Dirigentes do Benfica, como Rui Gomes da Silva, dizem que Luís Filipe Vieira ficou isolado na decisão de reduzir o salário a Jorge Jesus. Também há dois anos, quando todos, um-por-um, na administração da SAD, pediam a cabeça do treinador, por ter perdido quase tudo ao minuto 92 (ou perto dele), o presidente do Benfica fez finca-pé e decidiu manter o treinador no seu posto, com o contrato atual, de quatro milhões de euros anuais. Uma loucura, disseram alguns; um ato de boa gestão, defenderam outros.
O que se passou a seguir deu razão a Luís Filipe Vieira: o Benfica ganhou três provas em 2013/14 e mais três em 2014/15. A sua decisão de manter Jesus contra a vontade da administração foi visionária, uma atitude de grande coragem, premiada com bons resultados. Mas paga a peso de ouro!
O que se está a passar agora e pode resultar na saída de Jorge Jesus é um contrasenso: que livro de gestão andou Vieira a ler para decidir cortar nos salários de quem ganha? Ou o presidente do Benfica quis pagar adiantado e só agora passou a fatura de 2013 ao treinador?
Seja qual for o manual de gestão que Vieira andou a ler (ou a escrever!), certo é que esta pretensão de reduzir o salário do treinador implica uma jogada muito perigosa.
É notório que o atual treinador do Benfica, apesar da propaganda nacional, não tem o mercado internacional de que se ouve falar (se assim fosse já estaria de contrato assinado com o Milan ou o Real Madrid!!!!) – terá uns Besiktas desta vida que Jorge Mendes facilmente lhe poderia arranjar -, mas internamente não faltaria quem lhe desejasse deitar a mão. O Sporting? Por que não?
Tenha Luís Filipe Vieira o plano que tiver, as obrigações que forem necessárias satisfazer face aos financiadores/credores, não é crível que não consiga encontrar uma engenharia contabilística onde Jesus possa ficar a ganhar o mesmo, segundo alíneas diferentes: tanto para vencimento-base, x para prémios por objetivos, etc., etc., etc…
Agora, existe um cenário pouco batido: e se Vieira entender que o ciclo de Jesus chegou ao fim, independentemente dos valores contratuais? E se o presidente do Benfica chegou à conclusão de que só poderá ganhar uma competição internacional com outro treinador, que não diga “ipsis verbis” que “o que interessa é o campeonato”, quando o Benfica joga a Liga dos Campeões por cuja qualificação tanto sua? E se o líder pensa que não é um assalariado a decidir que a formação não interessa para nada e que os juniores têm de nascer dez vezes para poderem passar à frente dos jogadores estrangeiros contratados depois de longas noitadas a ver os estaduais brasileiros?
Se for isto, percebe-se o finca-pé do presidente. Mas também se sabe que, se Jesus for reforçar um concorrente interno e ganhar o campeonato, não há máquina de comunicação que possa salvar o presidente em próximas eleições.