Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa
Nota prévia – Escrevi esta crónica antes da eliminação do Benfica da Taça de Portugal, mas mantenho a opinião: Rui Vitória tem tudo o que o Benfica precisa. Para mais agora, que a crise da equipa é indiscutível.
Regressaram as dúvidas dos primeiros difíceis tempos de Rui Vitória no Benfica, com muita gente a aproveitar a antena para vincar os zero pontos dos encarnados na Champions. Com isso, o que se pretende é voltar a questionar a capacidade do técnico que um dia Luís Filipe Vieira garantiu ter chegado à Luz para devolver ao benfiquismo o orgulho europeu. Foi, de facto, muito mau, embora uma equipa competitiva não se construa de uma semana para a outra após a saída de jogadores nucleares – viram, ontem, como Ederson impediu o United de alcançar o empate, com duas defesas, consecutivas e magistrais, a negar o golo a Lukaku e a Mata? Pois é, feito o balanço dos dias de glória e das noites de pesadelo, o saldo é positivo e Rui Vitória provou ter sabedoria, talento e resistência psicológica para treinar o Benfica, pelo que espero ver Vieira continuar a resistir aos guerrilheiros da má língua, permitindo o trabalho em profundidade que os furiosos do ganhar “tudo e já” travam, desde que a bola é redonda, para desgraça dos clubes ou das sociedades e dos seus resultados.
Li no Record que Jorge Jesus se referiu a uns “atrasados mensais” que não compreenderão as suas decisões, o que os tornará atrasados mais mentais do que mensais, pelo que não se terá tratado de um “lapsus linguae”. E li, igualmente, que José Eduardo Moniz afirmou ser-lhe “indiferente ouvir os outros a ladrar”. Não, não são os desqualificados das claques ou das redes sociais os maiores culpados, é de pessoas com percurso, assinatura e responsabilidades a mão que mais incendeia o futebol.
Se fosse Pinto da Costa a mandar, o VAR acabava. Por que será que não existe tema relacionado com a arbitragem em que não se entenda que os outros são sempre beneficiados e nós os eternamente prejudicados? O VAR é um avanço no combate pela verdade desportiva, mas porque depende de interpretação humana jamais fugirá à dúvida dos adeptos inteligentes e à desconfiança das massas acéfalas – e de quem as controla em proveito próprio. É a velha questão: os erros dos árbitros fazem parte do futebol e seria preciso saber viver com eles. Só que a mensagem da discórdia traz popularidade e incendiar as redes sociais dá outro eco à opinião publicada, e potencia as suas consequências – que, em boa verdade, deviam ser nenhumas, assim fossem fortes os organismos do futebol e não dependessem de terceiros os dirigentes.
O último parágrafo vai para Cristiano Ronaldo, menos pela quinta Bola de Ouro e mais pelo seu retorno aos golos: um na quarta-feira e mais dois no sábado. Porque estas secas de remates vitoriosos primeiro que se vão é uma chatice – basta ver como Suárez, Benzema e Griezmann se davam com os golos e as dificuldades que também atravessam. Mas como a temporada nem a meio chegou, muitos e grandes momentos nos esperam, penso de que.
Outra vez segunda-feira, Record, 11DEZ17