As minhas segundas-feiras, entre novembro de 1990 e março de 1991, começavam todas às 5.15. À frente da Pastelaria Nortenha, em Algés, estacionava um Fiat Uno. Lá dentro vinha o “cadete” Ricardo Sequeira, que a partir dali dava boleia aos “cadetes” Rui Matos e António Varela. Uma hora depois (ainda não havia IP's, IC's ou SCUTS) entrávamos na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, para mais uma semana de arranhanço.
O Ricardo e o Rui aguentavam aquilo muito melhor do que eu, já que ambos tinham acabado de sair da Faculdade de Motricidade Humana, em plena forma física. Eu, apesar de tudo, sobrevivi. Eram dias chatíssimos, que mais tarde se tornaram em alegres recordações. Na tropa, há camaradagem. E o Ricardo, é dele que aqui estou hoje para falar, era um CAMARADA.
Nunca mais o vi.
Soube, anos depois, que era um dos mais reputados treinadores de râguebi de Portugal, campeão nacional com Agronomia, adjunto de Tomaz Morais na Seleção Nacional. Senti algum orgulho. A minha boleia das segundas-feiras vencera na vida com grande brilho.
Hoje, percebi que o Ricardo faleceu com um cancro daqueles que não têm nome, aos 47 anos.
Nunca mais o vou ver. Paz à sua alma e muita força para os seus familiares.