A exibição de Madrid – apesar da derrota consentida em cinco minutos, depois de 88 de muito trabalho – funcionou para Jorge Jesus como um cartão de crédito de plafond, julgava ele, ilimitado. Não era. Porque ele próprio se encarregou de o desbaratar três dias depois, com uma conferência de imprensa absolutamente kamikaze.
Não foi a primeira vez que Jorge Jesus disse que esta equipa do Sporting não é a melhor que já treinou, e que a diferença está nele, só nele e absolutamente nele.
O treinador do Sporting já se imaginou jogador deste plantel do Sporting, em especial depois de uma jornada como a do Santiago Bernabéu? De saber que não faz parte dos melhores futebolistas que o treinador já dirigiu, que esses foram os do Benfica, em determinada época?
Jorge Jesus gosta de se ouvir dizer que é o melhor, o maior, aquele que mais sabe de posicionamentos, intensidade, primeiras e segundas bolas, diagonais, marcações individuais e à zona, sistemas e modelos. De 4x4x2. Sim, de 4x4x2.
O que Jorge Jesus não gosta que lhe digam é que faz mal a rotatividade da equipa.
Bruno César foi um dos melhores em campo frente ao Real Madrid, na pele de segundo avançado. Em 90 minutos, fez um golo, foi o jogador mais fustigado pelo adversário, com quatro faltas sofridas. E percorreu 10.332 metros. Cinco jogadores cobriram maiores distâncias, mas quatro deles tiveram em Vila do Conde um destino distinto: João Pereira e Zeegelaar nem sequer se sentaram no banco; Bryan Ruiz e Bas Dost entraram na segunda parte. Só William – fez 11.338 metros – entre os que correram mais do que César no Bernabéu, cumpriu também os 90 minutos frente ao Rio Ave. Com uma diferença: não foi deslocado para lateral-esquerdo, para enfrentar um dos extremos mais talentosos da Liga, o espetacular Gil Dias.
Para que serve, então, Jefferson, quando Bruno César anda em rodízio posicional por quase todo o campo e acaba por expor a equipa, com a complacência de Jorge Jesus?
Mas este é apenas um pormenor num treinador que tem noções de liderança muito limitadas. E, acima de tudo, não conhece o poder que tem, na (des)motivação da equipa, como ficou à vista num sábado delirante, antes de um domingo amargo.
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