O elixir de Alvalade ou a descoberta da pólvora
Reza a lenda que na China do século IX, ao procurar criar o elixir da imortalidade, um grupo de alquimistas descobriu a pólvora. Também o Sporting recorreu a um alquimista, Bruno de Carvalho, para inverter o rumo das desgraças que se sucediam em Alvalade e descobrir a pólvora. Podia é tê-lo tido mais cedo, logo nas eleições de 2011, quando Bruno tinha a batalha ganha até às 18 horas, para depois aparecer, sobre o fecho das urnas, a brigada do reumático, carregada de votos, a virar a coisa para o lado de Godinho Lopes, um azar dos diabos.
Conflitualidade permanente. O presidente leonino percebeu, desde a primeira hora, que a prioridade era recolocar o Sporting no mapa de que sucessivos erros desportivos e de gestão o tinham retirado. Daí as polémicas, os remoques, os contra-ataques, a estratégia da conflitualidade permanente. E a preocupação da comunicação. A saída de João Mário para o Inter foi “compensada”, no próprio dia, com o anúncio da maior transferência de sempre de um jogador português para o estrangeiro e a contratação de Pedro Delgado – valha ela o que valer. Antes do clássico de ontem, soube-se, quase em simultâneo, da partida de Slimani e do desembarque de Bas Dost.
Euforia controlada. São atos normais de uma gestão profissional? Sim, mas transmitem confiança aos adeptos e à estrutura, e geram um entusiasmo que se transmite aos jogadores, que retomaram o hábito de vencer e veem os companheiros, que se valorizaram, conquistar o direito a novas carreiras e melhores salários. Foi esse clima de euforia controlada que esteve na base da volta que os leões deram ao resultado. Dominados na parte inicial do encontro e em desvantagem no marcador, tiveram alma e talento para chegar à vitória.
Barato. Contratar Jesus foi o pozinho decisivo no êxito da poção do alquimista de Alvalade. Com a ida à Champions e as vendas de jogadores, já ninguém se lembra dos milhões do salário de um técnico que se pode até considerar barato. Caros são os que auferem menos e não metem dinheiro em casa.
Mestre. No jogo com o FC Porto, encontrámos três bons exemplos dos milagres de Jesus: Bruno César – que exibição! –, João Pereira e Bruno Paulista. O primeiro errou pelo Mundo e exilou-se no Estoril, o segundo foi corrido do Valência – por Nuno Espírito Santo (!) – e esteve meio ano sem clube, e o brasileiro parecia perdido na equipa B. Pois aí estão eles, de regresso ao alto rendimento, simplesmente porque na sua vida lhes apareceu um mestre.
Contracrónica, Record, 29AGO16