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O Benfica continua a melhorar na Liga, subindo de rendimento e mantendo-se como forte candidato ao título – afinal, o Sporting tem apenas mais um ponto. E isso acontece porque, para consumo interno..." /> — ler mais..

O Benfica continua a melhorar na Liga, subindo de rendimento e mantendo-se como forte candidato ao título – afinal, o Sporting tem apenas mais um ponto. E isso acontece porque, para consumo interno..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Benfica melhora e Felipe tem valor acrescentado

7 Novembro, 2017 0

O Benfica continua a melhorar na Liga, subindo de rendimento e mantendo-se como forte candidato ao título – afinal, o Sporting tem apenas mais um ponto. E isso acontece porque, para consumo interno, as saídas não compensadas de jogadores nucleares são disfarçadas pelos múltiplos recursos que sobraram e pela “engenharia futebolística” de Rui Vitória, que tudo aceita com generosidade e tudo resolve com voluntarismo. Mas a Champions é outra coisa e aí o desinvestimento não pode ser maquilhado: quatro jogos, quatro derrotas, um só golo marcado e até a Liga Europa está em risco. A moral da história é velha: não há milagres.

Recordo-me bem do que se escreveu e disse sobre Felipe, após as suas primeiras semanas no FC Porto. Da capacidade técnica modesta ao ataque à bola a destempo, passando pelo mau posicionamento em campo, sobraram críticas. Mas o tempo confirmou a qualidade do central brasileiro, este ano até com valor acrescentado: os árbitros ficam sem sopro nos apitos quando ele faz faltas na grande área. No sábado, no Dragão, cometeu duas para penálti, que o juiz não assinalou e que se tentou mesmo garantir que não tivessem existido. Mas honra para Jorge Faustino, que no Record de ontem não se encolheu e foi bem claro. E a verdade é que, a ter sido cumprida a lei, o Belenenses desfrutaria, cedo no desafio, de duas oportunidades para alterar o marcador a seu favor. E uma certeza: como das faltas resultariam dois cartões amarelos, o excelente Felipe teria sido expulso aos 24 minutos e eventualmente a sorte da partida seria outra. Ou não, concedo, que o FC Porto está a jogar horrores.

Parece incrível como ainda há tão pouco tempo Real Madrid e Barcelona dominavam o futebol europeu e como rapidamente perderam esse estatuto. Com o Manchester United a tardar em alcançar o nível que sempre se espera das equipas de José Mourinho, os grandes monstros da atualidade são o Manchester City, de Pep Guardiola, e o PSG, de Unai Emery, que somam goleadas umas atrás das outras. No caso dos ingleses, só algo de outro mundo os impedirá de ser campeões. Já no que respeita aos parisienses, existe o perigo do excesso de vedetas e de alguma falta de neurónios. Mas a fase final da Champions promete, talvez com a Juventus a fechar o sexteto galático.

No último parágrafo, o quarto tema de hoje: Lito Vidigal. Em boa hora regressado ao futebol português, o treinador apanhou logo pela frente Benfica e V. Guimarães, e perdeu. Sabiam os seus admiradores, e entre eles me incluo, que era uma questão de dias para que recuperasse fora o que perdera em casa. E assim aconteceu, o Aves foi ganhar a Setúbal e pode finalmente respirar. Lito é um exemplo daqueles treinadores que deixam marca por onde passam, sendo que por vezes são incompreendidos por gente burra, que percebe tanto de futebol como de viagens ao espaço.

Outra vez segunda-feira, Record, 6NOV17

A maneira mais triste de tratar Iker Casillas

30 Outubro, 2017 0

Já aqui destaquei a extraordinária transformação que se deu na equipa do FC Porto desde que Sérgio Conceição assumiu o comando. Referi, também, a forte personalidade do treinador e a sua indiscutível capacidade de liderança. Mas isso não me leva a ficar calado perante a humilhação a que Sérgio, e a SAD portista por detrás dele, submetem Iker Casillas.

Não vale a pena perder mais tempo a falar sobre a qualidade do guarda-redes, que dele fez – para além de todos os títulos que ganhou no Real Madrid –campeão da Europa e campeão do Mundo. E não vale porque logo surgiriam os críticos a sublinhar as suas clássicas dificuldades em abandonar os postes, que terão levado, primeiro Mourinho e depois Ancelotti, a deixá-lo no banco.

O que vale a pena é recordar a visibilidade e o prestígio que a contratação de Casillas trouxe ao FC Porto, a segurança que devolveu à baliza portista – e que o início da época confirmava –, a relação com os companheiros e o compromisso com a equipa e com o clube. Tudo, afinal, o que devia fazer com que fosse estimado no Dragão, onde, em boa verdade, não lhe perdoam o facto de ter ativado a renovação do contrato, um contrato que é hoje considerado ruinoso para a SAD.

A comunicação social, a começar pela espanhola, ainda tentou encontrar uma justificação para a misteriosa “opção técnica” que retirou a titularidade a Iker, na esperança que Sérgio Conceição tivesse, enfim, uma posição semelhante à de Mourinho – joga outro porque os treinadores optam pelos que lhes dão melhores garantias.

Mas não. O técnico portista, irritado por ter sido colocada a possibilidade de a secundarização do espanhol se ter devido à pródiga utilização das redes sociais – Casillas é uma marca e tem de alimentá-la – veio a terreiro apresentar a mais aviltante razão para o afastamento de qualquer profissional: a falta de empenho nos treinos, uma afronta. Não seria mais nobre, e mais verdadeiro, dizer-lhe que o clube não pode pagar a um jogador tão caro e por isso que vá à sua vida? Se estava feliz no Porto, eis que o Porto se torna no pesadelo que Iker não merecia. Que feia coisa.

Dois temas para o último parágrafo. O primeiro para o adeus ao ténis, aos 37 anos, de Martina Hingis, após ter sido a desportista mais bem paga do Planeta na dobragem do milénio, ter estado 209 semanas como número 1 mundial e ter ganho 107 torneios como individual, e em pares e pares mistos, dos quais 18 do Grand Slam. Quando os sinos só dobram por Federer – que ontem alcançou o seu 95.º título, ah pois é! –, Nadal ou pelas manas Williams, é bom lembrar que há mais lendas no ténis. Quanto ao outro tema: Éder não tinha qualidade para jogar no Lille, entendeu Marcelo Bielsa. Ainda bem para o nosso homem do Euro, já que o clube do “exigente” treinador venceu um jogo em dez, marcou apenas 6-golos e é penúltimo na Ligue 1. Se lá tivesse ficado, a culpa seria do Éder…

Outra vez segunda-feira, Record, 30OUT17

Sérgio fez forte a “fraca gente”

25 Setembro, 2017 0

Alguns treinadores, de que Lopetegui foi o último exemplo entre nós, têm por hábito exigir aos clubes não só a inevitável contratação de um séquito de adjuntos de confiança, como a de jogadores sobre os quais colocam o selo de garantia. Depois, um dia, partem com os amigos e não levam os entronchos.

Compreendo o princípio: não se consegue liderar um projeto se houver demasiados inimigos atrás da porta e se não se puder constituir uma equipa que os identifique, controle e comece a correr com eles. E quando me refiro a inimigos estou a pensar nos mais perigosos, aqueles que sorriem, fingem seguir o líder e encravam a engrenagem a cada passo. No caso do futebol, esses “fingem que chutam” contam com a realidade financeira que os protege: não é possível renovar um plantel a cada treinador que chega.

Sublinho isto antes de me referir à situação do FC Porto, líder do campeonato com 3 pontos de avanço sobre o Sporting e de 5 sobre o Benfica, poucas semanas após as loas tecidas aos encarnados, tetracampeões e já quase penta, e aos leões, enfim seguros do “este ano é que é”. Continuando de pé as probabilidades de êxito dos emblemas lisboetas, o certo é que os portistas, quase sem se reforçarem, surgem já, de forma talvez inesperada, no lugar da frente.

Lembramo-nos bem da letra da canção da última época: Aboubakar e Diego Reyes despachados a grande velocidade, Marega considerado imprestável, Brahimi carimbado para venda, Herrera tratado como coxo, e até Casillas parecia meio flop – e caríssimo, como logo acrescentavam os avençados.

Foi esse cenário de guerra que recebeu Sérgio Conceição, um homem da casa cujo destino, passados os salamaleques iniciais, se julgava idêntico ao do “somos Porto”. Mas os tiros saíram pela culatra. É que ao invés de se pôr com acertos de contas que deixam marcas, de se desculpar com os defeitos que todos têm e sabendo que não existem no mercado, e ao alcance do FC Porto, melhores jogadores do que aqueles que encontrou, Sérgio optou pelo voto de confiança nas tropas e por fazer o trabalho: tentar retirar dos seus homens o que de positivo têm para dar. E estando a conseguir formar uma boa equipa, cuidado. Uma eventual vitória no domingo, em Alvalade, que deixaria o Sporting de novo a 5 pontos, poderia representar para os dragões um tónico que nenhum inêxito europeu travaria, e para os rivais um mergulho no escuro de consequências imprevisíveis.

O parágrafo final vai hoje para o Belenenses, que nas primeiras seis jornadas se julgava destinado a lutar para não descer de divisão e que baralhou as certezas dos críticos – em que me incluo – com a exibição na Feira e a clareza do resultado. Foi uma resposta concludente dos jogadores e também de Domingos Paciência, a quem nada se perdoa quando os azuis perdem e que merece agora um aceno de estímulo e simpatia. Por mim, já meti a viola no saco.

Outra vez segunda-feira, Record, 25SET17

Um sábio chamado Iker Casillas

19 Julho, 2017 0

Nunca percebi o que leva futebolistas profundamente identificados com um clube a procurarem outro – por norma em fase adiantada do seu percurso profissional e a troco de um punhado extra de dólares. Não me refiro a casos que têm mais a ver com uma bem sucedida gestão de carreira do que com fatores emocionais, como o de Figo, que conseguiu sair do Sporting para estar cinco anos no Barcelona, outros cinco no Real Madrid e mais quatro no Inter, ou de Ricardo Carvalho, que ganhou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões com o FC Porto, para vestir a seguir as camisolas do Chelsea, do Real Madrid e do Mónaco, atuando hoje ainda – aos 39 anos (!) e a um nível absolutamente inacreditável – nos chineses do Shanghai SIPG, de Hulk e Vilas-Boas. Esses são jogadores globais, cidadãos do Mundo.

Com isto, quero chegar a uma das boas notícias da semana finda: a da continuidade de Casillas no FC Porto. Após longas semanas de especulações, que deram o guarda-redes a caminho de destinos diversos, aconteceu o que eu sempre esperei: ele fica.

Para nomes com o estatuto e a mediatização de Iker, clubes interessados nunca faltam e cheques a acenar também não. Mas para um homem que já ganhou tudo e que permanecerá, até ao fim, umbilicalmente ligado ao Real Madrid e aos seus adeptos – que um dia de bom grado o acolherão de novo – o dinheiro deixou de ser o mais relevante. Forçado a abandonar o maior clube do Planeta, que cobra aos melhores servidores o mais pequeno deslize e onde a intriga tem o pé leve, Casillas não poderia ter feito escolha mais feliz para continuar a jogar do que Portugal, o Porto e o grande emblema da Invicta. Em dois anos, pese o facto de a equipa azul e branca ter atravessado fase de menor rendimento, Iker ganhou o carinho da plateia portista e juntou à admiração pela qualidade futebolística o respeito de todos. Podendo ficar também como referência futura do FC Porto, ia agora jogar para onde lhe dessem mais umas notas? Sábia decisão a sua.

Mas o acordo para a continuidade, apesar do inevitável esforço financeiro, é igualmente muito bom para o clube e para o novo treinador. Para o Dragão porque mantém a visibilidade acrescida que a vinda de Casillas lhe trouxe, e para Sérgio Conceição porque pode começar a construir a equipa de Maxi Pereira para a frente, sabendo que terá na baliza um dos grandes guarda-redes mundiais.

Termino com um exemplo do que me referi no início: Pepe vai jogar no Besiktas para ganhar mais uns milhões, ou talvez não, veremos no fim. Já o escrevi aqui: foi mau para o duplo campeão europeu não ter querido seguir no Real. Mas péssimo, mesmo, vai ser para os madridistas, que em breve – e demasiado tarde – verão a estupidez que cometeram.

Outra vez segunda-feira, Record, 10JUL17

FC Porto abana

18 Abril, 2017 0

Nuno Espírito Santo afirmou que o Sp. Braga na segunda parte não existiu. Mas existiu demasiado na primeira e se não fosse o poste a substituir Casillas no penálti – que resultaria no 2-0, ao intervalo – teríamos de volta o FC Porto em crise do início da época ou o seu fantasma, que nunca deixou de pairar por aí. Nuno acrescentou que o campeonato não acabou e que os 3 pontos de avanço do Benfica podem ser anulados com uma derrota do líder e – ele não o disse mas pensou – isso poderá acontecer já no sábado, em Alvalade.

Se a teoria está certa quanto à possível igualdade pontual, desde que os portistas vençam igualmente o Feirense, é menos tranquilizadora quanto à vantagem do FC Porto, que tem o melhor ataque e a melhor defesa da liga, e logo a maior diferença de golos. Porque a margem é pequena e pode vir a ser anulada pelo Benfica, que terá só dois desafios fora de casa, contra três do rival, nas últimas quatro partidas do campeonato. Mesmo que o Sporting ganhe o dérbi, não bastará ao FC Porto triunfar nos cinco jogos que lhe faltam, essa é que é a verdade.

E assim perde também a equipa a segurança, a disciplina e a frieza que a distinguiam nos bons velhos tempos e que Nuno parecia ter conseguido recuperar. Mas a provocação de Óliver ao árbitro após o penálti – que deveria ter-lhe valido o segundo amarelo e a expulsão (Hugo Miguel já lhe perdoara um primeiro amarelo pela mão na bola) – e as cenas da simulação de Soares e do vermelho a Brahimi, quase no final, mostram como tudo ainda abana.

Canto direto, Record, 17ABR17

Por onde andam os que gozavam com o “somos Porto”?

13 Fevereiro, 2017 0

Com o Benfica a fazer convergir sobre a sua equipa o foco das vénias generalizadas pelo maravilhoso futebol desenvolvido e o Sporting a representar o papel de bombo da festa de todas as desgraças, o FC Porto foi saindo entretanto do radar daquela crítica que só exerce o seu magistério com denodo quando lhe cheira a sangue – porque sabe que é disso que se alimentam as emoções e se produzem as audiências.

Por onde andam hoje os arautos das graves insuficiências portistas? Os que gozavam com o “somos Porto” de Nuno Espírito Santo e consideravam o técnico incapaz de devolver aos azuis e brancos as capacidades competitivas de outrora? Os que diziam e escreviam que os dragões – apesar de terem um banco recheado de estrelas como Brahimi, Herrera ou Layún – dispunham do pior plantel dos três candidatos ao título? Os que garantiam o fracasso de Felipe por causa de recorrentes falhas de posicionamento? Os que – e aqui está um, lamento – achavam Marcano um central horrível? E os que desprezavam Casillas por estar acabado? Por onde andam?

Andamos por aí, afanosamente à procura de outras intempéries que legitimem a nossa razão, sabendo que vivemos num país em que nem o que ficou escrito é recordado. Mas com a verdade se exorciza o erro. E ela manda reconhecer o excelente trabalho que Nuno Espírito Santo está a levar a cabo no FC Porto. Contra quase tudo e quase todos é ainda mais difícil. Chapeau!

Canto direto, Record, 13FEV17

O Palhinha que ficasse no Restelo, ora!

5 Fevereiro, 2017 0

Hoje podem ser de novo 10 pontos a separar o Sporting do líder, reforçando-se com isso a forte candidatura dos leões ao 3.º lugar, que dará ainda esta temporada acesso a uma pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Tanto mais que Sp. Braga e V. Guimarães se dedicam nesta fase mais à contemplação das planícies do que ao futebol.

Dois pormaiores. Como quase sempre, o clássico do Dragão decidiu-se nos pormenores, diria até nos pormaiores: um com 1 metro e 89 de altura e outro com 1 e 96. O primeiro chama-se Palhinha e a estreia num duelo de fogo correu-lhe mal, o que é muito bem feito: tivesse ficado no Restelo e não tinha destas chatices.

Soares é fixe. Com a obsessão pelo fora de jogo, Palhinha começou por deixar Soares sozinho frente à baliza para que o brasileiro, que é fixe, fizesse o 1-0, e ficou-se depois nas palhetas na jogada do segundo golo, perdendo no corpo a corpo com Brahimi. O argelino tem menos um palmo de altura e ainda há pouco tinha guia de marcha para nenhures porque não servia nem para mudar a areia ao gato.

A galope na pradaria. O segundo pormaior dá pelo nome de Coates, que na galopada de Soares pela pradaria, rumo ao 2-0, parecia persegui-lo a coxear, tal a diferença de velocidades. Sim, eu sei, não se pode ter perto de dois metros e dominar o jogo aéreo, e ser simultaneamente um galgo que voa sobre a relva, é verdade.

Fabuloso El Mago. O que poucos contariam é que Jesus, mantendo embora Palhinha em campo, conseguisse dar a volta à mortiça exibição da primeira metade – a aposta em Matheus Pereira foi outro falhanço – logrando-o em boa parte pela excelente exibição de D. Ruiz II. Menos artista que D. Ruiz I, El Mago é mais direto no seu jogo e tem um pé esquerdo fabuloso, que aplicou a matar, aliás, à entrada da área, para que os leões reentrassem na partida.

Asas abertas. E por muito positiva que tenha sido a atuação do FC Porto, o Sporting só não chegou ao 2-2 porque faltou a habitual assinatura do ponto de Bas Dost e sobrou a classe de Casillas, com duas defesas fenomenais que evitaram o empate. E aqui para nós, talvez também porque, aos 78 minutos, após Corona ter saltado de asas abertas, Hugo Miguel não achasse que a bola que lhe bateu no braço mudou de trajetória. Seria preciso coragem para entender coisa diferente? Ah, disso não temos.

Contracrónica, Record, 5FEV17

Nada mudará no FC Porto se…

6 Dezembro, 2016 0

Quando todos se preparavam para o quinto empate consecutivo sem marcar, um tal Rui Pedro, de 18 anos – vindo da equipa B e do banco de suplentes – fez o que tantos outros não lograram ao longo de oito horas e 40+5 minutos: meter a bola dentro da baliza adversária. Podíamos estar a falar do Mijanaescadense FC, mas não, trata-se mesmo do onze principal do glorioso FC Porto.

As coisas atingiram tal ponto que mal conseguiram o golo da primeira vitória em seis partidas, os jogadores, eufóricos, formaram um cacho, e a imagem do treinador, Nuno Espírito Santo, abraçado ao diretor-geral em lágrimas – como será se Luís Gonçalves tiver de despedir o técnico? – percorreu o país. Podia ser o caso de um triunfo num clássico ou num desafio que desse um título, mas não – era apenas a subida do FC Porto do quarto ao terceiro lugar do campeonato.

E nada mudará no reino do Dragão enquanto se puserem de parte jogadores nucleares que perderam a forma e que o treinador não é capaz de recuperar – como Herrera, Brahimi e até Layún – ou se mandarem embora valores seguros como Aboubakar ou Diego Reyes para se contratarem anedotas como Depoitre. Rentabilizar desportivamente o excelente plantel que o FC Porto tem – agora “reforçado” com um talento já 37 vezes internacional nos escalões jovens – é o que se exige de Nuno. Se não for ele o homem, outro será.

Nota final: não sejas Inácio? Duas vitórias do Moreirense em três dias é a resposta, ah, pois é!

Canto direto, Record, 5DEZ16

Rui Vitória: o quarto falhado faltou ao encontro

7 Novembro, 2016 0

A vida corre favorável a invejosos, frustrados e ressabiados. José Mourinho está a 8 pontos do líder na Premier, Cristiano Ronaldo soma desafios sem marcar na liga espanhola, e Jorge Jesus, agora a 5 pontos do Benfica, ainda não deixou a rampa de lançamento do falhanço da temporada passada e arrisca-se a voltar a não chegar ao título. Afinal, esses deficientes de caráter têm sempre razão: apostam na desgraça dos outros sabendo que a morte é certa e exultam logo que os bem- sucedidos da vida pareçam tão zeros à esquerda como eles.

Asnos. Ontem, no Dragão, as coisas correram-lhes de feição até aos 92 minutos, com Rui Vitória desanimado, junto à lateral, já com todas as substituições feitas e pronto a entrar para a lista dos falhados que citei, portugueses famosos, realizados e milionários – não pela qualidade do seu trabalho e pela sua inteligência, claro, mas por pura sorte, como garantem os asnos.

Banho. Não era só o 1-0 a favor dos da casa que os entusiasmava, era ainda o banho de bola que durante mais de uma hora – e o Benfica levou mesmo uma hora para fazer o seu primeiro remate à baliza – os dragões deram às águias. E fizeram-no graças a uma intensidade de jogo impressionante e a um domínio absoluto do meio-campo, que destruíram quase por completo a fase de construção dos encarnados. Foi o verdadeiro regresso do FC Porto ao grande futebol a que nos tinha desabituado.

Fugitivo. E como conseguiu Nuno Espírito Santo, também ele em fuga do painel dos odiados de estimação, esse milagre? Espalhando o talento de quatro executantes de eleição e explicando-lhes que até no futebol os melhores vencem mais vezes. Diogo Jota, Óliver, Otávio e Corona – com a ajuda de André Silva e de uma defesa tão coesa que não tem lugar para esse jogador extraordinário que é Miguel Layún – fizeram gato-sapato de um irreconhecível Benfica.

Getafe. Com o campeão de rastos e o seu treinador desiludido, esqueceram-se os portistas que faltavam os pregos no caixão da águia. E perderam oportunidades – muito por culpa dos centrais da Luz, em forma superlativa – até ficarem sem gás e o seu ritmo quebrar. Aí, surgiram as camisolas escarlates e o brio que vinha lá de dentro, as fraquezas feitas forças. E Lisandro – que um dia Jesus mandou para Getafe, lembram-se? – salvou então a honra da águia. Rui Vitória continua em alta e os inimigos do mérito afogados na raiva.

Contracrónica, Record, 7NOV16

O que devo a Antero Henrique

5 Setembro, 2016 0

Vinte e seis anos é meia vida, a meia vida que Antero Henrique dedicou ao FC Porto. Vítima da seca de títulos por que passa o Dragão, do desgaste provocado por um caminho carregado de espinhos e armadilhas, e – pelo que se sabe e se não sabe – do fogo amigo das divergências, das intrigas e das agendas próprias, terminou o ciclo de um dirigente que fica na história portista.

Devo a Antero Henrique, e deve-lhe o Record, o esforço na amenização possível dos efeitos colaterais de uma guerra que outros começaram. Com pragmatismo e boa vontade, pudemos muitas vezes convergir sem abdicarmos de pontos de vista diferentes e de interesses que, parecendo comuns, logo se tornavam opostos: de um lado, o compromisso permanente de informar os leitores, do outro, o incómodo sempre que as notícias eram publicadas numa altura considerada menos conveniente para o negócio.

Almocei com o ex-número dois da estrutura azul e branca, com o atual diretor de Record, António Magalhães, e com o chefe de redação Jorge Barbosa, em dezembro de 2011, antes de entregarmos a Hulk, no Estádio do Dragão, o Prémio Artur Agostinho, numa cerimónia em que esteve também Pinto da Costa, mas que não teria acontecido sem a intervenção de Antero Henrique.

Recordo ainda o telefonema que me fez, em 2013, por altura da minha saída da direção deste jornal, para me desejar boa sorte. Retribuo agora publicamente a atenção, deixando-lhe a certeza que os últimos três anos me permitiram descobrir: há mais vida para além do futebol.

Canto direto, Record, 5SET16