O pleno de 13 de maio
Quem aspira ganhar eleições acenando com o regresso do velho Portugal deprimido e temeroso do futuro, e prometendo as mesmas receitas do passado, vai ter de encontrar outra narrativa. Porque o país mudou. Pode viver na ilusão, mas está feliz.
Já tinha mudado, é certo, mas acordou ontem mergulhado na euforia. É que no sábado o Papa terminou uma visita triunfal e isenta de problemas a Fátima – que encheu de orgulho os católicos e fez respirar de alívio os não crentes – partindo para Roma horas antes de Salvador Sobral conseguir, no Festival da Eurovisão, uma vitória que a RTP perseguia desde os zero pontos da “Oração” de Calvário, em 1964.
Como se não bastassem esses dois êxitos num 13 de maio para a história, pelo meio entrou em ação o futebol, com o Benfica – o mais popular clube de Portugal, goste-se ou não do emblema e aceite-se ou não essa realidade – a conquistar o tetracampeonato, depois de uma primeira parte de luxo em que chegou cedo à goleada e deixou em delírio a Luz. Mais coisa menos coisa, metade do país sentiu-se nas nuvens – a outra metade já lá estava e à noite fez-se o pleno.
Agora, com o retorno à Terra e nada mais restando, questionar-se-á o óbvio: a justiça do sucesso encarnado. Sim, pode-se sempre recordar alguns erros dos árbitros e arranjar uns “ses”, mas a desolação de ontem nas bancadas do Dragão e a última pobre exibição do Sporting dão-nos a mais esclarecedora das respostas. A vida é o que é.
Canto direto, Record, 15MAI17