Capacidade foi o que faltou a Portugal
Capacidade. Quem ficou a ver os Sub-20 de Portugal até às tantas da manhã percebeu que o selecionador Hélio Sousa tinha uma preocupação na hora do desempate por penáltis: os jogadores precisavam perceber se estavam ou não capacitados para assumir a responsabilidade da marcação. “CA-PA-CI-DA-DE”, repetiu Hélio.
Vistos os penáltis, percebeu-se que poucos jogadores dos que foram marcar estavam preparados para o fazer. E essa é que é a questão: quem deve marcar os penáltis? Os jogadores que se chegam à frente na hora da verdade? Os que o treinador entende estarem mais aptos?
Para quem está de fora, o que parece é que os penáltis são muito bem preparados do ponto de vista do guarda-redes (estudiosos dos adversários, conhecedores das rotinas dos marcadores), mas que estão à mercê do livre-arbítrio de quem se acha capaz de os marcar. Não basta dizer ao treinador: “Vou eu!” Para quê? Para mandar a bola para as couves?
Exige-se aos treinadores que trabalhem mais os penáltis; e aos jogadores que os treinem muito. Custará assim tanto escolher um lado e rematar para cima? Se os guarda-redes, invariavelmente, mergulham para um dos lados, por que não começar por treinar o remate para cima? É um princípio…
Para que mais madrugadas não sejam perdidas.
Adrien está a ver a vida a andar para trás
Marco Silva utilizou no Sporting o 4x4x2 como sistema alternativo em situações muito especiais: normalmente, João Mário era sacrificado para dar lugar a Montero, ficando a zona central do meio-campo entregue a William e Adrien, enquanto o avançado colombiano ia apoiar Slimani.
Com a chegada de Jorge Jesus (JJ) a Alvalade anunciam-se duas mudanças fundamentais: o 4x4x2 passa de acessório a fundamental e, com isso, o nome do “sacrificado” pode mudar. Na verdade, o novo treinador dos leões está decidido a confiar a João Mário um papel importante, por ver nele um repertório técnico-tático extremamente evoluído: qualidade de passe, critério na definição do jogo, chegada eficaz a zonas de finalização e compromisso elevado com as tarefas defensivas – que terá de apurar ainda mais.
William Carvalho continuará 6, mas obrigatoriamente com um raio de ação mais alargado.
No ataque, JJ não dispensa a utilização de dois avançados.
Perante as alterações que se anunciam, as aspirações de Adrien em continuar titular podem complicar-se, porque o lógico é Montero vir a ser um dos grandes beneficiados com a chegada do novo treinador.
Benfica – aquela máquina!
Agora que a poeira na Segunda Circular está a assentar (estará?) vale a pena fazer uma reflexão sobre a grande máquina de comunicação do Benfica.
Há 48 horas, Luís Filipe Vieira era diabolizado em qualquer recanto onde houvesse benfiquistas, por ter persistido no original modo de gestão de penalizar quem gera resultados e assim ter propiciado a fuga de Jorge Jesus para o Sporting. À sua moda, o presidente do Benfica exerceu o poder (não confundir com autoridade) e não quis saber de mais opiniões. Quem defendia a continuidade – a esmagadora maioria – de Jesus não poupou Vieira.
O que se passou a seguir foi o virar da mesa. O diretor de comunicação do Benfica encadeou uma rajada de “tweets” e quem já sabia sobre o que pensar mudou o “como pensar”. A “ingratidão” de Jorge Jesus passou para primeiro tópico da agenda – tanto assim que na quinta-feira à noite um dos assuntos do momento no twitter era “Judas”, a designação aplicada ao treinador em trânsito para Alvalade.
De gestor teimoso, Vieira passou a presidente amargurado, vítima de um treinador mal-agradecido.
Já o Sporting não conseguiu conjugar a fiabilidade da gestão (contratação concretizada do treinador bicampeão) com a eficácia da comunicação, porque a maioria dos adeptos não concorda com a contratação de Jorge Jesus (já para não falar da forma como Marco Silva foi despedido, altamente censurada – mas isso é incomunicável, não se faz).
O caso Jesus pode ser o princípio do fim de Luís Filipe Vieira
Dirigentes do Benfica, como Rui Gomes da Silva, dizem que Luís Filipe Vieira ficou isolado na decisão de reduzir o salário a Jorge Jesus. Também há dois anos, quando todos, um-por-um, na administração da SAD, pediam a cabeça do treinador, por ter perdido quase tudo ao minuto 92 (ou perto dele), o presidente do Benfica fez finca-pé e decidiu manter o treinador no seu posto, com o contrato atual, de quatro milhões de euros anuais. Uma loucura, disseram alguns; um ato de boa gestão, defenderam outros.
O que se passou a seguir deu razão a Luís Filipe Vieira: o Benfica ganhou três provas em 2013/14 e mais três em 2014/15. A sua decisão de manter Jesus contra a vontade da administração foi visionária, uma atitude de grande coragem, premiada com bons resultados. Mas paga a peso de ouro!
O que se está a passar agora e pode resultar na saída de Jorge Jesus é um contrasenso: que livro de gestão andou Vieira a ler para decidir cortar nos salários de quem ganha? Ou o presidente do Benfica quis pagar adiantado e só agora passou a fatura de 2013 ao treinador?
Seja qual for o manual de gestão que Vieira andou a ler (ou a escrever!), certo é que esta pretensão de reduzir o salário do treinador implica uma jogada muito perigosa.
É notório que o atual treinador do Benfica, apesar da propaganda nacional, não tem o mercado internacional de que se ouve falar (se assim fosse já estaria de contrato assinado com o Milan ou o Real Madrid!!!!) – terá uns Besiktas desta vida que Jorge Mendes facilmente lhe poderia arranjar -, mas internamente não faltaria quem lhe desejasse deitar a mão. O Sporting? Por que não?
Tenha Luís Filipe Vieira o plano que tiver, as obrigações que forem necessárias satisfazer face aos financiadores/credores, não é crível que não consiga encontrar uma engenharia contabilística onde Jesus possa ficar a ganhar o mesmo, segundo alíneas diferentes: tanto para vencimento-base, x para prémios por objetivos, etc., etc., etc…
Agora, existe um cenário pouco batido: e se Vieira entender que o ciclo de Jesus chegou ao fim, independentemente dos valores contratuais? E se o presidente do Benfica chegou à conclusão de que só poderá ganhar uma competição internacional com outro treinador, que não diga “ipsis verbis” que “o que interessa é o campeonato”, quando o Benfica joga a Liga dos Campeões por cuja qualificação tanto sua? E se o líder pensa que não é um assalariado a decidir que a formação não interessa para nada e que os juniores têm de nascer dez vezes para poderem passar à frente dos jogadores estrangeiros contratados depois de longas noitadas a ver os estaduais brasileiros?
Se for isto, percebe-se o finca-pé do presidente. Mas também se sabe que, se Jesus for reforçar um concorrente interno e ganhar o campeonato, não há máquina de comunicação que possa salvar o presidente em próximas eleições.
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