Portugueses em Belém
Quando o dinheiro de Rui Pedro Soares o colocou ao leme da SAD do Belenenses, vivia-se no Restelo, e salvaguardadas as proporções, um quotidiano semelhante ao do Benfica após Vale e Azevedo: dívidas por todo o lado, salários em atraso e dificuldades para pagar até a conta da água. Não me devo afastar muito do que teria sido a realidade se disser que – se continuasse entregue à coxa gestão dos sempre os mesmos – o Belenenses teria descido à II Divisão B e disputaria ainda hoje o Campeonato de Portugal.
Em vez de estarmos gratos a Rui Pedro Soares, depressa esquecemos a desgraçada situação que herdou e vêmo-lo como um infiltrado, um não-belenense que bem podia ir andando – deixando ficar o dinheirinho, claro, porque não se vê ninguém com vontade e capacidade financeira para se chegar à frente e lhe comprar a SAD.
Mas não faço dele o benemérito injustiçado. Com menos arrogância e menor sede de protagonismo, e um esforçozinho para que os associados se sentissem, de forma simbólica que fosse, parte do projeto da SAD – e não intrusos na própria casa – Rui Pedro Soares podia perfeitamente entender-se com Patrick Morais de Carvalho, que é o homem que por vezes não tivemos: um presidente à altura da história do Belenenses.
Faz sentido, só para dar um exemplo, que Julio Velázquez esteja impedido de recorrer aos juniores, e de trabalhar com eles, porque as camadas jovens são do clube e não da SAD? Tem algum jeito haver no Restelo dois superegos e dois mini-Belenenses? Somos portugueses, eu sei, mas escusamos de exagerar.
Canto direto, Record, 14MAR16