O produto interno bruto (PIB) português cresceu 0,9% em 2014. Embora muito se fale do papel das exportações, a procura externa líquida deu um contributo negativo para esse resultado. Por outro lado, a procura interna – principalmente por via do consumo privado – deu uma ajuda ao crescimento do PIB. A primeira vez que isso acontece desde 2010.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Paula Carvalho – economista-chefe do BPI
- A economia portuguesa voltou a crescer, em termos médios anuais, em 2014, registando uma evolução em termos agregados em linha com o esperado pelo BPI, +0.9%. Todavia, há que destacar alguns factores. Por um lado,o abrandamento da Formação bruta de capital fixo no 4º trimestre. Esta tendência, conjugada com o significativo contributo da formação de stocks para o crescimento anual em 2014, poderá justificar uma evolução menos positiva da rúbrica de Investimento como um todo em 2015, o que será possivelmente notório já nos primeiros três meses do ano.
- Neste contexto, será importante confirmar odesagravamento do Investimento em construção (cujo ritmo de queda tem vindo sucessivamente a abrandar) e o reforço do investimento em maquinaria e equipamento. Pela positiva destacaria o comportamento das exportações, que aumentaram 5.1% em termos homólogos no 4º trimestre, mais um sinal do bom comportamento do sector transaccionável. O aumento das importações surpreende também em alta, reflectindo sobretudo a normalização da procura interna. Antecipamos que esta tendência se esbata em 2015.
- Em resumo,as perspectivas para 2015 são favoráveis, dado que a economia evoluirá suportada pela envolvente financeira favorável (taxas de juro muito baixas), desvalorização do câmbio bem como impulsionada pela queda dos preços do petróleo. Apenas alguns factores de incerteza – relacionados com a situação na Ucrânia e as questões que envolvem a Grécia – impedem uma revisão em alta do nosso cenário, que se mantém em +1.5%.
Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
- No 4º trimestre de 2014, a economia portuguesa cresceu 0.5% face ao trimestre anterior, evoluindo bastante acima da sua dinâmica recente com uma aceleração de 0.2 pontos percentuais face ao trimestre anterior. Em termos anualizados o crescimento trimestral foi de 2.1%, o que é compatível com as perspectivas do NECEP para a evolução da economia portuguesa em 2015 (previsão de crescimento com um ponto central de 1.9%). O crescimento homólogo no 4º trimestre foi de 0.7% embora inferior ao registo do terceiro trimestre (1.1%) devido a um 4º trimestre de 2013 anormalmente bom. A economia portuguesa recuperou 2.2% face ao mínimo observado no 4º trimestre de 2012. Recorde-se que a perda de produção entre meados de 2010 e o final de 2012 foi de 7.3%, o que ilustraa lentidão a que está a ocorrer a recuperação da economia.
- O resultado mais promissor está associado às exportaçõesque cresceram 3.3% em cadeia (5.1% em termos homólogos) e evoluíram bastante acima da sua dinâmica, com assinaláveis acelerações de 2.6 e 2.1 pontos percentuais em cadeia e em termos homólogos, respectivamente.
- O consumo privado também não parece ter-se ressentido da reposição parcial de cortes nos vencimentos dos funcionários públicos ocorrida no último trimestre, com uma evolução acima da sua dinâmica e com crescimento em cadeia positivo, especialmente na componente de bens duradouros (+0.7%). A ligeira quebra do investimento (FBCF) não se afigura comprometedora, relembrando que este agregado tinha crescido 2.5% em cadeia no 3º trimestre (e 2.0% no segundo). A leitura da conjuntura continua a ser dificultada por efeitos de deflatores que permanecem negativos na maioria das componentes da despesa.
- O crescimento do PIB em 2014 foi de 0.9%, interrompendo uma série de três anos com variações negativas do produto. O crescimento da Formação Bruta de Capital (FCB) de 5.2% interrompe, também, uma séria de três anos com variações negativas, embora o investimento (FBCF) tenha crescido bem menos (2.3%) por via deum forte contributo da variação de existências. As exportações cresceram também a um bom ritmo, de 3.4%, e a balança de bens e serviços manteve-se positiva pelo segundo ano consecutivo, fixando-se em 0.7% do PIB em termos nominais.
Filipe Garcia – IMF
- Trata-se da confirmação dos dados já divulgados no dia 13 deste mês. Portugal fecha 2014 a crescer 0.9%, tendo sido um ano em que as taxas de crescimento homólogas trimestrais foram sempre muito próximas. Isso significa que a economia portuguesa, apesar de estar a crescer “pouco”, está aevoluir de forma consistente e dentro do padrão que se regista no resto daUE.
- O crescimento em cadeia saiu um pouco acima do esperado, com adesaceleração do consumo privado. Já esperávamos que, após uma normalização, o consumo privado tivesse dificuldades em acelerar dada a estabilização do rendimento disponível. Essa poderá ser uma das surpresas positivas em 2015. Deve notar-se que, desde o início de 2013, apenas se registou um trimestre em que o crescimento em cadeia foi negativo (1ºT 2014), o que é um sinal positivo.
- Para 2015 as perspectivas são positivas, sempre dependendo do contexto externo. O consumo privado poderá surpreender em alta, respondendo ao aumento do rendimento disponível que a queda dos preços dos combustíveis proporciona.Se as medidas do BCE resultarem num aumento de crédito concedido por parte dos bancos – e há alguns sinais nesse sentido – a procura interna poderá responder de forma positiva e ainda há que ter em conta a possibilidade de medidas expansionistas em ano eleitoral. O risco está nas exportações – Portugal está sempre muito dependente da dinâmica económica dos seus clientes.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
- A estimativa final do INE para o PIB no 4ºT2014 apontou para uma subida de 0.5% (+0.3% no 3ºT2014), confirmando o valor avançado na estimativa inicial, o qual, recorde-se, tinha ficado acima das nossas perspectivas (Montepio: +0.4%) e sobretudo da mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.3%), uma diferença que, como então tínhamos referido, ficou a dever-se sobretudo aocomportamento das exportações líquidas, que tiveram um contributo ligeiramente mais positivo do que o por nós estimadoantes de ser conhecida a 1ª estimativa do PIB. Na óptica da procura, confirmaram-se, no essencial, as indicações que tínhamos avançado aquando da estimativa inicial, com a economia a ser impulsionada pelas exportações líquidas, que apresentou um contributo positivo de 0.9 p.p., sensivelmente revertendo o contributo negativo do trimestre anterior (-1.0 p.p. no 3ºT2014), com este resultado a reflectir um acréscimo das exportações bastante superior ao das importações (+3.3% vs +1.0%, respectivamente). Já a procura interna teve um contributo negativo para o crescimento em cadeia do PIB (-0.4 p.p. vs +1.2 p.p. no 3ºT2014), com este resultado a ficar a dever-se ao investimento, que caiu mais intensamente, reflectindo essencialmente o forte contributo negativo da variação de existências (-0.5 p.p. vs +0.1 p.p. no trimestres anterior), já que o investimento em capital fixo (FBCF) também caiu, mas apenas marginalmente, acabando por revelar um contributo nulo (com uma casa decimal) para o crescimento do PIB. O consumo público apresentou igualmente um contributo nulo, ao passo que o consumo privado teve um contributo ligeiramente positivo (+0.1 p.p.).
- Na óptica da procura, confirmaram-se, no essencial, as indicações que tínhamos avançado aquando da estimativa inicial, com a economia a ser impulsionada pelas exportações líquidas, que apresentou um contributo positivo de 0.9 p.p., sensivelmente revertendo o contributo negativo do trimestre anterior (-1.0 p.p. no 3ºT2014), com este resultado a reflectir um acréscimo das exportações bastante superior ao das importações (+3.3% vs +1.0%, respectivamente). Já a procura interna teve um contributo negativo para o crescimento em cadeia do PIB (-0.4 p.p. vs +1.2 p.p. no 3ºT2014), contrariando as nossas expectativas iniciais de um marginal contributo positivo, com este resultado a ficar a dever-se ao investimento, que caiu mais intensamente, reflectindo essencialmente o forte contributo negativo da variação de existências (-0.5 p.p. vs +0.1 p.p. no trimestres anterior), já queo investimento em capital fixo (FBCF) também caiu, mas apenas marginalmente, acabando por revelar um contributo nulo (com uma casa decimal) para o crescimento do PIB. O consumo público apresentou igualmente um contributo nulo, ao passo que o consumo privado teve um contributo ligeiramente positivo (+0.1 p.p.).
- Em 2014,a economia registou um crescimento anual de 0.9%, após 3 anos em contracção: -1.8% em 2011, -3.3% em 2012 e -1.4% em 2013, tendo agora a economia recuperado do nível mais baixo desde o ano 2000, sendo que entre o máximo histórico de 2008 e 2013 a economia caiu um total acumulado de 7.4%, encontrando-se em 2014 ainda 6.6% abaixo dos níveis de 2008. Em 2010 a economia tinha crescido 1.9%, não recuperando então da queda de 3.0% registada em 2009 em plena Grande Recessão internacional. O crescimento de 2014 resultou da recuperação da procura interna, tendo as exportações líquidas apresentado um contributo negativo, devido a um crescimento das exportações inferior ao das importações. Durante a crise em Portugal os empresários foram forçados a encontrar novos mercados para colocar os produtos, o que permitiu ganhos de quota de mercado no comércio internacional. As exportações de bens e serviços em termos reais abrandaram em 2014, podendo não ter superado o crescimento mundial das exportações, mas as exportações portuguesas foram sendo prejudicadas por diversos factores temporários já referidos anteriormente:i) encerramento da refinaria de Sines da Galp durante grande parte do 1ºT2014; ii) paragens na Auto-Europa devido à fraca procura no mercado automóvel europeu. Já as importações, para além de terem acompanhado o crescimento das exportações e o regresso ao crescimento do consumo privado e da formação bruta de capital fixo, terão sido empoladas por uma anormal acumulação de stocks no início de 2014 (com efeitos positivos para 2015, ou seja, uma menor necessidade de importações).
- Aquando da divulgação da estimativa inicial do PIB para o 4ºT2014, revimos em alta a nossa previsão para o crescimento anual em 2015, de 1.5% para 1.6%. Veja-se que o facto de actividade registar no 4ºT2014 um nível acima da média de 2014 irá induzir desde logo um crescimento em 2015 de 0.6% (carry-over). Os restantes 1.0 p.p. serão provenientes dos crescimentos ao longo de 2015. Refira-se que para o 1ºT2015 apontamos para um crescimento entre 0.3% e 0.5%, ou seja, em linha com a média do 2º semestre de 2014, esperando-se que, no resto do ano, a economia registe crescimentos em cadeia, em média, também na ordem dos 0.4%. O impacto da descida do petróleo e das novas medidas do BCE colocam riscos ascendentes à previsão. Acresce a possibilidade de a economia espanhola poder continuar a crescer acima do estimado, algo relevante atendendo ao elevado peso que ainda tem nas trocas comerciais com o nosso país(não obstante o esforço de diversificação, as exportações ainda estão muito direccionadas para os nossos parceiros europeus, nomeadamente para Espanha – representam actualmente ainda cerca de 24% do total das exportações de bens portuguesas). Os riscos descendentes têm uma origem, quer externa – relacionados com a incerteza geopolítica no Médio Oriente e no Leste da Europa –, quer interna – devido aos efeitos da crise do Grupo Espírito Santo (GES) sobre as decisões dos agentes. Em todo o caso, admite-se que a actividade na Zona Euro possa continuar a acelerar (suportando as exportações) e que os efeitos mais intensos sobre a confiança e as decisões dos agentes económicos da instabilidade no GES já se possam ter sentido.