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Nota prévia – Escrevi esta crónica antes da eliminação do Benfica da Taça de Portugal, mas mantenho a opinião: Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa. Para mais agora, que a crise da equipa é..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa

12 Dezembro, 2017 0

Nota prévia – Escrevi esta crónica antes da eliminação do Benfica da Taça de Portugal, mas mantenho a opinião: Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa. Para mais agora, que a crise da equipa é indiscutível.

Regressaram as dúvidas dos primeiros difíceis tempos de Rui Vitória no Benfica, com muita gente a aproveitar a antena para vincar os zero pontos dos encarnados na Champions. Com isso, o que se pretende é voltar a questionar a capacidade do técnico que um dia Luís Filipe Vieira garantiu ter chegado à Luz para devolver ao benfiquismo o orgulho europeu. Foi, de facto, muito mau, embora uma equipa competitiva não se construa de uma semana para a outra após a saída de jogadores nucleares – viram, ontem, como Ederson impediu o United de alcançar o empate, com duas defesas, consecutivas e magistrais, a negar o golo a Lukaku e a Mata? Pois é, feito o balanço dos dias de glória e das noites de pesadelo, o saldo é positivo e Rui Vitória provou ter sabedoria, talento e resistência psicológica para treinar o Benfica, pelo que espero ver Vieira continuar a resistir aos guerrilheiros da má língua, permitindo o trabalho em profundidade que os furiosos do ganhar “tudo e já” travam, desde que a bola é redonda, para desgraça dos clubes ou das sociedades e dos seus resultados.

Li no Record que Jorge Jesus se referiu a uns “atrasados mensais” que não compreenderão as suas decisões, o que os tornará atrasados mais mentais do que mensais, pelo que não se terá tratado de um “lapsus linguae”. E li, igualmente, que José Eduardo Moniz afirmou ser-lhe “indiferente ouvir os outros a ladrar”. Não, não são os desqualificados das claques ou das redes sociais os maiores culpados, é de pessoas com percurso, assinatura e responsabilidades a mão que mais incendeia o futebol.

Se fosse Pinto da Costa a mandar, o VAR acabava. Por que será que não existe tema relacionado com a arbitragem em que não se entenda que os outros são sempre beneficiados e nós os eternamente prejudicados? O VAR é um avanço no combate pela verdade desportiva, mas porque depende de interpretação humana jamais fugirá à dúvida dos adeptos inteligentes e à desconfiança das massas acéfalas – e de quem as controla em proveito próprio. É a velha questão: os erros dos árbitros fazem parte do futebol e seria preciso saber viver com eles. Só que a mensagem da discórdia traz popularidade e incendiar as redes sociais dá outro eco à opinião publicada, e potencia as suas consequências – que, em boa verdade, deviam ser nenhumas, assim fossem fortes os organismos do futebol e não dependessem de terceiros os dirigentes.

O último parágrafo vai para Cristiano Ronaldo, menos pela quinta Bola de Ouro e mais pelo seu retorno aos golos: um na quarta-feira e mais dois no sábado. Porque estas secas de remates vitoriosos primeiro que se vão é uma chatice – basta ver como Suárez, Benzema e Griezmann se davam com os golos e as dificuldades que também atravessam. Mas como a temporada nem a meio chegou, muitos e grandes momentos nos esperam, penso de que.

Outra vez segunda-feira, Record, 11DEZ17

Benfica melhora e Felipe tem valor acrescentado

7 Novembro, 2017 0

O Benfica continua a melhorar na Liga, subindo de rendimento e mantendo-se como forte candidato ao título – afinal, o Sporting tem apenas mais um ponto. E isso acontece porque, para consumo interno, as saídas não compensadas de jogadores nucleares são disfarçadas pelos múltiplos recursos que sobraram e pela “engenharia futebolística” de Rui Vitória, que tudo aceita com generosidade e tudo resolve com voluntarismo. Mas a Champions é outra coisa e aí o desinvestimento não pode ser maquilhado: quatro jogos, quatro derrotas, um só golo marcado e até a Liga Europa está em risco. A moral da história é velha: não há milagres.

Recordo-me bem do que se escreveu e disse sobre Felipe, após as suas primeiras semanas no FC Porto. Da capacidade técnica modesta ao ataque à bola a destempo, passando pelo mau posicionamento em campo, sobraram críticas. Mas o tempo confirmou a qualidade do central brasileiro, este ano até com valor acrescentado: os árbitros ficam sem sopro nos apitos quando ele faz faltas na grande área. No sábado, no Dragão, cometeu duas para penálti, que o juiz não assinalou e que se tentou mesmo garantir que não tivessem existido. Mas honra para Jorge Faustino, que no Record de ontem não se encolheu e foi bem claro. E a verdade é que, a ter sido cumprida a lei, o Belenenses desfrutaria, cedo no desafio, de duas oportunidades para alterar o marcador a seu favor. E uma certeza: como das faltas resultariam dois cartões amarelos, o excelente Felipe teria sido expulso aos 24 minutos e eventualmente a sorte da partida seria outra. Ou não, concedo, que o FC Porto está a jogar horrores.

Parece incrível como ainda há tão pouco tempo Real Madrid e Barcelona dominavam o futebol europeu e como rapidamente perderam esse estatuto. Com o Manchester United a tardar em alcançar o nível que sempre se espera das equipas de José Mourinho, os grandes monstros da atualidade são o Manchester City, de Pep Guardiola, e o PSG, de Unai Emery, que somam goleadas umas atrás das outras. No caso dos ingleses, só algo de outro mundo os impedirá de ser campeões. Já no que respeita aos parisienses, existe o perigo do excesso de vedetas e de alguma falta de neurónios. Mas a fase final da Champions promete, talvez com a Juventus a fechar o sexteto galático.

No último parágrafo, o quarto tema de hoje: Lito Vidigal. Em boa hora regressado ao futebol português, o treinador apanhou logo pela frente Benfica e V. Guimarães, e perdeu. Sabiam os seus admiradores, e entre eles me incluo, que era uma questão de dias para que recuperasse fora o que perdera em casa. E assim aconteceu, o Aves foi ganhar a Setúbal e pode finalmente respirar. Lito é um exemplo daqueles treinadores que deixam marca por onde passam, sendo que por vezes são incompreendidos por gente burra, que percebe tanto de futebol como de viagens ao espaço.

Outra vez segunda-feira, Record, 6NOV17

Deu-se a Svilar o que se negou a Bruno Varela

24 Outubro, 2017 0

Os especialistas estão divididos. Os mais ligados ao futebol torcem o nariz à prematura aposta de Rui Vitória no guarda-redes Svilar, lançado aos 18 anos e 52 dias num jogo da Champions com um resultado desportivo desastroso – e a perda de 1 ponto que pode vir a fazer falta ao Benfica para aceder à Liga Europa. Ou seja, as consequências do falhanço do jovem talento estão ainda por apurar.

Os que se baseiam mais na psicologia defendem Svilar, e são, curiosamente, muitos dos que não mexeram uma palha para justificar Bruno Varela, cujo lapso foi menos chocante, já que se deu na sequência de um remate difícil de suster. Mais chocante foi, sim, a sentença: de titular passou a terceira opção para a baliza encarnada. Longe de mim pensar que esse ostracismo por parte de tantas boas almas tenha algo a ver com o facto de Varela ser português e menos ainda por o sol o ter queimado muito nas idas à praia. Não, nós por cá nunca temos dessas torpezas.

Os defensores da segunda oportunidade para o sérvio-belga falam da necessidade de que ele aprenda com os erros e da sua qualidade técnica – à boleia de José Mourinho, já que da matéria pouco entendem –, aplaudindo a decisão de Rui Vitória de o manter no onze inicial. Aliás, o treinador tem mostrado, nestes anos, dispor também de méritos como psicólogo e condutor de homens, e só lhe fica bem a confiança que renovou a Svilar. O que não lhe ficou nada bem, e é como seu admirador que o critico, foi não ter tido a mesma atitude com Bruno Varela, que como aqui admiti, antes do seu infortúnio, pode simplesmente estar perdido como guarda-redes de primeira linha. Ou tem uma cabeça dura, parecida com as de Carlos Lopes ou Cristiano Ronaldo, ou está arrumado.

Nos quase 15 anos que levo de escrita no Record, já por diversas vezes referi o caso de Rui Correia, que foi dono da baliza do Sporting, com 20 anos, no final da década de 80. Elogiado por todos como “o guarda-redes do futuro”, alinhou em pouco mais de uma dezena de jogos e – acabando por falhar, vítima da sua inexperiência – caiu em desgraça por não ter tido, na altura, um Rui Vitória para lhe pôr, como ao borracho, a mão por baixo. Ainda fez um percurso interessante no Sp. Braga e chegou ao FC Porto, mas nunca mais atingiu o nível dos primeiros desafios em Alvalade. E quanto a Svilar, veremos o que acontecerá ao dar-se o inevitável: o seu próximo erro penalizador.

O último parágrafo vai hoje para Rolando, o patinho feio dos centrais portugueses, que confirma no Marselha ter passado ao lado da grande carreira que merecia. Ontem, vimo-lo enfrentar com êxito a todo-poderosa linha avançada com que o PSG pensava ir ganhar os jogos todos. E só o génio de Cavani evitou, quase no final, a derrota parisiense no Vélodrome. Mas o empate também serve a Jardim, Moutinho e Rony, agora de novo mais perto do PSG no topo da classificação. Vá lá, agradeçam ao Rolando.

Outra vez segunda-feira, Record, 23OUT17

Nada de clássico, só dá Benfica

2 Outubro, 2017 0

Quem viu Ederson fazer de líbero em Stamford Bridge, compensando uma ou outra falha dos companheiros, melhor compreende aquilo que de certa maneira já sabíamos e que Basileia e Funchal confirmaram: no verão, o Benfica perdeu não um grande guarda-redes, mas dois. A última época, constituindo o tempo de afirmação do atual dono incontestado da baliza do City, foi igualmente a da despedida de Júlio César do elevado nível exibicional que o consagrou e o trouxe um dia para a Lisboa.

O golo de ontem do Marítimo está gravado na memória dos benfiquistas: centro a sobrevoar uma defesa de “espectadores” e remate de cabeça de Ricardo Valente, já na pequena área. Júlio César hesitou, não saiu de imediato debaixo dos postes – a trajetória da bola, a “fugir” do guarda-redes, tornava difícil uma interceção com êxito, mas é nesses lances que se faz a diferença – e ficou irremediavelmente batido. E se formos recapitular os golos sofridos pelo Benfica na Suíça, encontraremos também uma enervante lentidão do brasileiro a sair da baliza. O tempo não perdoa e a verdade é dura. Júlio César, com pesar o escrevo, deixou de ser guarda-redes para o Benfica.

Claro que os encarnados não têm apenas um problema na defesa e a oportunidade perdida para se reaproximar dos seus rivais vai exigir um esforço sério para ultrapassar o problema. Mas não é a crise do futebol da Luz que pode justificar o que se passou na assembleia-geral. E não valorizo sequer as agressões ou cadeiras pelo ar, que já nada me admira na triste noção de convivência e de civismo que distingue as franjas de excluídos e de energúmenos que um pouco por todo o lado – e usando diversos emblemas – nos envergonham. O que me surpreende é a falta de memória de alguns benfiquistas, que não só desvalorizam a gestão da era Vieira – hoje voltada igualmente, e bem, para a redução do passivo – como se esquecem de tudo o que a antecedeu e se permitem, assim, insultar o presidente. Nunca dependi de Luís Filipe Vieira – nem sequer na década em que dirigi este jornal – mas admiro cada vez mais o seu mérito na recuperação da grandeza do monstro adormecido e a infinita paciência com que atura a ingratidão e a estupidez.

O último parágrafo vai desta feita para o despedimento de Carlo Ancelotti do Bayern de Munique, uma situação que só não é normal na vida de um treinador porque Carletto foi empurrado por um quinteto de jogadores, entre os quais Ribéry e Robben, um com 34 anos e outro que para lá caminha, ambos longe do rendimento que justifique os 8 ou 9 milhões de euros que ganham por ano. Não entendo uma empresa que trabalha assim e espero que em breve a dupla de imprestáveis milionários receba a resposta. Ainda ontem, vimos como um ex-condenado esmagou nas urnas uma criatura que ele tinha inventado e que o abandonou. Como Roma, que não paga aos traidores, as pessoas não esquecem, nem perdoam.

Outra vez segunda-feira, Record, 2OUT17

Rui Vitória é de novo uma besta

18 Setembro, 2017 0

Longe de prever que viriam aí duas derrotas, referi aqui há uma semana o estranho modo como o Benfica resolveu, ou não resolveu, as lacunas criadas na baliza e no centro da defesa pela partida de Ederson e Lindelof. Hoje, o resultado da ligeireza com que se julgou ter esses problemas resolvidos está à vista de todos, incluindo à daqueles que enfrentam sempre as crises das suas equipas em estado de negação.

Não vou voltar uns anos atrás, aos tempos em que a intolerância generalizada garantia que Rui Vitória – porque é o treinador o eterno culpado das falhas próprias e das asneiras dos outros – não era técnico para o Benfica. Escrevi-o e não repetirei o erro, até porque se dissiparam entretanto as dúvidas sobre os méritos de Vitória, que depressa deixou de ser besta para passar a bestial, situação de que desfrutava ainda há 15 dias. Estou seguro de que ele será de novo capaz de ultrapassar a tempestade.

Como apontei na última crónica, Bruno Varela podia não estar ainda preparado para jogar a este nível – e a sua exibição no Bessa confirmou-o. Sobre as limitações físicas de Júlio César, que vai agora atuar na Taça da Liga, o passado recente fala por si e o futuro próximo depressa fará o mesmo. Isso quer dizer que se anuncia a estreia de Svilar, o talento belga de 18 anos que dificilmente terá condições para “pegar de estaca” na equipa principal. E aí teremos Rui Vitória enredado num problema grave, gravíssimo, insolúvel até janeiro e que faz regressar à Luz o pesadelo de Moretto. Como se compreende que uma estrutura tão profissional e com provas dadas tenha caído numa armadilha tão evidente? Mas a crise dos encarnados, se passa muito pela intranquilidade que emana da baliza, onde um guarda-redes com potencial é imolado, não é também alheia à má forma de Pizzi – e a boa não regressará por certo com Filipe Augusto ao lado.

Fecho esta dissertação sobre o momento benfiquista vestindo uma camisola que não é a minha para manifestar tristeza pela saída de Nuno Gomes, referência do futebol e do emblema da águia, a quem daqui saúdo com admiração. Em simultâneo, espero que não se confirme a entrada de um mercenário intriguista conhecido pela porcaria que espalhou em todos os clubes que lhe deram guarida.

O parágrafo final é hoje dirigido à decisão da Liga de marcar jogos para 1 de outubro, dia das eleições autárquicas. Discordo de quem defende que o Governo deve impedir por decreto a repetição da situação e sou contra a obrigatoriedade do voto. A ida às urnas é um ato de cidadania, pelo que ou aprofundamos essa cidadania ou a abstenção será cada vez maior. Mas lamento que na Liga não houvesse o bom senso de evitar que uma normal marcação de jogos, para mais num calendário apertado, surgisse como um gesto deliberado de prejudicar a base do regime democrático – que é o poder da escolha popular.

Outra vez segunda-feira, Record, 18SET17

Os 60 milhões do Benfica não ganham os jogos

28 Agosto, 2017 0

Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Dragão – e antes de ser despachado com mais três secos, agora em casa e pelo Tondela… – recorreu à teoria para justificar a derrota. Não que não seja um facto a enorme diferença de recursos financeiros entre os gigantes e os pequenotes, mas há que ter em conta que a proporção não é direta entre os investimentos efetuados e os rendimentos das respetivas equipas. Existe um pormenor importante que é o fator humano.

Desde logo porque os métodos de treino são hoje semelhantes e os “pobrezinhos” preparam-se com ferramentas técnicas idênticas às dos “ricos”. Depois, os jogadores que se sabem menos dotados utilizam os imponderáveis do futebol para, à custa de mais trabalho e de maior determinação, e naturalmente de alguma sorte – que não sopra sempre para o mesmo lado, como se sabe – conseguirem chegar, por vezes, ao nível dos predestinados.

Foi o que se passou no sábado, em Vila do Conde, onde a turma da casa, com uma dinâmica de jogo superior – e muitíssimo superior ao que se esperaria de um plantel de 6 milhões de euros – e com Tarantini e Pelé a construírem no meio campo uma parede de betão, fez a vida negra ao Benfica e aproveitou um azar de Lisandro para roubar os primeiros pontos aos encarnados – e perder os seus primeiros pontos, essa é que é essa.

Ao contrário do que poderia suceder pelo aumento do tal fosso, certo é que não se veem hoje no futebol português as cabazadas que o caracterizavam no passado, ou seja, a menor capacidade financeira dos emblemas mais modestos tem vindo a ser compensada com organização, trabalho, ambição e uma enorme dose de talento.

Terá de ser na área motivacional, em que já demonstrou mestria, que Rui Vitória deverá concentrar os seus esforços. Porque pese o valor do Rio Ave, e o mérito com que alcançou o empate, pareceu-me ter visto um Benfica uns furos abaixo do que pode e deve, um Benfica por momentos regressado ao tempo em que as camisolas ganhavam os jogos. E tanto tem Vitória combatido a sobranceria e a ilusão de que mais minuto menos minuto, mais penálti ou menos bola na trave, o triunfo é certo! Não é. E muito menos se ganharão desafios contemplando a grandeza dos 60 milhões de euros de investimento benfiquista em 2017/18, cantilena de machadês.

O parágrafo final é desta vez dedicado ao Real Madrid, que ontem – sem Sergio Ramos, castigado, e Varane, lesionado, o costume – começou a pagar pela partida de Pepe. Com Casemiro a central, a equipa “desconstruiu-se” e faltando Cristiano faltou o resto. É mais um exemplo de que os milhões não podem dispensar as cabecinhas pensadoras, muito difíceis de copiar.

Outra vez segunda-feira, Record, 28AGO17

Da defesa do Benfica ao banco do Sporting

8 Agosto, 2017 0

O Benfica conquistou merecidamente a Supertaça, depois de 30 minutos iniciais arrasadores e de um fecho brilhante da partida. Pelo meio, algumas aflições na defesa, com Jardel uns furos abaixo do que rendia e Bruno Varela a dar – nomeadamente no lance do golo vimaranense – sinais da sua inexperiência. Espero que este precoce lançamento às feras não estrague uma carreira tão prometedora. Como aqui antevi há pouco tempo, e não era difícil de adivinhar, Júlio César já ficou na enfermaria – pelo que não é solução fiável para a baliza – e Grimaldo não tardou também a meter baixa. Rui Vitória tem razão quando diz que a conversa é idêntica às de há um ano e há dois, mas o certo é que, exageros à parte, nunca antes o Benfica ficou sem três quintos da sua defesa. E nada existindo de mais esclarecedor que a realidade, essa viu-se em Aveiro: do meio campo para a frente a máquina continua mortal, mas atrás só mete medo a si própria.

Que estúpida ambição levou Neymar a deixar órfão o mais poderoso trio atacante da história do futebol? Ser finalmente o primeiro da equipa? Vestir a camisola número 10? Sair da sombra de Messi? Posso estar enganado, mas ao trocar o Barça por um emblema sem alma, ao abandonar uma liga trepidante por outra sem sal, e ao querer viver em Paris ao seu estilo excêntrico, saloio e excessivo, o craque brasileiro deu, desportivamente falando, um tiro no pé da sua carreira.

É minha convicção que qualquer profissão deve ser levada o mais a sério possível. Daí entender que durante um jogo é o treinador o único protagonista da área técnica. É ele quem fala, grita, protesta, arranca os cabelos ou dá pontapés nas garrafas da água. Aquele não é o espaço de afirmação do médico extrovertido ou do roupeiro brincalhão, nem palco para dirigentes, presidente incluído. Mas a verdade é que da personalidade de Bruno de Carvalho fazia parte a presença regular no banco de suplentes, onde jamais o vi sobrepor-se ao técnico ou de outra forma ultrapassar os limites das suas competências naquele lugar. Acho mal, por isso – mal para o Sporting, obviamente – que Bruno se tenha afastado de uma prática que era ao mesmo tempo um dos traços mais marcantes da sua forma de liderar. E não foi por acaso que Jorge Jesus já veio a público dizer que gostava de o ter no banco e que, por ele, nunca deixaria de lá estar. Bruno de Carvalho, se mudar de comportamentos, até pode vir a tornar-se num santo, mas não necessariamente num presidente melhor ou mais eficaz. Para o bem ou para o mal, somos o que somos.

Uma palavra final de saudação a um dos melhores colunistas de Record, Carlos Barbosa da Cruz, atacado por um pigmeu tão insignificante que se calhar o reputado advogado nem deu por isso. Mas eles andam lá por baixo, frustrados e a tentar espetar as lanças mais acima!

Outra vez segunda-feira, Record, 7AGO17

O pleno de 13 de maio

16 Maio, 2017 0

Quem aspira ganhar eleições acenando com o regresso do velho Portugal deprimido e temeroso do futuro, e prometendo as mesmas receitas do passado, vai ter de encontrar outra narrativa. Porque o país mudou. Pode viver na ilusão, mas está feliz.

Já tinha mudado, é certo, mas acordou ontem mergulhado na euforia. É que no sábado o Papa terminou uma visita triunfal e isenta de problemas a Fátima – que encheu de orgulho os católicos e fez respirar de alívio os não crentes – partindo para Roma horas antes de Salvador Sobral conseguir, no Festival da Eurovisão, uma vitória que a RTP perseguia desde os zero pontos da “Oração” de Calvário, em 1964.

Como se não bastassem esses dois êxitos num 13 de maio para a história, pelo meio entrou em ação o futebol, com o Benfica – o mais popular clube de Portugal, goste-se ou não do emblema e aceite-se ou não essa realidade – a conquistar o tetracampeonato, depois de uma primeira parte de luxo em que chegou cedo à goleada e deixou em delírio a Luz. Mais coisa menos coisa, metade do país sentiu-se nas nuvens – a outra metade já lá estava e à noite fez-se o pleno.

Agora, com o retorno à Terra e nada mais restando, questionar-se-á o óbvio: a justiça do sucesso encarnado. Sim, pode-se sempre recordar alguns erros dos árbitros e arranjar uns “ses”, mas a desolação de ontem nas bancadas do Dragão e a última pobre exibição do Sporting dão-nos a mais esclarecedora das respostas. A vida é o que é.

Canto direto, Record, 15MAI17

Sporting venceu o dérbi dos barbudos

24 Abril, 2017 0

Orgulho-me de ter feito parte da frente de jovens portugueses que antes de 25 de abril de 1974 deixaram crescer barbas e cabelos como forma de protesto contra a ditadura. A referência era Ernesto Che Guevara, Fidel Castro e o seu grupo de guerrilheiros cubanos, que ao descerem da Sierra Maestra até Havana, para derrubar Fulgêncio Batista, em 1959, fizeram com que os inimigos procurassem diminuir-lhes a proeza, classificando-a como a “revolução dos barbudos”.

O poster do Che. A imagem clássica de Guevara – que morrera nas selvas da Bolívia, em 1967 – aquela da boina com uma estrela de cinco pontas, era mesmo proibida em Portugal. Recordo de me terem apreendido, na alfândega do aeroporto de Lisboa, um poster do Che, que comprei em Londres, no início da década de 70. Mas aos zelosos funcionários escapou a t-shirt com estampa semelhante, que vesti por baixo da roupa e que conservei até hoje – hoje que deixei de lá caber e que já nada tenho de guevarista, pelo contrário. Mas é um símbolo que marcou a minha geração.

Cinco em 28. Voltei ontem a esses gloriosos tempos ao assistir ao dérbi e verificar que dos 28 jogadores utilizados apenas cinco (!) se apresentaram de rosto barbeado: quatro do Benfica – Luisão, Lindelof, Cervi e Jiménez – e um do Sporting – Podence.

1-1 em cheio. Os leões jogaram mais mas estão muito dependentes da finalização de Bas Dost, que Lindelof meteu no bolso, e o Benfica, jogando um pouco menos, chegou ao empate a uma bola – que antevi na edição de sexta-feira, no TotoRecord, ah, pois é!… – e continua a depender somente de si próprio para ser campeão.

Cartilha. Agora, dada a importância do visual da moda, que um estudo recente atribui não tanto à intenção masculina de impressionar as mulheres, antes à convicção de que as barbas fazem os homens “mais maduros, fortes e agressivos”, o desempate tem de ser feito a favor dos de Alvalade (13-10) – ainda que fossem de Mitroglou e Rafa os adornos mais vistosos. É que no onze titular o Sporting mostrou-se solidário e coerente, apenas com dois jogadores a não aderirem totalmente à cartilha barbuda: William, com o seu clássico bigode, e Gelson Martins, com uma “perazita” envergonhada. Já os treinadores Jesus e Vitória, e o árbitro Soares Dias se exibiram de cara lavada. Mas esses, coitados, são velhos, não entram nesta história.

Contracrónica, Record, 23ABR17

FC Porto abana

18 Abril, 2017 0

Nuno Espírito Santo afirmou que o Sp. Braga na segunda parte não existiu. Mas existiu demasiado na primeira e se não fosse o poste a substituir Casillas no penálti – que resultaria no 2-0, ao intervalo – teríamos de volta o FC Porto em crise do início da época ou o seu fantasma, que nunca deixou de pairar por aí. Nuno acrescentou que o campeonato não acabou e que os 3 pontos de avanço do Benfica podem ser anulados com uma derrota do líder e – ele não o disse mas pensou – isso poderá acontecer já no sábado, em Alvalade.

Se a teoria está certa quanto à possível igualdade pontual, desde que os portistas vençam igualmente o Feirense, é menos tranquilizadora quanto à vantagem do FC Porto, que tem o melhor ataque e a melhor defesa da liga, e logo a maior diferença de golos. Porque a margem é pequena e pode vir a ser anulada pelo Benfica, que terá só dois desafios fora de casa, contra três do rival, nas últimas quatro partidas do campeonato. Mesmo que o Sporting ganhe o dérbi, não bastará ao FC Porto triunfar nos cinco jogos que lhe faltam, essa é que é a verdade.

E assim perde também a equipa a segurança, a disciplina e a frieza que a distinguiam nos bons velhos tempos e que Nuno parecia ter conseguido recuperar. Mas a provocação de Óliver ao árbitro após o penálti – que deveria ter-lhe valido o segundo amarelo e a expulsão (Hugo Miguel já lhe perdoara um primeiro amarelo pela mão na bola) – e as cenas da simulação de Soares e do vermelho a Brahimi, quase no final, mostram como tudo ainda abana.

Canto direto, Record, 17ABR17