PIB repete o crescimento do primeiro trimestre

18/08/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

 

A economia portuguesa voltou a crescer 1,5% no segundo trimestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os economistas vêem boas notícias nesta variação homóloga (impulsionada pelo investimento), mas alertam para os sinais mais negativos, relacionados com o avanço das importações e com o peso dos stocks neste resultado.

 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

 

Teresa Gil Pinheiro – BPI

 

1 – A publicação da estimativa rápida para o crescimento do PIB no 2T15 ficou abaixo da nossa previsão que apontava para um aumento de 0.5% em cadeia e de 1.6% em termos homólogos. De acordo com a nota do INE este comportamento reflecte o contributo negativo da procura externa em virtude da aceleração das importações, o que estará relacionado com a aceleração do investimento e também do consumo privado (ainda que em menor grau).

 

2 – A publicação do desempenho das diversas componentes do PIB será importante para uma avaliação mais correcta dos factores de suporte ao crescimento, contudo o resumo do INE sugere que o aumento das importações estará associado à aceleração do investimento, o que a confirmar-se será um factor positivo para a sustentabilidade do crescimento económico no médio/longo prazo, sobretudo se se confirmar a tendência observada nos trimestres anteriores de aumento do investimento em bens produtivos. De facto, a aceleração do investimento é importante na medida em que confirma uma melhoria da confiança dos agentes económicos e perspectivas positivas para a produção, tendendo a revelar-se um factor de crescimento do rendimento e do emprego no médio/longo prazo.

 

3 – No curto prazo a aceleração das importações poderá reduzir a amplitude de crescimento do PIB (a nossa previsão para o crescimento anual em 2015 é de 1.8%, mas a confirmação de maior crescimento das importações poderá implicar a sua revisão em baixa), no entanto se se confirmar que o aumento das importações se relaciona em grande parte com a aceleração do investimento é um factor importante de suporte ao crescimento no médio/longo prazo.

 

Filipe Garcia – IMF

 

1 – O crescimento em cadeia de 0.4% volta a expor a estabilidade do comportamento da economia portuguesa. Nos últimos 3 trimestres, o crescimento em cadeia foi sempre de 0.4% e desde o 2º trimestre de 2014 entre 0.2% e 0.5%. Ou seja, a economia portuguesa, apesar de estar a crescer “pouco”, está a evoluir de forma consistente e estável. Deve notar-se que, desde o início de 2013, apenas se registou um trimestre em que o crescimento em cadeia foi negativo (1ºT 2014), o que é um sinal positivo. O consumo privado terá voltado a crescer, sinal da melhoria da confiança das famílias e da sua condição financeira. A subida no investimento poderá ser um bom sinal, mas teremos de avaliar o peso da variação de existências e o motivo da sua evolução.

 

2 – Em todo o caso, continua patente um desequilíbrio estrutural da economia portuguesa: sempre que o consumo privado ou o investimento aceleram, o mesmo acontece com as importações, tornando a balança comercial deficitária. Isto acontece mesmo num contexto em que sabemos as exportações estarem a comportar-se de forma historicamente positiva, apesar de Angola, pelo que a raiz do problema está na forma como se materializa uma parte importante da procura interna.

 

3 – Para 2015 as perspectivas continuam positivas apontando-se para um crescimento perto de 1.5%, sempre dependendo do contexto externo. As medidas do BCE estão a resultar num aumento do crédito concedido por parte dos bancos às famílias, pelo que a procura interna poderá continuar a responder favoravelmente.

 

Núcleo de Estudos sobre a Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1 – O crescimento trimestral de 0.4% do PIB é uma notícia positiva e que confirma a recuperação gradual da economia portuguesa, agora já  com dois anos, desde o 2º trimestre de 2013. A economia recuperou 2.8% desde essa altura mas a quebra acumulada neste ciclo recessivo entre o 1º trimestre de 2010 e o 1º trimestre de 2013 foi de 8.1%, o que significa que há ainda um longo caminho a percorrer até se atingirem os níveis do PIB de 2010. Em termos homólogos o crescimento do 2º trimestre de 2015 foi de 1.5%. O primeiro semestre teve um crescimento homólogo idêntico.

 

2 – Ainda assim a economia portuguesa está a crescer a um ritmo um pouco superior ao da zona euro (0.3% em cadeia e 1.2% em termos homólogos), embora aquém do comportamento da economia espanhola (1.0% e 3.1%). O nosso crescimento é semelhante ao da Alemanha (0.4% em cadeia e 1.6% homólogo). Curiosamente a Grácia teve um crescimento muito positivo no 2º trimestre (0.8% em cadeia e 1.4% homólogo), embora estes dados sejam anteriores à fase mais aguda da crise bancária e financeira de Julho.

 

3 – O destaque do INE refere a aceleração do investimento no 2º trimestre o que a ser um resultado consolidado suportaria a possibilidade da aceleração do crescimento do produto durante o resto do ano. O comportamento do investimento, aliás, continua a ser a principal dúvida sobre a qualidade e intensidade da recuperação económica em curso. Este conjunto de dados torna exigente mas não impossível um crescimento anual em 2015 na casa dos 2%.

 

Rui Bernardes Serra – economista-chefe do Montepio

 

1 – A estimativa preliminar do INE para o PIB no 2.º trimestre apontou para uma subida de 0.4%  (igualmente de +0.4% no 4.º trimestre de 2014 e no 1.º trimestre), um resultado que ficou muito perto das nossas perspectivas (o PIB terá que ter crescido pelo menos 0.44% para assegurar um crescimento homólogo de 1.5%, enquanto o nosso valor pontual era de 0.45%) e ligeiramente aquém da mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.5%). Na óptica da procura, estimava-se que as exportações líquidas tivessem tido um contributo marginalmente positivo, mas o INE referiu que este terá sido negativo, admitindo-se que tenha estado associado nomeadamente à subida das importações para acumulação de existências. Assim, o crescimento do PIB em cadeia terá reflectido apenas o contributo positivo da procura interna, a qual, segundo as nossas estimativas, terá sido suportada por um ligeiro crescimento do consumo privado, mas sobretudo pelo investimento em capital fixo (FBCF) e pelo investimento em existências.

 

 

2 – A estimativa preliminar do INE para o PIB de Portugal no 2.º trimestre apontou para uma subida de 0.4% (igualmente de +0.4% no 4.º trimestre de 2014 e no 1.º trimestre), um resultado que ficou muito perto das nossas perspectivas (o PIB terá que ter crescido pelo menos 0.44% para assegurar um crescimento homólogo de 1.5%, enquanto o nosso valor pontual era de 0.45%) e da mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.5%).

 

 

3 – Na óptica da procura, estimava-se que as exportações líquidas tivessem tido um contributo marginalmente positivo, mas o INE referiu que este terá sido negativo, admitindo-se que tenha estado associado nomeadamente à subida das importações para acumulação de existências. Assim, o crescimento do PIB em cadeia terá reflectido apenas o contributo positivo da procura interna, a qual, segundo as nossas estimativas, terá sido suportada por um ligeiro crescimento do consumo privado, mas sobretudo pelo investimento em capital fixo (FBCF) e pelo investimento em existências.

 

 

4 – Na óptica da oferta, admite-se que a economia tenha sido suportada pela generalidade dos principais sectores, com destaque para a indústria, que terá registado o maior acréscimo do VAB, com o importante sector dos serviços a dever também registar um acréscimo e sensivelmente ao mesmo ritmo do trimestre anterior e com a construção a dever ser o único dos grandes sectores a observar uma queda na actividade, em grande medida em resultado de uma correcção face ao forte acréscimo do trimestre anterior. Para o total do ano de 2015, perspectiva-se uma aceleração da actividade económica, com o crescimento previsto para o PIB a manter-se em 1.7%. A nossa previsão de crescimento para 2015 encontra-se rodeada de riscos tanto ascendentes, como descendentes.

 

 

5 – O impacto da descida do petróleo e das novas medidas do BCE colocam riscos ascendentes à previsão. Acresce a possibilidade de a economia espanhola poder continuar a crescer acima do estimado, algo relevante atendendo ao elevado peso que ainda tem nas trocas comerciais com o nosso país (não obstante o esforço de diversificação, as exportações ainda estão muito direccionadas para os nossos parceiros europeus, nomeadamente para Espanha – representaram em 2014 cerca de 23.6% do total das exportações de bens portugueses).

 

 

6 – Os riscos descendentes têm uma origem iminentemente externa, relacionados com a incerteza geopolítica no Médio Oriente, no Leste da Europa e em relação à Grécia, enquanto a ainda difícil situação do mercado de trabalho, do sistema financeiro e os objectivos de consolidação adicional das finanças públicas continuam a condicionar a recuperação da procura interna. Não obstante os riscos externos, admite-se que a actividade na Zona Euro possa continuar a acelerar (suportando as exportações) e que, ao nível interno, os maiores receios em torno da situação do sistema financeiro português já se tenham dissipado, a avaliar designadamente pelo comportamento do indicador de sentimento económico (ESI), que se encontra sensivelmente em níveis máximos desde Janeiro de 2008 (atingidos em Abril). O ESI encontra-se em níveis consistentes com subidas em cadeia do PIB de 0.7% no 2.º e 3.º trimestres de 2015 (sugeria +0.6% no 1.º trimestre), admitindo-se que o PIB possa crescer, pelo menos, os 0.4% registados no 4.º trimestre de 2014 e no 1.º trimestre de 2015. De facto, desde o início de 2014 o indicador de sentimento económico tem vindo a sobrestimar o crescimento da economia, em parte porque a política orçamental restritiva continua a ser uma condicionante da actividade económica.

 

 

Nuno Aguiar