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Nunca percebi o que leva futebolistas profundamente identificados com um clube a procurarem outro – por norma em fase adiantada do seu percurso profissional e a troco de um punhado extra de dólares..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Um sábio chamado Iker Casillas

19 Julho, 2017 0

Nunca percebi o que leva futebolistas profundamente identificados com um clube a procurarem outro – por norma em fase adiantada do seu percurso profissional e a troco de um punhado extra de dólares. Não me refiro a casos que têm mais a ver com uma bem sucedida gestão de carreira do que com fatores emocionais, como o de Figo, que conseguiu sair do Sporting para estar cinco anos no Barcelona, outros cinco no Real Madrid e mais quatro no Inter, ou de Ricardo Carvalho, que ganhou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões com o FC Porto, para vestir a seguir as camisolas do Chelsea, do Real Madrid e do Mónaco, atuando hoje ainda – aos 39 anos (!) e a um nível absolutamente inacreditável – nos chineses do Shanghai SIPG, de Hulk e Vilas-Boas. Esses são jogadores globais, cidadãos do Mundo.

Com isto, quero chegar a uma das boas notícias da semana finda: a da continuidade de Casillas no FC Porto. Após longas semanas de especulações, que deram o guarda-redes a caminho de destinos diversos, aconteceu o que eu sempre esperei: ele fica.

Para nomes com o estatuto e a mediatização de Iker, clubes interessados nunca faltam e cheques a acenar também não. Mas para um homem que já ganhou tudo e que permanecerá, até ao fim, umbilicalmente ligado ao Real Madrid e aos seus adeptos – que um dia de bom grado o acolherão de novo – o dinheiro deixou de ser o mais relevante. Forçado a abandonar o maior clube do Planeta, que cobra aos melhores servidores o mais pequeno deslize e onde a intriga tem o pé leve, Casillas não poderia ter feito escolha mais feliz para continuar a jogar do que Portugal, o Porto e o grande emblema da Invicta. Em dois anos, pese o facto de a equipa azul e branca ter atravessado fase de menor rendimento, Iker ganhou o carinho da plateia portista e juntou à admiração pela qualidade futebolística o respeito de todos. Podendo ficar também como referência futura do FC Porto, ia agora jogar para onde lhe dessem mais umas notas? Sábia decisão a sua.

Mas o acordo para a continuidade, apesar do inevitável esforço financeiro, é igualmente muito bom para o clube e para o novo treinador. Para o Dragão porque mantém a visibilidade acrescida que a vinda de Casillas lhe trouxe, e para Sérgio Conceição porque pode começar a construir a equipa de Maxi Pereira para a frente, sabendo que terá na baliza um dos grandes guarda-redes mundiais.

Termino com um exemplo do que me referi no início: Pepe vai jogar no Besiktas para ganhar mais uns milhões, ou talvez não, veremos no fim. Já o escrevi aqui: foi mau para o duplo campeão europeu não ter querido seguir no Real. Mas péssimo, mesmo, vai ser para os madridistas, que em breve – e demasiado tarde – verão a estupidez que cometeram.

Outra vez segunda-feira, Record, 10JUL17

Pepe cometeu suicídio

15 Junho, 2017 0

Uma das coisas que me desgosta na próxima época do Real Madrid é que Pepe já não estará lá. Deixou o clube ao fim de uma década gloriosa em que conquistou tudo – até o coração dos adeptos. E se foi difícil alcançar esse estatuto de privilégio tão raro em Chamartín! Os meses iniciais foram atribulados e prolongaram-se, com o jogador preocupado em confirmar a sua fama de duro e a assumir atitudes antidesportivas que lançaram a desconfiança nas bancadas e fizeram dele um mal-amado.

Mas Pepe não tardou em amadurecer e logo compreendeu o grau de exigência – muito para além da dimensão futebolística – a que se encontrava sujeito. E passou a recorrer apenas à velocidade, ao posicionamento, à capacidade técnica, à concentração e a uma entrega total, solidária e cativante, para se afirmar em campo e fora dele. Quando um companheiro marcava um golo, o primeiro a aparecer para o saudar era quase sempre Pepe. Defendia o emblema enquanto outros se calavam e até se colocou contra José Mourinho para defender Casillas. Chegou a terceiro capitão do Real, apenas atrás de Sergio Ramos e Marcelo, mais antigos no uso da camisa “blanca”.

Em tempo de renovação de contrato, o Real não se portou bem com ele. Aos 34 anos, queria assinar por duas temporadas, como merecia, e Florentino ofereceu-lhe uma. Pepe não aceitou e fez mal, pois continuando o seu rendimento ao nível a que obriga o futebol dos madridistas, não lhe seria difícil, dentro de um ano, voltar a renovar – caso a morosidade em recuperar das lesões não se agravasse.

Por isso se compreende a recusa da entidade patronal em alargar o compromisso por mais duas épocas. Porque se a qualidade do jogo de Pepe se mantém, os problemas físicos atormentam-no hoje mais, como o afastamento da partida com a Letónia acabou de confirmar. Depois de ser campeão europeu com a Seleção, e tendo rubricado um campeonato de sonho, esperava-se mais um ano de alto rendimento, o que não aconteceu: atuou somente em 18 partidas no RM e passou dias sem fim longe dos treinos e a tratar de “moléstias”.

Consumado o divórcio, o que custa ainda mais a entender é o suicídio do central como referência do Real. Ao dar entrevistas a criticar o presidente e o treinador, Pepe desistiu de ser outro Fernando Hierro, perdeu a face com que um dia regressaria como ídolo da “afición”. A mesma que o ovacionou de pé, há dois meses, ao sair lesionado após ter marcado um grande golo ao Atlético – na verdade, a sua despedida antecipada do Bernabéu. Quem terá aconselhado Pepe a destruir a imagem de marca, aquela em que beijava, com paixão, o escudo do Real Madrid? O que leva um homem a renunciar à própria lenda?

Outra vez segunda-feira, Record, 12JUN17

O drama de Pepe

2 Janeiro, 2017 0

Perdido entre o Hannover 96 e o Valencia de Nuno Espírito Santo – e como já têm por lá saudades do treinador português… – João Pereira foi recuperado por Jorge Jesus no Sporting, acabando até por ganhar a titularidade a Schelotto. Mas aos 32 anos, com o regresso à Seleção tapado por Nélson Semedo e Cédric, por Cancelo e Vieirinha, o lateral preferido de Paulo Bento quer fazer ainda um grande último contrato e deixa Alvalade para tratar da vida. São opções.

Em situação mais complicada está Pepe, em fim de compromisso com o Real Madrid. O clube oferece-lhe uma renovação até 2018, o jogador – que completará em fevereiro 34 anos – quer assinar por duas temporadas. Além disso, os madrilenos não pretendem pagar mais do que os 4,5 milhões de euros livres de impostos que Pepe aufere por época, enquanto o internacional português tenta aumentar a parada, seguro com os 10 milhões (ou mais) de euros líquidos anuais com que lhe acenam da China.

Ídolo na capital espanhola, considerado o melhor central estrangeiro de sempre a envergar a camisola do Real, que serve há quase uma década, Pepe hesita em continuar como referência – e constituir uma lenda blanca para a eternidade – ou rechear ainda mais uma conta bancária milionária. E a Seleção? Poderá a aventura no eldorado chinês vir pôr em risco a sua presença no Mundial de 2018? É um drama para Pepe, sem dúvida. Mas quem nos dera a nós termos de resolver um drama desses!

Feliz Ano Novo, leitor.

Canto direto, Record, 2JAN17