Em defesa de Abel Camará
Agora não vou a tempo, já paguei as quotas do ano todo. Mas para janeiro fica prometido: se o “divórcio” entre a direção do Belenenses e a SAD se mantiver, esqueço-me que sou sócio há 60 anos e “desarrisco-me”. Porque é essa situação de animosidade recíproca, essa aberração nascida de incompetências acumuladas ao longo de décadas que criou o ambiente inquinado que permite a meia-dúzia de energúmenos insultarem, e tentarem até agredir o capitão da equipa, Abel Camará, e a sua mulher (!) – uma ação miserável, bem ao nível dos fanáticos de outros emblemas que já andam por aí a matar-se.
Falamos de cobardes que se transformam em valentões quando atuam em bando. Gostaria de ver qualquer deles, sozinho e de mãos nuas, a ameaçar Camará…
E que fez de mal o jogador? Falhou um passe, provocou um penálti? Sim, mas foi o coletivo, a equipa mal dirigida que perdeu o jogo, não Camará, que é quem mais corre, mais luta, mais trabalha e mais sente a camisola – é um exemplo. Tivesse o Belenenses 11 como ele… Sim, sinto um imenso orgulho em ser adepto de um clube que tem como capitão da sua equipa um homem e um profissional com a qualidade de Abel Camará.
Opinião azul, Record, 3MAI17
Entretanto, um amigo e consócio fez-me chegar hoje o texto que passo a reproduzir.
“Li agora a sua coluna no Record “em defesa de Camará” e não queria deixar de dizer-lhe duas ou três coisas. Antes de mais, várias pessoas em quem confio e que assistiram ao episódio garantem-me que não houve qualquer tentativa de agressão ao jogador. Aliás, há um vídeo a circular que mostra o Camará fora do carro a discutir com pessoas e a mulher dele estava dentro do carro. Esse mesmo vídeo mostra o Camará a ser metido pela polícia dentro do carro e forçado a ir embora. (aliás, saindo ele de dentro do estádio, onde está protegido, seria impossível alguém agredi-lo – ele nunca deveria ter saído do carro para enfrentar a multidão).
O que há, de facto, é uma guerra antiga entre o Camará e um grupo de sócios, que o próprio Camará relatou no comunicado que publicou no FB. Após um jogo há uns anos (uma derrota fora) um grupo de adeptos contestou no Restelo, à chegada, os jogadores. O Camará foi até lá, empurrou uns quantos para defender um companheiro. Na semana seguinte, o mesmo grupo voltou lá e o Camará tinha “guarda-de-honra” de vários amigos. E os amigos mostraram facas e pistolas aos adeptos.
Alguns comentam isto no FB do Camará, revelando que fugiram, naturalmente. Desde então, esses adeptos querem o Camará fora do clube. E protestam contra ele. Também me garantem que os protestos no fim do jogo começaram quando a mulher do RPS se virou da tribuna para os sócios e disse adeus, rindo-se. Que se prolongou para a saída dos carros para visar o RPS. É imbecil o insulto racista, nisso não há como estar em desacordo, mas não me parece ser de todo o que está em causa. A verdade é que a SAD tem manipulado informação e passado informações que são falsas (como a do roubo das cadeiras, que, afinal, estavam guardadas num depósito do clube e eles tinham conhecimento).
Enfim, serve isto como um desabafo de belenense que sofre ao ver as “verdades” serem mal passadas a quem opina”.
Agradeço a explicação que me é dada e reconheço que não só ignorava os factos descritos acima, como pelo visionamento do vídeo igualmente citado me parece que a “tentativa de agressão” se resumiu a provocações e insultos, a que o futebolista e a mulher responderam, tendo a PSP evitado que daí se passasse para a violência física.
Mas isso não muda a minha opinião quanto à entrega de Camará ao seu trabalho e à certeza que tenho de que quem dá tudo dentro do campo, independentemente do seu valor futebolístico – que está, aliás, em linha com o de muitos outros, de pele branca, que por lá temos – o que não merece é ser assobiado. E o que não merece, nem deve é ser insultado e ameaçado quando abandona o seu local de trabalho, para mais com a mulher ao lado. Isso é próprio de baderneiros, de cobardes que só se armam em corajosos quando se encontram em matilha. É contra essa gente que me manifesto.
Quanto aos problemas criados pela má relação entre o Belenenses clube e o Belenenses SAD, espero que a promessa do presidente, de recuperar o controlo da sociedade desportiva, se cumpra antes que a massa associativa fique ainda mais reduzida, nela permanecendo apenas os que ainda têm paciência para suportar estas vergonhas. Lembro, no entanto, que perdemos a SAD porque durante demasiados anos entregámos o clube a gestores amadores que o arruinaram. Temo, mesmo, que isso volte a suceder e que a porta se feche de vez.