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1. Há muitos anos que não me recordava de um inverno tão chuvoso, tanto na água que caiu do céu como no martirizado espírito dos portugueses. Talvez a primavera, o sol que reapareceu e a temperatur..." /> — ler mais..

1. Há muitos anos que não me recordava de um inverno tão chuvoso, tanto na água que caiu do céu como no martirizado espírito dos portugueses. Talvez a primavera, o sol que reapareceu e a temperatur..." /> Chegou a primavera - Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

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Chegou a primavera

21 Março, 2014 973 visualizações

1. Há muitos anos que não me recordava de um inverno tão chuvoso, tanto na água que caiu do céu como no martirizado espírito dos portugueses. Talvez a primavera, o sol que reapareceu e a temperatura que começou a subir possam fazer alguma coisa por nós. Precisamos de ânimo, acima de tudo, e a capa plantável desta edição da SÁBADO, além de original, aponta-nos um caminho: o do regresso à terra. E quem sabe, no meio das incertezas que nos rodeiam, se o nosso futuro não passará por aí.

2. O Negócios dava conta, esta semana, de que os reformados se sentem perdidos no labirinto dos cortes, desde a sucessão de roubos às pensões à mudança de regras nas taxas, passando pelos atrasos e pelas salvaguardas retroativas. Nada que nos espante, já que a Segurança Social não se dá ao dever de, ao menos uma vez por ano, entregar aos pensionistas um extrato em que conste o ilíquido a que têm, ou teriam, direito e os vários descontos que lhe são aplicados. Limita-se a depositar nas contas bancárias as verbas resultantes da sua contabilidade secreta, sem dar qualquer satisfação – sendo satisfação, neste caso, um termo totalmente inapropriado. Toma lá qualquer coisa e cala-te, eis o lema da pessoa de mal em que se transformou o Estado.

3. Realizou-se agora o Festival da Canção, um evento que há 40 anos parava o país de parolos que fomos. Apercebi-me da sua irrelevância logo em 1974, quando cheguei a Brighton, Inglaterra, para acompanhar o concurso internacional e verifiquei que, na rua, ninguém sabia da existência da coisa. Parece que ganhou uma canção de Emanuel, o que deixou muito irritados os defensores da lusa qualidade musical. Só nos faltava mais esta grande maçada.

4. O Sporting compreendeu, enfim, que no futebol português é preciso falar grosso para que o sistema abane. E após ter sido prejudicado por diversas arbitragens, acabou por vencer o FC Porto com um golo precedido de ilegalidade. Bem andou o treinador Leonardo Jardim ao reconhecer, no final do clássico, que “isto é como a vida, uma vez acontece aos outros e outras a nós”, ou seja, sublinhou assim o absurdo protagonizado pela sua direção, que pretendia processar judicialmente os árbitros. Depois disso e do erro do auxiliar de Pedro Proença, que levou à vitória sobre os dragões, Bruno de Carvalho vai ter de recentrar a litigância e descobrir novos focos de tensão. Será fácil.

5. A violência das reações ao chamado manifesto dos 70 – que são, afinal, 74 mais Pacheco Pereira – revelam bem o estado de intolerância a que chegou a sociedade portuguesa. Como se não fosse lícito, e mesmo saudável, contrariar a verdade oficial, apontar diferentes caminhos ou simplesmente ter outra opinião. A assinatura num papel volta a ser antipatriótica – como dantes.

6. Já tive filhos, plantei árvores e estou, julgo, a escrever um livro. Para responder ao original desafio da SÁBADO e plantar uma ideia sou forçado a recorrer ao meu lado menos positivo e reconhecer que quando um ex-autarca e ex-cooperativista algarvio empresta 3,2 milhões de euros, que reclama agora, a um clube de futebol liderado por um construtor civil, a criatividade em Portugal bateu no teto. Morrer estúpidos e pobres é o que nos resta. 

Observador, Sábado, 20MAR14