— ler mais..

Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Drag..." /> — ler mais..

Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Drag..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Os 60 milhões do Benfica não ganham os jogos

28 Agosto, 2017 0

Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Dragão – e antes de ser despachado com mais três secos, agora em casa e pelo Tondela… – recorreu à teoria para justificar a derrota. Não que não seja um facto a enorme diferença de recursos financeiros entre os gigantes e os pequenotes, mas há que ter em conta que a proporção não é direta entre os investimentos efetuados e os rendimentos das respetivas equipas. Existe um pormenor importante que é o fator humano.

Desde logo porque os métodos de treino são hoje semelhantes e os “pobrezinhos” preparam-se com ferramentas técnicas idênticas às dos “ricos”. Depois, os jogadores que se sabem menos dotados utilizam os imponderáveis do futebol para, à custa de mais trabalho e de maior determinação, e naturalmente de alguma sorte – que não sopra sempre para o mesmo lado, como se sabe – conseguirem chegar, por vezes, ao nível dos predestinados.

Foi o que se passou no sábado, em Vila do Conde, onde a turma da casa, com uma dinâmica de jogo superior – e muitíssimo superior ao que se esperaria de um plantel de 6 milhões de euros – e com Tarantini e Pelé a construírem no meio campo uma parede de betão, fez a vida negra ao Benfica e aproveitou um azar de Lisandro para roubar os primeiros pontos aos encarnados – e perder os seus primeiros pontos, essa é que é essa.

Ao contrário do que poderia suceder pelo aumento do tal fosso, certo é que não se veem hoje no futebol português as cabazadas que o caracterizavam no passado, ou seja, a menor capacidade financeira dos emblemas mais modestos tem vindo a ser compensada com organização, trabalho, ambição e uma enorme dose de talento.

Terá de ser na área motivacional, em que já demonstrou mestria, que Rui Vitória deverá concentrar os seus esforços. Porque pese o valor do Rio Ave, e o mérito com que alcançou o empate, pareceu-me ter visto um Benfica uns furos abaixo do que pode e deve, um Benfica por momentos regressado ao tempo em que as camisolas ganhavam os jogos. E tanto tem Vitória combatido a sobranceria e a ilusão de que mais minuto menos minuto, mais penálti ou menos bola na trave, o triunfo é certo! Não é. E muito menos se ganharão desafios contemplando a grandeza dos 60 milhões de euros de investimento benfiquista em 2017/18, cantilena de machadês.

O parágrafo final é desta vez dedicado ao Real Madrid, que ontem – sem Sergio Ramos, castigado, e Varane, lesionado, o costume – começou a pagar pela partida de Pepe. Com Casemiro a central, a equipa “desconstruiu-se” e faltando Cristiano faltou o resto. É mais um exemplo de que os milhões não podem dispensar as cabecinhas pensadoras, muito difíceis de copiar.

Outra vez segunda-feira, Record, 28AGO17

Cristiano é vítima de si próprio

17 Agosto, 2017 0

Não leitor, não é engano, hoje, quarta-feira, é para mim outra vez segunda-feira porque o meu fim de semana se prolongou com uma viagem a Barcelona, onde tive o privilégio de assistir à primeira mão da Supertaça de Espanha e de encontrar, em Camp Nou, um ambiente muito semelhante ao que me costuma receber no Santiago Bernabéu: intenso, vibrante, envolvedor e mesmo comovente. É a paixão pelo futebol e o amor – e a dedicação extrema – a um emblema a unir as pessoas e a emocioná-las: foi uma noite inesquecível até para o empedernido madridista que sempre serei.

Não é preciso entender muito de futebol, basta acompanhar regularmente pela TV os jogos de La Liga, para verificar a enorme diferença, para pior, dos árbitros espanhóis relativamente aos portugueses. Se para uma partida da Supertaça se escolhe o quarto classificado da temporada anterior e ele se revela tão mau como Burgos Bengoetxea, como serão os outros?

Em Portugal, a generalidade dos árbitros adota uma postura pedagógica, que mistura em proporções corretas as atitudes de firmeza e autoridade com as pacificadoras e dialogantes. Quantas vezes já vimos os nossos juízes de campo a interpor-se entre jogadores desavindos, separando-os e evitando com isso consequências desastrosas para os artistas e para o espectáculo? Ao contrário, o tal de Burgos assistia passivamente às picardias e afastava-se como que esperando novas oportunidades para se afirmar a exibir cartões.

Não vale a pena discutir outros casos do jogo, que foram da severidade com que o apitador puniu o contacto ligeiro mas escusado de Navas a Suárez, à vista grossa que fez ao derrube de Messi por Sergio Ramos. É suficiente atentar na sua incompetência, ou má fé, na expulsão de Cristiano Ronaldo. Como se castiga um jogador com um segundo amarelo após um lance dividido, em que ele se enrola com a bola e com o adversário, e cai na área sem qualquer intuito de enganar o árbitro?

Percebo que Burgos quisesse ficar famoso por expulsar um avançado que já marcou 11 golos ao Barça em Camp Nou – nenhum outro jogador do Real Madrid conseguiu tal proeza e duvido que em 60 anos de existência do mítico palco de Les Corts outro futebolista visitante haja ido tão longe. Mas não se é árbitro para ficar na história e a atuação de Burgos foi uma vergonha que prejudicou Cristiano, o Real Madrid e o próprio futebol.

Dito isto, manda a verdade que se acrescente que a incompetência de Bengoetxea daria apenas um jogo de castigo ao português – que poderia até ser-lhe retirado hoje – não fosse o seu ato irresponsável de empurrar o árbitro. Assim, não estará domingo no arranque da liga e não participará esta noite no que parece vir a ser mais uma comemoração no Bernabéu – atenção a Messi! É pena que Cristiano não tenha tido em conta que nunca se toca num árbitro, ainda que ele seja um mono como Burgos. Que lhe sirva de lição.

Outra vez segunda-feira, Record, 16AGO17

Fim de semana de horror futebolístico

24 Abril, 2017 0

Como adepto do Belenenses habituei-me a sofrer até ao dia em que percebi que só o que me restava era a dor, pelo que não valia mais a pena sofrer. Assim, acho normal a ampla derrota no Funchal – a sexta consecutiva (!) na Liga – como me parece natural a opção da SAD pelos dois últimos treinadores. Aliás, desde que dispensou Lito Vidigal e não quis também ficar com Jorge Simão, para ir contratar Sá Pinto, que Rui Pedro Soares não acerta uma. Veremos o fim da história.

Como adepto do Real Madrid, ao contrário, vou vivendo algumas alegrias, tão estranhas quanto se sabe que há muitas épocas não temos uma equipa e vamos vivendo da irregular inspiração de meia-dúzia de estrelas. E, sempre, dos humores do balneário controlado por um capitão capaz tanto de golos decisivos como de paragens cerebrais – de que é exemplo aquela que ontem o fez ser expulso no Bernabéu e abriu caminho à vitória de um Barcelona que foi infinitamente superior.

Com nove jogos em menos de um mês, sem três centrais, sem Bale, com Cristiano-ora-sim-ora-não e com a teimosa insistência em Benzema por parte de um Zidane que “ignora” Isco, o jogador em melhor forma do plantel – com Asensio – temo que não haja nem La Liga, nem Champions.

Mas o meu fim-de-semana futebolístico não foi totalmente um horror porque José Mourinho já está “em cima” do terceiro lugar da Premier e Leonardo Jardim também ganhou e segue líder da Ligue 1. E isso é muito bom.

Canto direto, Record, 24ABR17

O drama de Pepe

2 Janeiro, 2017 0

Perdido entre o Hannover 96 e o Valencia de Nuno Espírito Santo – e como já têm por lá saudades do treinador português… – João Pereira foi recuperado por Jorge Jesus no Sporting, acabando até por ganhar a titularidade a Schelotto. Mas aos 32 anos, com o regresso à Seleção tapado por Nélson Semedo e Cédric, por Cancelo e Vieirinha, o lateral preferido de Paulo Bento quer fazer ainda um grande último contrato e deixa Alvalade para tratar da vida. São opções.

Em situação mais complicada está Pepe, em fim de compromisso com o Real Madrid. O clube oferece-lhe uma renovação até 2018, o jogador – que completará em fevereiro 34 anos – quer assinar por duas temporadas. Além disso, os madrilenos não pretendem pagar mais do que os 4,5 milhões de euros livres de impostos que Pepe aufere por época, enquanto o internacional português tenta aumentar a parada, seguro com os 10 milhões (ou mais) de euros líquidos anuais com que lhe acenam da China.

Ídolo na capital espanhola, considerado o melhor central estrangeiro de sempre a envergar a camisola do Real, que serve há quase uma década, Pepe hesita em continuar como referência – e constituir uma lenda blanca para a eternidade – ou rechear ainda mais uma conta bancária milionária. E a Seleção? Poderá a aventura no eldorado chinês vir pôr em risco a sua presença no Mundial de 2018? É um drama para Pepe, sem dúvida. Mas quem nos dera a nós termos de resolver um drama desses!

Feliz Ano Novo, leitor.

Canto direto, Record, 2JAN17

João Pereira e o seu outro eu

23 Novembro, 2016 0

Tal como não se pode fugir ao destino, também da fama de ter maus fígados não nos livramos. Estou a pensar em João Pereira, esse desistente de carreira que o olho de falcão, perdão, o olho de lince de Jorge Jesus em hora feliz foi buscar à prateleira dos infernos.

Duelo. O jogador começou por corresponder à confiança do técnico, teve a seguir um período em que perdeu o duelo com Schelotto, mas voltou ao de cima, reconquistando o lugar no onze.

Renegado. Ontem, Pereira estava a jogar bem até renegar tudo aquilo de que nos convencera: que regressara ao futebol agressivo e intenso que o levara à Seleção de Paulo Bento, perdendo, ao mesmo tempo, a mania dos palavrões e de se meter em embrulhadas.

Quadro. Numa das redes sociais, substitutas por excelência das antigas portas das retretes públicas, alguém mais perverso – e perversidade é o que por lá não falta – escreveu que João Pereira quer seguir a carreira de João Vieira Pinto. E que se este conseguiu, também ele quis iniciar a sua caminhada para futuro quadro da Federação.

Protetor. Não acredito nisso. Primeiro porque Pereira não teve tempo para pensar, foi traído pelo ADN, quis ser fiel ao seu outro eu, justificar a fama de quezilento histórico. E encostou-se ao Kovacic que, coitadinho, se rebolou no chão com umas dores pavorosas. João Pereira é injustamente expulso, mas já sabia que o passado não lhe permite entrar em confusões. Não devia ter ido à guerra e foi, pregando com isso Jesus Protetor na cruz e lesando o Sporting, que estava em cima de um Real Madrid que tornou a não ser superior aos leões.

Apoplexia. Manda igualmente a verdade que se diga que Jesus não tem, ainda, uma equipa madura. Basta recordar dois lances de Gelson Martins, no princípio do segundo tempo. Num, ficou à solta pela direita, aproveitando a queda de Marcelo, e fez um centro rasteiro, à toa, para o meio dos defesas, o que deixou o treinador à beira da apoplexia. Minutos depois, isolado na grande área, centrou atrasado para “ninguém”, quando se impunha o remate cruzado. Adiou a sua afirmação, revelando que tem muito para aprender e crescer.

Cérebros. Apesar de tudo, a coisa compôs-se com a ridícula mão, ou braço, de Coentrão, esse émulo cerebral de João Pereira. Mas como em Madrid, o Sporting não teve sorte. E tanto azar, já chateia.

Contracrónica, Record, 23NOV16

A ira de Cristiano Ronaldo

26 Setembro, 2016 0

Por diversas vezes aqui tenho defendido que o final do percurso futebolístico de Cristiano Ronaldo se dará no Man United, apesar de saber que há quem o veja mais a atuar nos Estados Unidos, que Bruno de Carvalho sonha com um regresso do jogador ao Sporting e que ele reafirmou, há pouco, a vontade de terminar a carreira no Real Madrid – esta última a hipótese em que menos acredito.

Viu-se no sábado, com a sua irada reação à substituição em Las Palmas, que Cristiano encontrou a sua zona de conforto nos dias de glória mas não está minimamente preparado para enfrentar o “dia seguinte”, aquele que nascerá mal se encerre o período de maior fulgor. Depois de, numa década, ter conquistado tudo e ter sido o melhor futebolista do Planeta, CR não conseguirá – como ser humano algum conseguiria – manter o mesmo alto nível exibicional e marcar indefinidamente mais de 50 golos por época.

Zidane explicou que substituiu o nosso craque para o poupar, uma vez que o Real tem, amanhã, o difícil confronto com o Borussia de Raphael Guerreiro. Mas é evidente que Cristiano se encontra fora de forma, embora o seu grande futebol tanto possa estar de volta já na partida com os alemães, como tardar mais umas semanas ou aparecer até com novos contornos a que teremos de nos habituar – nós, os adeptos e o próprio jogador.

Mas se CR não está preparado para um rendimento diferente, preparados também não estão os madridistas e a comunicação social espanhola que, sem tolerância, continuarão a exigir-lhe o impossível. Cristiano ainda não percebeu que, como Raúl, deixará Madrid mais cedo do que merece.

Canto direto, Record, 26SET16

Contra o destino, nada feito

15 Setembro, 2016 0

Em dez jogos em casa para início da Liga dos Campeões, o Real Madrid obteve dez vitórias. E isso aconteceu tanto a jogar bem como a não dar uma para a caixa, como ontem – ou como sucede, vendo bem as coisas, desde a última época de José Mourinho, quando os barões do balneário merengue se dedicaram, com pleno êxito, mais à intriga do que ao futebol. A esse peso estatístico chama-se destino e contra o destino, nada feito. Os leões ainda ousaram desafiá-lo até ao minuto 89, aquele em que Cristiano fez de “Talisca do Sporting” para conseguir meter a bola na gaveta de Rui Patrício, regressando assim à quase esquecida condição de emérito marcador de livres. Foi o seu terceiro golo, em três jogos, frente ao emblema que o formou, outro desígnio do que tem de ser.

Síndrome dos minutos finais. Jorge Jesus, aliás, lá estava, no Bernabéu, igualmente com o livro do destino debaixo do braço: mais uma vez expulso do banco por falta de autocontrolo emocional, uma pecha antiga, e atingido de novo pelo síndrome dos golos fatídicos dos últimos minutos, seu velho “compagnon de route”.

Burguesia madrilena. Não havendo vitórias morais e tendo em conta os empates caseiros de Benfica e FC Porto, perante adversários menos cotados, a verdade é que o Sporting dispõe, neste começo de temporada, da melhor equipa portuguesa. Até saírem Gelson Martins – o próximo fenómeno a encher os cofres de Alvalade – e Adrien, os leões vulgarizaram a burguesia madrilena e só perderam a batalha contra o destino porque já não se encontrava Slimani no lugar de Bas Dost – um avançado sem profundidade de jogo – nas duas ocasiões, aos 34’ e aos 63’, em que o holandês falhou a entrada à bola após centros de Gelson.

Já em 2007… A recente entrevista de Jesus ao Record fez com que lhe soltassem os cães ao caminho. Não tendo coragem para criticar Mourinho – viram como De Bruyne, que Mou não quis no Chelsea, moeu, no sábado, o MU? – mordem nas canelas de JJ. Em 2007, quando o Belenenses, liderado pelo mesmo Jesus, perdeu, por 1-0, com o Real Madrid, para o Teresa Herrera (ao contrário do que disse o comentador da Sport TV, o desafio não se realizou no Bernabéu), que “não se notou grande diferença em termos de jogo”, que “os jogadores do Belenenses foram melhores taticamente” e que “anularam as referências do adversário”. Nove anos decorridos, só não pode repetir essas palavras porque, “em termos de jogo”, a diferença foi grande e a favor do Sporting. Entender de futebol e saber trabalhar também é um destino.

Contracrónica, Record, 15SET16