42 anos depois
O 25 de abril de 1974, ao acabar com a PIDE, deu fortíssima machadada nos abusos de poder, tanto mais que impôs, em simultâneo, o regime democrático que defende as liberdades e dá garantias de igual tratamento aos cidadãos.
Ao que os 42 anos de abril não conseguiram pôr fim foi à prepotenciazinha que dorme dentro de nós, mesmo contra a nossa vontade, nem à necessidade de afirmação sobre o outro, que não poucas vezes resulta em perseguição disfarçada de justiça. Passa-se isso, por exemplo, com o funcionário alfandegário que nos abre a mala, com o polícia que nos multa, com o juiz que nos desconsidera, com o chefe que nos chateia, ou com o simples empregado de balcão que nos faz esperar pelo café enquanto envia mensagens pelo telemóvel. Desde que detenha um poderzinho, por inofensivo que pareça, o português adora exercê-lo e raramente perdoa.
Creio ser o que se está a passar com os árbitros, que resolveram, por ação corporativa de duvidoso alcance e que só agrava tensões, não admitir aos treinadores a mínima contestação às suas decisões, como se todos não fizessem – com a expressão dos seus desacordos – parte do jogo e das paixões que provoca. Desde que não haja insultos ou protestos desproporcionados como justificar tanta falta de tolerância?
Escrevo isto a propósito das expulsões de Jorge Jesus – e aproveito: punido com uns eurozitos de multa enquanto colegas seus são suspensos, porquê? Mas não quero desculpá-lo se acaso se excedeu, agora que o vimos, em Alvalade, a mandar vir com um bombeiro como se ele tivesse cara de Raul José. Anda uma pilha de nervos, o JJ, é o que é – e entende-se perfeitamente porquê.
Canto direto, Record, 25ABR16