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Nota prévia – Escrevi esta crónica antes da eliminação do Benfica da Taça de Portugal, mas mantenho a opinião: Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa. Para mais agora, que a crise da equipa é..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa

12 Dezembro, 2017 0

Nota prévia – Escrevi esta crónica antes da eliminação do Benfica da Taça de Portugal, mas mantenho a opinião: Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa. Para mais agora, que a crise da equipa é indiscutível.

Regressaram as dúvidas dos primeiros difíceis tempos de Rui Vitória no Benfica, com muita gente a aproveitar a antena para vincar os zero pontos dos encarnados na Champions. Com isso, o que se pretende é voltar a questionar a capacidade do técnico que um dia Luís Filipe Vieira garantiu ter chegado à Luz para devolver ao benfiquismo o orgulho europeu. Foi, de facto, muito mau, embora uma equipa competitiva não se construa de uma semana para a outra após a saída de jogadores nucleares – viram, ontem, como Ederson impediu o United de alcançar o empate, com duas defesas, consecutivas e magistrais, a negar o golo a Lukaku e a Mata? Pois é, feito o balanço dos dias de glória e das noites de pesadelo, o saldo é positivo e Rui Vitória provou ter sabedoria, talento e resistência psicológica para treinar o Benfica, pelo que espero ver Vieira continuar a resistir aos guerrilheiros da má língua, permitindo o trabalho em profundidade que os furiosos do ganhar “tudo e já” travam, desde que a bola é redonda, para desgraça dos clubes ou das sociedades e dos seus resultados.

Li no Record que Jorge Jesus se referiu a uns “atrasados mensais” que não compreenderão as suas decisões, o que os tornará atrasados mais mentais do que mensais, pelo que não se terá tratado de um “lapsus linguae”. E li, igualmente, que José Eduardo Moniz afirmou ser-lhe “indiferente ouvir os outros a ladrar”. Não, não são os desqualificados das claques ou das redes sociais os maiores culpados, é de pessoas com percurso, assinatura e responsabilidades a mão que mais incendeia o futebol.

Se fosse Pinto da Costa a mandar, o VAR acabava. Por que será que não existe tema relacionado com a arbitragem em que não se entenda que os outros são sempre beneficiados e nós os eternamente prejudicados? O VAR é um avanço no combate pela verdade desportiva, mas porque depende de interpretação humana jamais fugirá à dúvida dos adeptos inteligentes e à desconfiança das massas acéfalas – e de quem as controla em proveito próprio. É a velha questão: os erros dos árbitros fazem parte do futebol e seria preciso saber viver com eles. Só que a mensagem da discórdia traz popularidade e incendiar as redes sociais dá outro eco à opinião publicada, e potencia as suas consequências – que, em boa verdade, deviam ser nenhumas, assim fossem fortes os organismos do futebol e não dependessem de terceiros os dirigentes.

O último parágrafo vai para Cristiano Ronaldo, menos pela quinta Bola de Ouro e mais pelo seu retorno aos golos: um na quarta-feira e mais dois no sábado. Porque estas secas de remates vitoriosos primeiro que se vão é uma chatice – basta ver como Suárez, Benzema e Griezmann se davam com os golos e as dificuldades que também atravessam. Mas como a temporada nem a meio chegou, muitos e grandes momentos nos esperam, penso de que.

Outra vez segunda-feira, Record, 11DEZ17

Nada de clássico, só dá Benfica

2 Outubro, 2017 0

Quem viu Ederson fazer de líbero em Stamford Bridge, compensando uma ou outra falha dos companheiros, melhor compreende aquilo que de certa maneira já sabíamos e que Basileia e Funchal confirmaram: no verão, o Benfica perdeu não um grande guarda-redes, mas dois. A última época, constituindo o tempo de afirmação do atual dono incontestado da baliza do City, foi igualmente a da despedida de Júlio César do elevado nível exibicional que o consagrou e o trouxe um dia para a Lisboa.

O golo de ontem do Marítimo está gravado na memória dos benfiquistas: centro a sobrevoar uma defesa de “espectadores” e remate de cabeça de Ricardo Valente, já na pequena área. Júlio César hesitou, não saiu de imediato debaixo dos postes – a trajetória da bola, a “fugir” do guarda-redes, tornava difícil uma interceção com êxito, mas é nesses lances que se faz a diferença – e ficou irremediavelmente batido. E se formos recapitular os golos sofridos pelo Benfica na Suíça, encontraremos também uma enervante lentidão do brasileiro a sair da baliza. O tempo não perdoa e a verdade é dura. Júlio César, com pesar o escrevo, deixou de ser guarda-redes para o Benfica.

Claro que os encarnados não têm apenas um problema na defesa e a oportunidade perdida para se reaproximar dos seus rivais vai exigir um esforço sério para ultrapassar o problema. Mas não é a crise do futebol da Luz que pode justificar o que se passou na assembleia-geral. E não valorizo sequer as agressões ou cadeiras pelo ar, que já nada me admira na triste noção de convivência e de civismo que distingue as franjas de excluídos e de energúmenos que um pouco por todo o lado – e usando diversos emblemas – nos envergonham. O que me surpreende é a falta de memória de alguns benfiquistas, que não só desvalorizam a gestão da era Vieira – hoje voltada igualmente, e bem, para a redução do passivo – como se esquecem de tudo o que a antecedeu e se permitem, assim, insultar o presidente. Nunca dependi de Luís Filipe Vieira – nem sequer na década em que dirigi este jornal – mas admiro cada vez mais o seu mérito na recuperação da grandeza do monstro adormecido e a infinita paciência com que atura a ingratidão e a estupidez.

O último parágrafo vai desta feita para o despedimento de Carlo Ancelotti do Bayern de Munique, uma situação que só não é normal na vida de um treinador porque Carletto foi empurrado por um quinteto de jogadores, entre os quais Ribéry e Robben, um com 34 anos e outro que para lá caminha, ambos longe do rendimento que justifique os 8 ou 9 milhões de euros que ganham por ano. Não entendo uma empresa que trabalha assim e espero que em breve a dupla de imprestáveis milionários receba a resposta. Ainda ontem, vimos como um ex-condenado esmagou nas urnas uma criatura que ele tinha inventado e que o abandonou. Como Roma, que não paga aos traidores, as pessoas não esquecem, nem perdoam.

Outra vez segunda-feira, Record, 2OUT17

Rui Vitória é de novo uma besta

18 Setembro, 2017 0

Longe de prever que viriam aí duas derrotas, referi aqui há uma semana o estranho modo como o Benfica resolveu, ou não resolveu, as lacunas criadas na baliza e no centro da defesa pela partida de Ederson e Lindelof. Hoje, o resultado da ligeireza com que se julgou ter esses problemas resolvidos está à vista de todos, incluindo à daqueles que enfrentam sempre as crises das suas equipas em estado de negação.

Não vou voltar uns anos atrás, aos tempos em que a intolerância generalizada garantia que Rui Vitória – porque é o treinador o eterno culpado das falhas próprias e das asneiras dos outros – não era técnico para o Benfica. Escrevi-o e não repetirei o erro, até porque se dissiparam entretanto as dúvidas sobre os méritos de Vitória, que depressa deixou de ser besta para passar a bestial, situação de que desfrutava ainda há 15 dias. Estou seguro de que ele será de novo capaz de ultrapassar a tempestade.

Como apontei na última crónica, Bruno Varela podia não estar ainda preparado para jogar a este nível – e a sua exibição no Bessa confirmou-o. Sobre as limitações físicas de Júlio César, que vai agora atuar na Taça da Liga, o passado recente fala por si e o futuro próximo depressa fará o mesmo. Isso quer dizer que se anuncia a estreia de Svilar, o talento belga de 18 anos que dificilmente terá condições para “pegar de estaca” na equipa principal. E aí teremos Rui Vitória enredado num problema grave, gravíssimo, insolúvel até janeiro e que faz regressar à Luz o pesadelo de Moretto. Como se compreende que uma estrutura tão profissional e com provas dadas tenha caído numa armadilha tão evidente? Mas a crise dos encarnados, se passa muito pela intranquilidade que emana da baliza, onde um guarda-redes com potencial é imolado, não é também alheia à má forma de Pizzi – e a boa não regressará por certo com Filipe Augusto ao lado.

Fecho esta dissertação sobre o momento benfiquista vestindo uma camisola que não é a minha para manifestar tristeza pela saída de Nuno Gomes, referência do futebol e do emblema da águia, a quem daqui saúdo com admiração. Em simultâneo, espero que não se confirme a entrada de um mercenário intriguista conhecido pela porcaria que espalhou em todos os clubes que lhe deram guarida.

O parágrafo final é hoje dirigido à decisão da Liga de marcar jogos para 1 de outubro, dia das eleições autárquicas. Discordo de quem defende que o Governo deve impedir por decreto a repetição da situação e sou contra a obrigatoriedade do voto. A ida às urnas é um ato de cidadania, pelo que ou aprofundamos essa cidadania ou a abstenção será cada vez maior. Mas lamento que na Liga não houvesse o bom senso de evitar que uma normal marcação de jogos, para mais num calendário apertado, surgisse como um gesto deliberado de prejudicar a base do regime democrático – que é o poder da escolha popular.

Outra vez segunda-feira, Record, 18SET17

Os 60 milhões do Benfica não ganham os jogos

28 Agosto, 2017 0

Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Dragão – e antes de ser despachado com mais três secos, agora em casa e pelo Tondela… – recorreu à teoria para justificar a derrota. Não que não seja um facto a enorme diferença de recursos financeiros entre os gigantes e os pequenotes, mas há que ter em conta que a proporção não é direta entre os investimentos efetuados e os rendimentos das respetivas equipas. Existe um pormenor importante que é o fator humano.

Desde logo porque os métodos de treino são hoje semelhantes e os “pobrezinhos” preparam-se com ferramentas técnicas idênticas às dos “ricos”. Depois, os jogadores que se sabem menos dotados utilizam os imponderáveis do futebol para, à custa de mais trabalho e de maior determinação, e naturalmente de alguma sorte – que não sopra sempre para o mesmo lado, como se sabe – conseguirem chegar, por vezes, ao nível dos predestinados.

Foi o que se passou no sábado, em Vila do Conde, onde a turma da casa, com uma dinâmica de jogo superior – e muitíssimo superior ao que se esperaria de um plantel de 6 milhões de euros – e com Tarantini e Pelé a construírem no meio campo uma parede de betão, fez a vida negra ao Benfica e aproveitou um azar de Lisandro para roubar os primeiros pontos aos encarnados – e perder os seus primeiros pontos, essa é que é essa.

Ao contrário do que poderia suceder pelo aumento do tal fosso, certo é que não se veem hoje no futebol português as cabazadas que o caracterizavam no passado, ou seja, a menor capacidade financeira dos emblemas mais modestos tem vindo a ser compensada com organização, trabalho, ambição e uma enorme dose de talento.

Terá de ser na área motivacional, em que já demonstrou mestria, que Rui Vitória deverá concentrar os seus esforços. Porque pese o valor do Rio Ave, e o mérito com que alcançou o empate, pareceu-me ter visto um Benfica uns furos abaixo do que pode e deve, um Benfica por momentos regressado ao tempo em que as camisolas ganhavam os jogos. E tanto tem Vitória combatido a sobranceria e a ilusão de que mais minuto menos minuto, mais penálti ou menos bola na trave, o triunfo é certo! Não é. E muito menos se ganharão desafios contemplando a grandeza dos 60 milhões de euros de investimento benfiquista em 2017/18, cantilena de machadês.

O parágrafo final é desta vez dedicado ao Real Madrid, que ontem – sem Sergio Ramos, castigado, e Varane, lesionado, o costume – começou a pagar pela partida de Pepe. Com Casemiro a central, a equipa “desconstruiu-se” e faltando Cristiano faltou o resto. É mais um exemplo de que os milhões não podem dispensar as cabecinhas pensadoras, muito difíceis de copiar.

Outra vez segunda-feira, Record, 28AGO17

Agora é Rui Vitória a ver como elas mordem

31 Janeiro, 2017 0

É dos livros: com os treinadores, há sempre o dia em que o tempo chega. E chegou agora para Rui Vitória, com duas inesperadas derrotas que afastaram o Benfica da final da Taça da Liga e reduziram a 1 ponto o avanço sobre o FC Porto num campeonato que parecia ir direitinho ao tetra.

Enquanto Jorge Jesus se lamentava de uma evidência, as faltas de João Mário e Slimani – Bas Dost está ao nível do marroquino na concretização mas é menos móvel e não trabalha tanto em campo – e do menor rendimento de Adrien e William Carvalho, a Rui Vitória a vida sorria…

Texto integral em www.alexandrepais.pt

Rui Vitória: um homem sábio

17 Janeiro, 2017 0

Meses atrás, dediquei aqui uma crónica ao excesso de entusiasmo dos sportinguistas, que rapidamente se transformou em simples esperança e deu depois naquilo que vemos hoje: uma desilusão profunda. Porque os desafios não se ganham com o prestígio das camisolas, mas antes com realismo, tranquilidade, engenho e trabalho – e ganham-se, especialmente, com os jogadores.

É a essa postura que Rui Vitória tem sido fiel, tanto nos momentos em que as coisas não correm bem, como, em particular, quando as vitórias se sucedem, a plateia fica eufórica – e na euforia os fãs do emblema da Luz são imbatíveis – e a equipa se contempla, baixando a guarda.

Em vez de se agarrar, como um náufrago à tábua, aos incríveis erros de arbitragem da partida com o Boavista – lá se vai a tese da conspiração vermelha –, o treinador dos encarnados reconheceu que o seu onze entrou mal no jogo, lembrou que a equipa não é invencível, salientou a “reação fantástica” que possibilitou a recuperação do 0-3 e recusou culpar o árbitro pelo empate – que podia até ter dado em derrota se, na parte em que a força já faltava, Ederson não estivesse ao seu melhor nível.

Rui Vitória também não disse uns palavrões na cara de Luís Ferreira, nem participou num “show off” que lhe permitisse salvar a face. Ele sabe que o foco deve estar nos jogadores e que a euforia tonta é inimiga dos objetivos. E esse é o caminho – com jogos florais não se conquistam títulos.

Canto direto, Record, 16JAN17

E Rui Vitória não foi comido de cebolada

12 Dezembro, 2016 0

Fui leitor e telespectador atento das dezenas de previsões que ao longo da semana se fizeram sobre o dérbi e antes do jogo tinha uma certeza: Rui Vitória estava tramado. Tudo indicava, acreditando nas teses dos cientistas, que lhe ia acontecer aquilo que mais teme na vida – ser comido de cebolada. Aliás, o treinador do Benfica vai ter ainda muito que sofrer até lhe reconhecerem os méritos sem més nem meios més, pois mal o apanharam com duas derrotas consecutivas logo o crivaram de balas.

Desastre. O principal problema que teria de resolver residia nos centrais: Luisão porque estaria velho e Lindelof porque já não era o mesmo que os grandes da Europa disputavam. Os conselhos a Rui Vitória iam da imediata titularidade de Jardel para atuar ao lado do sueco, até à possibilidade de o brasileiro fazer dupla com Lisandro. Até eu, que quanto mais futebol vejo menos o entendo, sabia que tivessem jogado ontem Jardel e Lisandro, sem ritmo e sem rotinas, e seria o desastre.

Derrota. Outra questão que mudaria o nome de Vitória para Rui Derrota era o banho de bola que Gelson Martins iria dar a André Almeida, caso o técnico escalasse para o onze um homem que não é lateral-direito quanto mais esquerdo. E havia também reservas quanto a Salvio e Gonçalo Guedes, que estariam fora de forma, e a Pizzi e Fejsa, que não poderiam opor-se com êxito à classe do meio-campo leonino – e que bem jogaram, de facto, Adrien e William Carvalho!

Ederson. Como tantas vezes sucede, a realidade encarregou-se de desmentir a ciência futebolística. Rui Vitória manteve a defesa caída em desgraça e saiu-se bem. Não me lembro de um lance de um contra um que Gelson tenha ganho a Almeida, e Luisão e Lindelof safaram-se porque quando não se sabia deles – como no lance em que Bas Dost reduziu a diferença – e William e o holandês chutavam para o golo no coração da área, Ederson resolvia os apertos com defesas monumentais. Quanto a Gonçalo Guedes, a velocidade da transição e a perfeita abertura in-extremis, para Rafa centrar para o 1-0, foram esclarecedoras da sua baixa de forma, tal como a de Salvio, que abriu o marcador, com superior qualidade de execução, após bater ao sprint um dos piores laterais da Europa e arredores.

Amigos. Claro que Rui Vitória teve bons amigos para não ser comido de cebolada. Primeiro, Jorge de Sousa, que viu a bola bater nas mãos de Pizzi e Nélson Semedo e achou que não havia justificação para a marcação de penáltis. Depois, o poste, que substituiu Ederson e evitou o golo do empate, imediatamente antes do 2-0, mudando desse modo a sorte do jogo. E finalmente os centrais do Sporting, que se desposicionaram na jogada do segundo golo, deixando que na sua zona de ação ficasse o baixinho a disputar a bola de cabeça a Jiménez.

Estrela. Assim se conclui que o Sporting não merecia ter perdido e que tem motivos de queixa do árbitro? Sem dúvida, mas o importante no futebol não é ter razão, é encontrar, na escuridão do céu, a estrela da felicidade.

Contracrónica, Record, 12DEZ16

Rui Vitória: o quarto falhado faltou ao encontro

7 Novembro, 2016 0

A vida corre favorável a invejosos, frustrados e ressabiados. José Mourinho está a 8 pontos do líder na Premier, Cristiano Ronaldo soma desafios sem marcar na liga espanhola, e Jorge Jesus, agora a 5 pontos do Benfica, ainda não deixou a rampa de lançamento do falhanço da temporada passada e arrisca-se a voltar a não chegar ao título. Afinal, esses deficientes de caráter têm sempre razão: apostam na desgraça dos outros sabendo que a morte é certa e exultam logo que os bem- sucedidos da vida pareçam tão zeros à esquerda como eles.

Asnos. Ontem, no Dragão, as coisas correram-lhes de feição até aos 92 minutos, com Rui Vitória desanimado, junto à lateral, já com todas as substituições feitas e pronto a entrar para a lista dos falhados que citei, portugueses famosos, realizados e milionários – não pela qualidade do seu trabalho e pela sua inteligência, claro, mas por pura sorte, como garantem os asnos.

Banho. Não era só o 1-0 a favor dos da casa que os entusiasmava, era ainda o banho de bola que durante mais de uma hora – e o Benfica levou mesmo uma hora para fazer o seu primeiro remate à baliza – os dragões deram às águias. E fizeram-no graças a uma intensidade de jogo impressionante e a um domínio absoluto do meio-campo, que destruíram quase por completo a fase de construção dos encarnados. Foi o verdadeiro regresso do FC Porto ao grande futebol a que nos tinha desabituado.

Fugitivo. E como conseguiu Nuno Espírito Santo, também ele em fuga do painel dos odiados de estimação, esse milagre? Espalhando o talento de quatro executantes de eleição e explicando-lhes que até no futebol os melhores vencem mais vezes. Diogo Jota, Óliver, Otávio e Corona – com a ajuda de André Silva e de uma defesa tão coesa que não tem lugar para esse jogador extraordinário que é Miguel Layún – fizeram gato-sapato de um irreconhecível Benfica.

Getafe. Com o campeão de rastos e o seu treinador desiludido, esqueceram-se os portistas que faltavam os pregos no caixão da águia. E perderam oportunidades – muito por culpa dos centrais da Luz, em forma superlativa – até ficarem sem gás e o seu ritmo quebrar. Aí, surgiram as camisolas escarlates e o brio que vinha lá de dentro, as fraquezas feitas forças. E Lisandro – que um dia Jesus mandou para Getafe, lembram-se? – salvou então a honra da águia. Rui Vitória continua em alta e os inimigos do mérito afogados na raiva.

Contracrónica, Record, 7NOV16

Da Luz a Alvalade: da justiça ao regresso ao mapa

16 Maio, 2016 0

Com mais dois pontos que o Sporting na hora de fazer as contas – o que significa que foi mais regular ao longo do campeonato – só podemos concluir que o Benfica é campeão nacional com toda a justiça. Pessoalmente, como é sabido, tanto se me dava, embora deva reconhecer que sinto alguma alegria por esta conquista encarnada, tendo em consideração um único ângulo de abordagem: o que respeita ao sofrimento de Rui Vitória.

Quando o Benfica estava a 7 pontos do Sporting e com a liga julgada perdida – não pelo treinador, mas por nós – ele teve de ler e ouvir tudo o que passou pelas iluminadas cabeças dos comentadores. Eu, por exemplo, escrevi que ele tinha uma aura de “loser”. Era mentira, como se viu.

Depois, há uma qualidade que aprecio em Vitória: a sua simplicidade. Se a evolução como técnico está à vista de todos, de igual modo é patente que mantém a velha bonomia, agora que era fácil encher o peito de vento e abusar de postas de pescada. E num “circo” futebolístico carregado de pavões!

Parte do êxito benfiquista, há que sublinhá-lo, resultou do toque a reunir provocado pelo equívoco da comunicação do Sporting, pese os momentos em que teve motivos e razão. Mas os erros servem para que sejamos mais fortes no futuro e a realidade leonina deve ser vista tanto à luz da recuperação financeira como do regresso do emblema de Alvalade ao mapa dos grandes duelos futebolísticos, à dimensão do seu jogo, ao reequilíbrio do plantel – nesta altura, para mim o melhor – e à identificação entre presidente e treinador. Falhou agora o Sporting? Não é o fim: os perdedores de hoje são os vencedores de amanhã.

Canto direto, Record, 16MAI16

O Hino, Benzema e Rui Vitória, o resistente

18 Abril, 2016 0

Na edição de sábado, o provedor dos sócios do Belenenses, “roubou-me” o tema para esta crónica: a ideia, totalmente absurda, da SAD dos azuis, de querer tocar o Hino Nacional antes dos jogos no Restelo. E o brilho do texto de Rodrigo Saraiva faz com que nada do que eu pudesse aqui escrever acrescentasse algo de útil às razões que expôs.

Pensei refletir então sobre o afastamento de Benzema do Europeu, uma decisão da federação francesa, “ratificada” num inquérito à opinião pública: quatro em cada cinco inquiridos aprovam que o avançado não vá à seleção. Mas também não me vou alongar, já que a inevitável comparação seria com o futebol português, e sabemos bem que se tudo se passasse entre nós não haveria coragem para punir um jogador ainda sob o manto da presunção de inocência, uma vez que o seu caso – relacionado com uma alegada chantagem ao colega Valbuena – aguarda  julgamento. Acontece que existem escutas, que por cá são quase sempre ilegais mas que em França contam.

Com tanta conversa fico sem espaço para o tema escolhido: o da inacreditável resistência do treinador Rui Vitória. Esse mesmo que se acusava de ter discurso redundante e aura de perdedor. Esse mesmo a quem tocou o azar de substituir um técnico carismático e campeão, com a sina suplementar da obrigação em apostar em jogadores saídos das fornadas da casa. Esse mesmo que quase todos achávamos que não iria conseguir, que estava perdido. Esse mesmo que depois de Talisca ter feito, há dias, o empate na Luz, aguentou com fair-play, e abanando como se a Terra tremesse, festas sem fim na cabeça e mil palmadas nas costas. Resistiu a tudo e tudo merece, a começar pelo respeito.

Canto direto, Record, 18ABR16