns bons, poucos geniais, todos a valer vento e milhões.

Nojento. Esse chauvinismo, exercido com paixão pela comunicação social gaulesa, expressou-se com clareza e deselegância, e foi desde o “futebol nojento” da equipa portuguesa à “falta de visão de jogo e lucidez tática de Renato Sanches” ou à incapacidade de William Carvalho para fazer “uma transversal de 30 ou 40 metros”. E se é verdade que tanto o reforço do Bayern como o pivô do Sporting não fizeram ontem um enorme jogo, também é certo que o futebol da Seleção foi menos nojento do que o protagonizado pelos “bleus”, que viveram, por 120 minutos, praticamente só da inspiração de Sissoko e da capacidade técnica, e física, de Pogba.

Cacetada. Mas os franceses foram ainda “nojentos” pelo modo violento como atuaram, em especial na primeira parte. E eu, que venho infelizmente do tempo dos campos pelados – e não das Salésias, como diz o outro, porque aí já havia relva – e vi muitos jogos dos distritais, sei bem como há 50 e tal anos se marcava, antes do apito inicial, a estrela do adversário, e como se definia que se lhe arreasse uma cacetada logo na primeira oportunidade. Foi com essa “tática”, a mais velha do futebol, que os franceses arrumaram Cristiano.

Engenheiro. Serviu-lhes de pouco porque a noite da saída prematura do melhor jogador do Planeta fora traçada por ínvios caminhos. Depois de Nani, Ricardo Quaresma, Renato Sanches, Adrien, Moutinho, Raphael, Pepe ou Cristiano – e por que não José Fonte e até Bruno Alves? – terem vivido momentos que de uma forma ou outra nos conduziram à final, a partida de Paris estava destinada ao brilho definitivo de Rui Patrício e à vingança do ás de trunfo que o engenheiro das premonições lançou na hora certa: Éder ou Éderzito, o tosco, o feio, o preto, o ex-alvo preferido da chacota torpe das redes sociais. Foi ele que logo pôs em sentido os centrais franceses, que jogou maravilhosamente de costas para a baliza e que, no minuto escolhido pelos deuses e sem linhas de passe, desferiu, por Cristiano e ao nível de Cristiano, o remate que redimiu um país. Tudo se fez com todos, mas sem a fé de Fernando Santos todos pouco ou nada teriam feito.

Contracrónica, Record, 11JUL16

Renato Sanchez e o fantasma de Fernando Santos

26 Junho, 2016 0

A fé de Fernando Santos é mesmo para levar a sério. Portugal voltou a jogar para empatar e acabou dominado pela superior qualidade da Croácia – com Vida a errar de cabeça por centímetros e com Kalinic (ou Perisic?) a atirar ao poste… Mas eis se não quando um quarteto de génios da bola resolve a passagem aos “quartos”, fugindo a uma maléfica recordação que nada prometia de venturoso: a da eliminação, por penáltis, aos pés da Espanha, em 2012, embora desta vez João Moutinho e Bruno Alves não estivessem em campo com os seus pés frios. Aliás, também aí se viu a fé do selecionador, que substituiu Adrien perto do fim, uma decisão só possível de ser tomada por quem sabia que não haveria grandes penalidades.

Surpresa. Acusado de ser conservador, mestre Santos começou por surpreender-nos, pela positiva, por ter, enfim, dado a oportunidade, que meio país reclamava, a Adrien – para mim, com Pepe, o melhor dos nossos –, por ter feito descansar Vieirinha e por ter poupado o desgastado Ricardo Carvalho, tanto mais que com Pepe “amarelado” corríamos o risco de ficar sem os centrais titulares na quinta-feira. E fez igualmente bem o selecionador ao reservar Quaresma para o que viesse, embora se duvide que sonhasse que viria a ser do cigano de ouro o golo da vitória. Seria premonição a mais.

Saloio. Vale a pena recordar o lance decisivo, que se iniciou em Renato Sanchez – sim, hoje vai Sanchez, deixem-me também ser saloio. O novo médio do Bayern, que joga para frente, avançou no terreno, arriscou – falhando o tempo do passe para Cristiano – e meteu em Nani, que cruzou milimetricamente para CR7 rematar, e Subasic defender para a cabeça de Quaresma, que estava no sítio certo e não por acaso. Quem louva a qualidade dos tecnicistas croatas que veja e reveja esta jogada e confirme que o golo só aconteceu pelo altíssimo nível dos quatro artistas portugueses.

Fantasma. Mas há um mistério que Fernando Santos alimenta e que paira como um fantasma sobre o desafio com a Polónia: a insistência em deixar no banco Renato Sanchez – que em dois confrontos consecutivos entrou e modificou para infinitamente melhor o nosso jogo – e sair de início com um André Gomes fisicamente nas lonas. E isso é um fantasma porquê? Porque a um fulano que vê o futebol como nos tempos das Salésias vêm à cabeça coisas destas: nova aposta em André Gomes, em Marselha, e Moutinho outra vez. Não abuses da sorte, Fernando.

Contracrónica, Record, 26JUN16

Sou o que vem das Salésias

23 Junho, 2016 0

Tremo antes de começar a perorar, estou como a Seleção, com a confiança abalada. Um remate de fora da área, que passa pelo buraco da agulha e entra na baliza, e depois mais dois golos quase iguais – de um jogador que só tem um pé – e ambos na sequência de ressaltos, são azares em excesso. Já eu não me queixo de falta de sorte, mas apenas de um remoque do “Guardiola” dos comentadores intestinos, que me acusou no Facebook de escrever sobre futebol como se vivesse nos tempos das Salésias. Logo eu, que tanto procuro atualizar-me com as lições do narcísico “Guardiola” da faladura.

Os interiores. Infelizmente, não vi a Seleção atuar nas Salésias, já sou do tempo do Estádio Nacional, calcule-se, e do que me lembro jogávamos sempre com dois médios, que apoiavam os três defesas, sendo o ataque desenvolvido ou pelos extremos, encostados às linhas, ou pelos então chamados “interiores”, os números 8 e 10 – as camisolas iam de 1 a 11 e não havia pão para malucos. O que havia, sim, era um sentido vertical do jogo, como em Lyon exemplificaram Ricardo Quaresma e Renato Sanches – quando entraram para melhorar 100 por cento o rendimento da equipa –, e João Mário, quando o deixaram jogar pelo interior, onde rende bem mais do que na ala.

 A diferença. Espero, eu e milhões de portugueses, que embora Fernando Santos se não recorde dos tempos das Salésias – o campo foi abandonado em 1956, ia o nosso selecionador completar 2 anos – não volte atrás na escolha da equipa, depois de se ter visto ontem a diferença entre jogar para o lado e para trás ou levantar a cabeça – expressão de que os treinadores e os jogadores portugueses tanto gostam, desde os tempos das Salésias –, progredir no terreno e procurar a área adversária.

Só dois dias. O problema é que a coisa baralhou-se. Se, por um lado, temos de volta o génio de Cristiano e o melhor Nani, por outro, André Gomes perdeu a forma, William Carvalho afundou-se e a defesa começou também a meter água. Vai ser um 31 para mestre Santos decidir com que equipa iremos derrotar a difícil Croácia, no sábado – só com dois dias para recuperar forças, ai, ai… Eu poderia ir lá ajudá-lo se o “Guardiola” doméstico não me tivesse posto o moral em baixo, levando o meu frágil ego a crer que vejo mesmo o futebol como nos tempos das Salésias, em vez de ser um novo-rico da verborreia, pretensioso e deslumbrado – um pobre tipo vazio de talento e peito cheio de vento e de prosápia.

Contracrónica, Record, 23JUN16

A seleção dos tarzões sem sorte

19 Junho, 2016 0

Agora que o insuspeito e mui conceituado diário “i” o considerou como o “Guardiola dos comentadores”, acompanho a teoria de Carlos Daniel – que ontem, na RTP, classificou de “anárquica” a tática da Seleção no jogo com os austríacos. Isso permite que este modesto Karadas da escrevinhadura futeboleira, que sou, se contenha ao ponto de não ter de jurar que não deu por tática alguma. Ou, como sei que Fernando Santos é um patriota, admita, com relutância, que tenha passado aos jogadores a célebre tática do seu homónimo, o grande e saudoso Fernando Cabrita: “Rapazes, vamos a eles que nem uns tarzões!”

Não alabou. Não imagino o que Santos disse, mas certo é que nos fomos a eles, austríacos que não jogam a ponta de um chifre, numa noite em que nem a sua estrela Alaba alabou coisa que se visse – e nem uma oportunidade para marcar tiveram, coitados! Vão jogar assim com os islandeses vão, que nada melhor conseguirão do que perder ou empatar, e Viena espera-os, de valsa caída, já na quarta-feira.

Invisuais. Pois é, Portugal carregou-lhe bem, esforçou-se, cresceu muito em relação à partida de estreia, fez mais de 20 remates – já vai em meia centena nos dois primeiros desafios – atirou duas bolas aos ferros e só não ganhou porque lhe faltou a sorte e o Cristiano Ronaldo da primeira metade da época. Tivesse ele concretizado o penálti, e feito o 55.º golo da temporada em 53 jogos, e estaria tudo a embandeirar e a tocar solos de violino. Assim, todos expomos excelsas teorias e eu também fiz o gosto ao dedo, e aos maus fígados, no Twitter, lá encontrando um amplo menu de acusações, que começavam em Cristiano e só não acabavam no selecionador porque pelo meio havia João Moutinho, o bombo da festa – e ontem considerado “The man of the match” porque a UEFA delegou gentilmente a escolha na Associação Recreativa dos Invisuais da Granja.

Fé em Deus. Gosto de Moutinho, que é um homem sempre comprometido, que pode não jogar bem mas também nunca joga mal, sem que se lhe possa chamar Melhoral, mas confesso que não percebi as alterações, confusas e tardias, de mestre Santos, que transformaram uma equipa que já atuava em modo de cada um por si, com o talento à solta que conhecemos, num onze atabalhoado de tudo ao molho e fé em Deus. E prontos, ficamos por aqui que vou acabar de ouvir o nosso Guardiola caseiro, a ver se aprendo mais qualquer coisinha.

Contracrónica, Record, 19JUN16

Tudo em grande forma e eu de pé atrás

13 Junho, 2016 0

Sexa, o Presidente, deu conhecimento aos portugueses de que os jogadores da Seleção estão “em grande forma”, repetindo assim a garantia ouvida da boca de Sexa, o primeiro-ministro, de que Cristiano está “em grande forma”. Por mim, nada de dúvidas. Porque as declarações dos principais responsáveis políticos do País, assentando na fé, trazem a chancela de dois por vezes irritantes conhecedores de futebol, que não falam só por falar.

Por outro lado, a concludente exibição, com goleada, dos nossos rapazes frente à seleção da Estónia, 94.ª classificada – e 40.ª europeia – no ranking da FIFA, fez perpassar pelo coração dos adeptos um vendaval de esperança que só uma realidade madrasta poderá travar.

Começo por alinhar nessa esperança. Porque a equipa de todos nós evidencia a frescura física e mental que lhe faltava em 2014, pese a defesa carregada de veterania. Porque no meio-campo dispomos de carradas de talentos e de soluções. Porque na frente, apesar de só haver um ponta-de-lança – que se tem mostrado bem menos tosco do que se julgava –, se juntou a Cristiano um génio que parecia perdido para o grande futebol e que surge em forma transcendente na hora própria: o velho Quaresma. E porque, não menos relevante, Fernando Santos acertou no tom do discurso, na lógica do raciocínio e na medida da ambição. Pode dar certo desta vez? Hum…

É que mesmo com esperança, acordo de noite, às voltas com o velho pessimismo português. Dou com a notícia de que, afinal, Ricardo Quaresma deve falhar o jogo de estreia e penso logo mais à frente, na treta habitual de um CR7 a 100%, quando todos sabemos que num final de temporada não conseguirá estar ao seu nível – e menos ainda se tiver que disputar sete partidas em 25 dias. Não, amanhã vou estar também em grande forma, mas de pé atrás porque assim tudo o que vier de bom será lucro.

Canto direto, Record, 13JUN16