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Agora que Lance Armstrong assumiu a responsabilidade por aquela que é, provavelmente, a mais gigantesca fraude do desporto mundial, e que provocou, isso com toda a certeza, uma deceção que deixou m..." /> Crónicas da Sábado: o que provoca as aftas? - Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

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Crónicas da Sábado: o que provoca as aftas?

27 Janeiro, 2013 895 visualizações

Agora que Lance Armstrong assumiu a responsabilidade por aquela que é, provavelmente, a mais gigantesca fraude do desporto mundial, e que provocou, isso com toda a certeza, uma deceção que deixou milhões de adeptos do ciclismo em estado de choque, recordo um episódio que não passa hoje de uma história para crianças. Havia, anos atrás, na Volta a Portugal, um corredor, português e hipocondríaco, que se queixava de dores disto e daquilo ao longo das etapas, e que só se calava após lhe darem uma aspirina. Então, os responsáveis da sua equipa, para evitar os efeitos negativos do ácido acetilsalicílico – na altura, não se usava ainda o medicamento para dificultar a coagulação do sangue – arranjaram uns comprimidos de farinha, totalmente inócuos, que davam ao paciente mal ele pedia. E a verdade é que o homem, engolida a pastilha que funcionava como doping, desatava a pedalar, a pedalar, e conseguia ser, mesmo, um dos melhores do pelotão.

Nunca sofri dessa paranóia, pelo que só recorro a drogas em caso de absoluta necessidade e com prescrição clínica, embora só confie em alguns médicos e torça quase sempre o nariz quando não sei a qualidade do artista que me manda para a farmácia. Não há muitos anos que uma das minhas filhas apanhou uma pneumonia por causa de um aventureiro, que chamámos  a casa duas vezes e que insistiu em receitar-lhe remédios para uma vulgar constipação.

Até de supostos especialistas devemos duvidar, pois aí o caso pode revestir-se ainda de maior gravidade. Uma amiga, que sofria de uma banal irritação cutânea nas costas, consultou um dermatologista que lhe impingiu duas pomadas. Uma semana depois, com a duplicação da área afetada e o aumento da intensidade da comichão, resolveu ir a outro médico. E ouviu-o, estupefacta, dizer-lhe mais ou menos isto: “Quem é que lhe receitou essas porcarias? É que elas estão a funcionar como uma espécie de adubo que alimenta os bichinhos e agrava o problema em vez de o resolver…”

Longe vai o tempo em que se confiava nos médicos, como nos juízes – nos jornalistas nem é bom falar – que eram normalmente pessoas experientes e ponderadas, consistentes e profissionais. Hoje, vivemos uma época em que recomenda a prudência que se espere tudo, pois tanto nos pode aparecer um craque como calhar-nos um incompetente que nos arrastará para o desastre.

Depois, claro, há que contar com os interesses dos laboratórios, essas multinacionais que dominam a área. Como me perguntava um médico amigo: “Já reparaste que se curam as doenças mais graves e não se conhece sequer o que provoca as simples aftas?” Perguntava e sabia a resposta.

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 24 janeiro 2013. Tema de Sociedade da semana: medicamentos…