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Lara Li teve a sorte da coragem da mãe, que lhe impôs o talento à arrogância de Lisboa Passam agora 30 anos sobre a entrevista possível que fiz a Lara Li para o diário Portugal Hoje. Possível porq..." /> — ler mais..

Lara Li teve a sorte da coragem da mãe, que lhe impôs o talento à arrogância de Lisboa Passam agora 30 anos sobre a entrevista possível que fiz a Lara Li para o diário Portugal Hoje. Possível porq..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Hoje é Sábado: A flor desperdiçada

5 Junho, 2010 0

Lara Li teve a sorte
da coragem da mãe,
que lhe impôs o talento
à arrogância de Lisboa

Passam agora 30 anos sobre a entrevista possível que fiz a Lara Li para o diário Portugal Hoje. Possível porque a época era politicamente conturbada, mas também porque a artista que se afirmava – já a caminho do terceiro disco e com a agenda repleta de espectáculos pelo país – não tinha um feitio fácil, nem gostava de se expor. O futuro se encarregou de provar que não se tratava de um capricho, pois em três décadas não só escasseiam os depoimentos como se perdeu a cantora, pelo menos ao nível a que se supunha que a guindaria a sua voz magnífica e um estilo de interpretação muito próprio – a fazerem tremer os baladeiros que, em 1980, haviam entrado em agonia.

O discurso de Lara Li, claramente de extrema-direita, polvilhado embora por declarações contraditórias, pôs em risco a publicação da entrevista num jornal de forte influência socialista, para mais numa altura em que as clivagens políticas entre esquerda e direita, progresso e reacção eram ainda acentuadas. Valeu, lembro-me bem, o espírito aberto do jornalista João Gomes, director do título, que me autorizou a publicar o texto, perante a indignação de alguns radicais.

Ilídia Maria, Lara Li, regressara de Moçambique em 1975, na queda do império, e aos 21 anos tinha a postura típica do retornado que, deixando para trás anos de esforço e privações, tudo perdera sem entender porquê. Teve a sorte da coragem da mãe, que foi à luta e conseguiu convencer a Valentim de Carvalho, e a poderosa arrogância de Lisboa, do talento da filha.

Como seu admirador, lamentei o posterior afastamento da ribalta e o esquecimento em que veio a cair o seu fulgor. Mas julguei entendê-los sempre à luz da complexa personalidade de Lara Li e do seu ambíguo poder de sedução – que se impunha com intensidade, que subjugava mesmo, para logo se esbater num enigma de pequenos sinais que pareciam apontar para outras opções pessoais e, pelo que se viu, igualmente de carreira. Já há três décadas aquela mulher dura e sensual se pressentia complicada e diferente.

No pós-25 de Abril, fiz parte do grupo dos que gostavam de se intitular geração do sacrifício – por ter feito a guerra, por ter sido perseguida nas universidades, por não ter podido desfrutar da juventude numa sociedade livre e europeia. Mas passado o delírio ganhei consciência de como cruel havia sido a revolução para todos os que, como a família de Lara Li – e foram muitos milhares que não trouxeram sequer essa flor de esperança –, se viram forçados, pelos ventos da História e pela cegueira da ditadura também, é verdade, a desfazer as suas carreiras e os seus lares, a perder os seus bens, a destroçar as suas vidas. Curvo-me perante a dor daqueles para quem não sobraram cravos.

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 2 junho 2010

Nota 1 – Estas crónicas respeitam. sempre que possível, o tema de sociedade da Sábado, que era, desta vez, um perfil de Lara Li
Nota 2 – Aos textos que publico na Sábado não é aplicado o novo Acordo Ortográfico

Os clubes seguem a vertigem do País

3 Junho, 2010 0

As SAD’s dos três maiores clubes portugueses e as empresas que eles criaram para diferentes áreas de negócio acumulam défices que ultrapassam os mil milhões de euros (ver info na pág. 5).

Esta situação, resultante já do recurso a todas, ou quase todas, as estratégias de engenharia financeira, e venda do que havia para vender, deixa aos “grandes” do futebol português o problema do país: um dia, vai ser preciso liquidar a dívida.

Sabe-se que os clubes têm ativos, mas conhece-se o obstáculo principal: teriam de vender todos os seus profissionais de futebol para pagar o que devem – e não chegaria – e, fazendo isso, deixariam de ser o que são. Portanto, essa “solução” não é possível.

Há também que ter em conta o valor das instalações, cada vez mais reduzidas aos espaços estritamente desportivos. Do que se duvida é que existam ainda alguns metros quadrados que não estejam nas mãos dos credores, ou melhor dizendo, dos bancos.

Perante este panorama, restaria o recurso a uma gestão espartana, que os clubes não estão em condições de adotar, já que a redução das despesas acarreta sempre cortes nos investimentos com um quase imediato reflexo nas receitas. E quando faltam as receitas entra-se numa espiral de perda de dimensão da qual dificilmente se sai. Estará isso a acontecer ao Sporting?

Fica-se assim com o último recurso nas mãos, o famoso salto para a frente, que consiste em apostar forte para obter resultados desportivos e depois – com o aumento das assistências, com a melhoria do pagamento das transmissões televisivas e com a venda de alguns jogadores – potenciar as receitas e tentar começar a diminuir o défice. Será esse o caminho por onde está a seguir o Benfica?

Uma gestão de compromisso, que não diminua demasiado o investimento, que venda dois ou três ativos e os substitua por outros de capacidade idêntica, graças ao trabalho eficaz da prospeção, pode resultar? Pode, e isso é o que tem feito o FC Porto. Mas para esse “milagre”, que nos últimos nove meses deu até em lucro – único, aliás, nos três grandes –, foram decisivas as receitas da Champions, que não existirão na próxima época.

Então o problema não tem solução? Tem, assobia-se para o ar e quem vier depois que veja lá isso. Afinal, os clubes seguem a vertigem do País.

Minuto 0, a publivar na edição impressa de Record de 3 junho 2010

Adeus e até ao meu regresso (parte 2)

Vou deixar de blogar por alguns (poucos) dias, pelo que teremos aqui o Minuto 0 de hoje, a crónica da “Sábado”, no próprio sábado, e pouco mais.

Peço desculpa pela ausência, mas vou ter 30 dias non-stop por causa do Mundial e preciso mesmo de recarregar as baterias da máquina, que já não é o que era.

Até à volta e desculpem qualquer coisinha.

Villas-Boas no FC Porto ou o tempo como grande mestre da vida

2 Junho, 2010 0

O QUE ESCREVI EM MARÇO E EM ABRIL QUANDO NINGUÉM AINDA PUNHA A HIPÓTESE FC PORTO

É que depois da tentativa falhada de Bettencourt na contratação de André Villas-Boas (…) não o vejo a continuar na Académica. E como o líder portista gosta de surpreender, é bom que valorizemos também essa hipótese. E então se Pinto da Costa sabe que isso irrita particularmente o “Special”, meio caminho está já andado…
Passe curto, Record de 4 março 2010

Será que (o compromisso com o Sporting) pode ser revogado? Pode, pagando. E estará aí a explicação para o desabafo do homem que só vê “palhaços” à frente? É possível. Admito, assim, que possa haver já FC Porto na jogada…
Canto direto, Record de 3 abril 2010

…E O QUE ACONTECEU EM JUNHO QUANDO JÁ TODOS SABIAM

André Villas-Boas é o novo treinador do FC Porto.
Comunicado da SAD portista de hoje, 2 de junho 2010

Nota da QdoC: não haverá qualquer comentário a este post, pelos que os autores crónicos de insultos vão ter de ficar a falar sozinhos.

O objetivo é chegar ao Mundial e ganhar

Mal estaríamos se a Seleção tivesse repetido ontem a frouxa exibição que rubricou diante de Cabo Verde. Não, já se viu melhor condição física, mais velocidade, outro empenho, uma atitude profissional e algumas jogadas a prometerem a boa forma para breve.

Detesto comparações com o passado. Se as circunstâncias nunca são idênticas e as peripécias das partidas jamais se repetem, os paralelismos são fúteis. Referir hoje como eram maravilhosos os vice-campeões europeus de 2004 é quase tão inútil como tecer loas aos magriços de 1966. Ai se ainda tivéssemos o Eusébio! Não temos. Ai se o D. Afonso Henriques fosse vivo! Não é.

Mas como a vida continua, o que conta são estes 23 homens, a sua qualidade, e a capacidade que tiverem para sofrer e para funcionar como um todo, como uma verdadeira equipa. Como interessa que Carlos Queiroz se concentre no que está para vir e ignore os estúpidos assobios da Guarda ou as farpas dos que não acreditam nele. Há um objetivo para cumprir. Mais nada.

Passe curto, publicado na edição impressa de Record de 2 junho 2010