Contra o destino, nada feito
Em dez jogos em casa para início da Liga dos Campeões, o Real Madrid obteve dez vitórias. E isso aconteceu tanto a jogar bem como a não dar uma para a caixa, como ontem – ou como sucede, vendo bem as coisas, desde a última época de José Mourinho, quando os barões do balneário merengue se dedicaram, com pleno êxito, mais à intriga do que ao futebol. A esse peso estatístico chama-se destino e contra o destino, nada feito. Os leões ainda ousaram desafiá-lo até ao minuto 89, aquele em que Cristiano fez de “Talisca do Sporting” para conseguir meter a bola na gaveta de Rui Patrício, regressando assim à quase esquecida condição de emérito marcador de livres. Foi o seu terceiro golo, em três jogos, frente ao emblema que o formou, outro desígnio do que tem de ser.
Síndrome dos minutos finais. Jorge Jesus, aliás, lá estava, no Bernabéu, igualmente com o livro do destino debaixo do braço: mais uma vez expulso do banco por falta de autocontrolo emocional, uma pecha antiga, e atingido de novo pelo síndrome dos golos fatídicos dos últimos minutos, seu velho “compagnon de route”.
Burguesia madrilena. Não havendo vitórias morais e tendo em conta os empates caseiros de Benfica e FC Porto, perante adversários menos cotados, a verdade é que o Sporting dispõe, neste começo de temporada, da melhor equipa portuguesa. Até saírem Gelson Martins – o próximo fenómeno a encher os cofres de Alvalade – e Adrien, os leões vulgarizaram a burguesia madrilena e só perderam a batalha contra o destino porque já não se encontrava Slimani no lugar de Bas Dost – um avançado sem profundidade de jogo – nas duas ocasiões, aos 34’ e aos 63’, em que o holandês falhou a entrada à bola após centros de Gelson.
Já em 2007… A recente entrevista de Jesus ao Record fez com que lhe soltassem os cães ao caminho. Não tendo coragem para criticar Mourinho – viram como De Bruyne, que Mou não quis no Chelsea, moeu, no sábado, o MU? – mordem nas canelas de JJ. Em 2007, quando o Belenenses, liderado pelo mesmo Jesus, perdeu, por 1-0, com o Real Madrid, para o Teresa Herrera (ao contrário do que disse o comentador da Sport TV, o desafio não se realizou no Bernabéu), que “não se notou grande diferença em termos de jogo”, que “os jogadores do Belenenses foram melhores taticamente” e que “anularam as referências do adversário”. Nove anos decorridos, só não pode repetir essas palavras porque, “em termos de jogo”, a diferença foi grande e a favor do Sporting. Entender de futebol e saber trabalhar também é um destino.
Contracrónica, Record, 15SET16