Confia no jornal que lê?

25/09/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

Acha que aquilo que lê todos os dias nos jornais reflecte correctamente o que se está a passar na economia? Tenho boas e más notícias para si. Primeiro as boas. O optimismo ou pessimismo dos textos jornalísticos sobre a evolução da economia segue a evolução dos indicadores macroeconómicos e isso não depende do partido que está no poder. As más notícias? O número de artigos que os jornais produzem sobre a economia parece flutuar conforme o seu alinhamento ideológico. Se são próximos do governo, haverá mais espaço para notícias positivas; se estão mais afastados, as notícias negativas têm mais destaque.

 

 

Redacção

A atenção que os jornais dedicam aos temas depende do seu alinhamento ideológico. Crédito: Krisztian Bocsi/Bloomberg

 

Estas conclusões fazem parte de um estudo de Mark Andreas Kayser e Michael Peress intitulado “Os Media, a Economia e o Voto”, publicado este mês. No paper, os autores procuram esclarecer três pontos: se o que se está a passar na economia se reflecte correctamente na cobertura jornalística; se a forma como os dados são reportados muda conforme o partido que está no poder; e se essa cobertura influencia o sentido de voto dos eleitores.

 

O tema não podia ser mais actual em Portugal, onde vivemos uma campanha eleitoral quente, muito centrada na evolução de indicadores económicos e financeiros. Ainda esta quarta-feira passámos o dia a debater se a frase do primeiro-ministro sobre o impacto do Novo Banco no défice ser “meramente estatístico” era verdadeira (spoiler alert: não é).

 

A base de dados do estudo é muito grande. Parte da análise em larga escala de mais de dois milhões de artigos jornalísticos em 32 jornais de 16 países, recuando, em alguns casos, até 1977. Portugal está representado pelo Jornal de Notícias (1997-2013) e pelo Correio da Manhã (2012-2013). Os indicadores económicos usados são o PIB, o desemprego e a inflação.

 

As conclusões são heterogéneas. Por um lado, os jornais parecem transmitir aos leitores um sentimento que acompanha a evolução dos indicadores macroeconómicos.Isto é, a utilização de expressões mais positivas ou negativas nos textos é consistente com um crescimento melhor ou pior, por exemplo. Isso não significa que as notícias sigam totalmente a variação desses indicadores, mas estes resultados mostram que a evolução dos dados económicos (principalmente os de mais longo-prazo) conduz a cobertura mediática.

 

Outra conclusão positiva é que a forma como os media noticiam temas económicos em nada parece ser influenciado pelo alinhamento do jornal à esquerda ou à direita. Isto é, o tom dos artigos é semelhante, independentemente do partido que está no Governo. “Os resultados são impressionantes: o partidarismo não tem qualquer efeito no sentimento dos media”, escrevem os autores do estudo. “O tom da cobertura num jornal não muda quando o partido que está no poder é substituído por outro com uma orientação ideológica diferente. As notícias que os jornais escrevem sobre economia apresentam a mesma proporção de histórias positivas, independentemente da ideologia do partido que governe.”

 

Por outro lado, se o tom das notícias não é influenciado pelo alinhamento ideológico do jornal, a atenção dos media aos temas parece flutuar conforme a cor do Governo. Os jornais escrevem mais notícias sobre a economia quando as coisas estão a correr bem e o governo com quem estão mais “alinhados” está no poder; e escrevem ainda mais notícias quando as coisas estão a correr mal e está no governo um partido de quem estão mais afastados ideologicamente. Ainda assim, isto não se verifica com todos os indicadores. O estudo conclui que não há parcialidade na cobertura do crescimento do PIB e da inflação, mas que ela existe no desemprego.

 

 

Então e o tipo de cobertura mediática influencia ou não o sentido de voto dos eleitores? De uma forma simplificada, as pessoas tendem a penalizar os partidos que estão no governo com base em notícias de crescimento baixo do PIB, enquanto o desemprego lhes chega de forma mais directa. Nas palavras dos autores, “o efeito do crescimento económico no voto é totalmente mediado pela cobertura [dos media], enquanto, em contraste, a inflação e o desemprego influenciam directamente o voto”.

 

Outras conclusões avulsas:

 

– Independentemente do partido, os jornais tendem a dar mais atenção ao PIB, desemprego e inflação quando estes indicadores estão a evoluir de forma débil. Além disso, a cobertura varia mais conforme o nível desse indicador do que com as últimas mudanças observadas. Uma conclusão diferente daquela que se tira na análise ao tom das notícias.

 

– Os eleitores são mais influenciados por períodos longos de crescimento baixo (ou recessão) e por níveis relativamente recentes de desemprego e inflação. Segundo os autores, isso pode ser explicado porque os eleitores são informados sobre o PIB pelos media e sentem o desemprego e a inflação directamente nas suas vidas.

 

Fed e BCE em divergência: veja as diferenças

17/09/2015
Colocado por: Rui Peres Jorge

Enquanto o BCE admite continuar a comprar dívida pública para lá de 2016 reagindo à fragilidade da recuperação, nos EUA a Reserva Federal pondera voltar a subir juros, quase 10 anos depois do último aumento, e um ano após ter terminado o seu programa de compra de dívida. A divergência entre os dois lados do Atlântico reflecte realidades muito distintas no balanço dos bancos centrais (o reflexo de abordagens diferentes à crise) e no desempenho económico dos dois blocos. Veja as diferenças em oito gráficos que resumem os dilemas da Fed e os desafios do BCE.

 

1. Fed mais agressiva na resposta à crise

 

Juros Fed e BCE

Fonte: FRED e BCE

 

Entre Agosto de 2007 e Dezembro de 2008 a Reserva Federal baixou a taxa de juro central de 5,25% para 0%, mantendo-a nesse valor desde então. Já o BCE cortou menos na taxa de juro, chegou a subi-loas em 2011, e só atingiu o “0” já no final de 2014. Foi também nessa altura que se preparou para iniciar o seu programa de compra de dívida pública (operação conhecida por “quantitative easing”) – algo que a Fed tinha iniciado logo em 2008 e manteve até 2014.

 

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Reacção dos economistas: PIB cresce com ajuda da procura interna

02/09/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

O INE confirmou o crescimento do PIB de 1,5% no segundo trimestre de 2015, puxado pelo consumo das famílias e pelo investimento, embora, no caso do segundo, bastante influenciado pelo reforço dos stocks. O NECEP aponta que a formação bruta de capital fixo contraiu face ao trimestre anterior, enquanto a o BPI sublinha a resiliência das exportações, mesmo com quedas pronunciadas das vendas a Angola.

 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

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PIB repete o crescimento do primeiro trimestre

18/08/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

 

A economia portuguesa voltou a crescer 1,5% no segundo trimestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os economistas vêem boas notícias nesta variação homóloga (impulsionada pelo investimento), mas alertam para os sinais mais negativos, relacionados com o avanço das importações e com o peso dos stocks neste resultado.

 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

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Os combustíveis e a ajuda às exportações

10/08/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

As exportações portuguesas estão a crescer 5,7% nos primeiros seis meses do ano, um ritmo mais rápido que as importações (4,1%). O Departamento de Estudos do Montepio destaca o impacto substancial da procura espanhola, bem como a evolução da venda de combustíveis. Filipe Garcia, do IMF, também vê o resultado como positivo, mas alerta para a excessiva dependência dos combustíveis.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

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