Sara Carbonero volta a poder descer Santa Catarina
Rui Vitória tem razão: o Benfica fez o suficiente para ganhar o jogo. Então se estivesse um frangueiro como eu na baliza do FC Porto, a goleada teria sido tiro e queda. Mas não estava e ontem surgiu Casillas – e já não se aguenta, claro, a referência de todo o bicho-careta a “São Iker” – no patamar dos seus melhores tempos: Pizzi, Jonas, Gaitán e Mitroglou, e até Martins Indi, imaginaram a bola dentro da baliza portista antes do ex-madridista exibir a classe de campeão europeu e mundial, e apagar da memória recente o inacreditável fiasco frente ao Arouca. Sara Carbonero volta a poder descer Santa Catarina e lanchar no Majestic.
Cinco minutos antes de Artur Soares Dias, que atuou igualmente a excelente nível, apitar para o final da partida, quem viu comigo o jogo deve ter pensado: coitado, passou-se. É que fiquei ansioso por haver chegado a altura, julgava eu, de se verificar o golo do empate do Benfica – fosse através de um penálti, de um remate com ressalto, de um autogolo ou mesmo de um frango de Casillas-à-moda-de-Arouca – confirmando-se com isso a antiga fama de pé-frio de José Peseiro. Mas foi uma ânsia inútil, afinal o treinador parece ter-se já livrado dessa maldição, sobrando agora a sua segunda fragilidade: a de falta de pulso quando é preciso impor disciplina. O feio gesto de Brahimi, há uma semana, que Peseiro disse ir analisar e resolver “em família”, não foi um bom sinal. Mas não faltarão oportunidades para sabermos se também aí mudou.
Os anos que levo a ver futebol “diziam-me” que o FC Porto não perderia na Luz, mas infelizmente arrisquei apenas um 1-1 no TotoRecord… E porquê esse “cheiro” a insucesso benfiquista? Porque a euforia dos da casa era má conselheira, porque o adversário vinha de uma derrota acabrunhante e estava na iminência de “desistir” da liga sem apelo e, talvez o mais importante, porque Rui Vitória – que já conseguiu pôr o Benfica a jogar bem – não tem ainda a sabedoria de José Peseiro nestas andanças dos clássicos. Não é por acaso que o técnico benfiquista soma três derrotas com o Sporting e duas com o FC Porto em seis meses – e bate com isso um recorde no Benfica – e se nos lembrarmos da ideia peregrina de colocar Gaitán, já completamente esgotado, a marcar um Marega fresquíssimo, verificaremos que falta alguma tarimba a Rui Vitória. Podendo ter ganho o jogo, os da Luz só por um triz não sofreram o terceiro golo… pelos pés de Marega.
Mas se o Benfica fez o suficiente para vencer, houve o insuficiente que o impediu de ganhar. E isso verificou-se na luta do meio-campo, onde a determinado momento – pouco após terem feito o 1-0 – os encarnados ficaram reduzidos a Renato Sanches, com Danilo Pereira a mandar por completo na sua zona e Pizzi e Gaitán, admiradores da imensidade do seu talento, a não participarem nas marcações, fazendo lembrar o Real Madrid, que joga quase sempre com nove, pois as perninhas de Bale e de Cristiano valem tanto dinheiro que se poupam a esse trabalho.
Dedico um derradeiro parágrafo à festa encarnada antes do clássico – um grande clássico – que criou uma atmosfera “árrepiante”, como diria o narrador da Benfica TV. Depois, os assobios a Maxi recuperaram o pior do futebol: a cultura do ódio que tenta vencer, sem êxito, a magia do jogo.
Contracrónica, Record, 13FEV16