Fizeram de País sem mandato
Carlos Daniel esforçou-se na incomodidade, ensanduichado entre o pior de dois mundos domésticos: uma opinião pública indignada com as sucessivas doses de austeridade e um primeiro-ministro determinado em suster o défice à custa do empobrecimento dos portugueses. Não era fácil o trabalho e, se tivermos de encontrar as questões mais duras para o “chefe”, elas terão saído da sua boca.
O problema não foi esse, mas outros. O primeiro, o próprio conceito de “O País pergunta”, com a chancela da RTP – que em nome do “serviço público” inventou um programa à medida das necessidades do Governo. Em perda contínua de popularidade, Passos Coelho pôde assim “prestar contas” sem a chatice do contraditório. O que quis dizer, certo ou errado, dito ficou.
Mais lamentável me pareceu a escolha dos inquiridores, gente simpaticamente zangada que levantou perguntas de acordo com a ordem e os costumes quando sopram na rua ventos de fúria. Selecionados por agências, que servem o cliente, fizeram de “País”. Sem mandato e sem pudor. Mais um triste sinal dos tempos.
Antena paranoica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 12 outubro 2013
