O Pai Natal desperdiça muito dinheiro
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Rua de Paris com iluminações de Natal Fonte: Fabrice Dimier/Bloomberg
Até 30% e uma média de 10 mil milhões de euros por ano será o valor financeiro do desperdício, só nos EUA, das prendas oferecidas no Natal. Acreditando em resultados publicados já no inicio dos anos 90, “o Pai Natal desperdiça muito dinheiro”. Como? Através das volumosas perdas que podem resultar das trocas de prendas em época natalícia. Sendo mais preciso, do desperdício resultante de muitos presentes serem pouco valorizados por quem os recebe. E quem já não recebeu (vários) presentes inúteis?
Pedro Rodrigues no 10envolver já referiu o artigo seminal sobre o “peso morto do Natal” (carga excedente, no termo económico) publicado em 1993 por Joel Waldfogel: o economista diz que o facto de muitas prendas não serem valorizadas por quem as recebe ao preço pago por quem as comprou significa que há um desperdício que pode variar entre 10% e 33% do valor gasto em presentes (mais recentemente Waldfogel coloca este desperdício nos 16% ou 10 mil milhões de dólares por ano).
Os resultados têm alimentado debate, artigos em jornais e críticas na comunidade académica. Em Dezembro de 1998 (John List e Jason Shogren também na American Economic Review) analisam resultados conflituantes com os de Waldfogel, para lhe dar razão sobre a existência de um desperdício nas prendas, embora de menor dimensão. E em Março de 2000, também na AER Bradley Ruffle e Orit Tykocinsky dedicam-se às complexas questões metodológicas associadas a estes estudos. Para quem quiser ter a certeza que não contribui para despredicios, o mais simples, pelo menos para as pessoas que não conhece, será oferecer dinheiro. Além disto, estamos também a ler:
2. Krugman explica a Lucas a equivalência ricardiana (The Conscience of a Liberal)
3. E Stephen Williamson explica porque Krugman está errado nas críticas a Lucas (Stephen Williamson)
Quer dinheiro? Vá ao BCE
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Estátua com símbolo de euro em frente ao BCE em Frankfurt Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
Foi isso mesmo que os bancos europeus fizeram esta manhã (e que os governos gostariam muito de fazer). Hoje mais de cinco centrenas de bancos pediram emprestado ao BCE uma quantidade recorde de dinheiro no primeiro de dois empréstimos a três anos: 489 mil milhões de euros, muito acima dos cerca de 300 mil milhões de esperados em média no mercado. “BCE inunda mercado“, escreveu o El País, que antes já havia explicado como estes empréstimos do BCE baixaram os juros de curto prazo na periferia (em Espanha cairam de cerca de 5% para cerca de 2%) e como poderão reduzir o risco de liquidez na banca durante 2012 e 2013. Os economistas do Royal Bank of Scotland enviaram uma nota a clientes explicando a operação: 523 bancos pediram 489 mil milhões de euros, dos quais 61% servirão para refinanciar empréstimos de prazos mais curtos. Sobram 191 mil milhões de liquidez adicional. Para o RBS, a “questão chave” será saber se “esta nova liquidez de cerca de 200 mil milhões de euros será usada para comprar obrigações, emprestar dinheiro à economia ou para amortizar obrigações que chegam à maturidade”. Da análise conclui-se que não esperam muito mais destas operações do que a garantia que não há um desastre bancário por falta de liquidez no sistema. Além disso estamos também a ler:
2) Em Inglaterra há unanimidade no banco central sobre a necessidade de continuar a comprar obrigações (Bloomberg)
3) A estratégia da Fed pode estar a funcionar (Bloomberg)
Já não há consolidações orçamentais expansionistas
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Ou melhor, provavelmente nunca existiu essa proeza da política económica que passa por gerar crescimento económico a partir da aplicação de receitas de forte austeridade orçamental. Muito defendida durante quase duas décadas, a ideia sofreu um forte revés há um ano com críticas do FMI. Recentemente, ao críticos juntou-se um nome de peso: Roberto Perotti, um dos promotores mais destacados das consolidações orçamentais expansionistas. O Negócios entrevistou-o para perceber porquê.
E se o BCE puder dizer asneiras dentro da igreja
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Mário Draghi numa conferência em Frankfurt em novembro. Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
“O BCE, como herdeiro do Bundesbank, considera que a compra de obrigações soberanas pelos bancos centrais é como dizer asneiras na igreja: pura e simplesmente não é feito”. É assim que Willem Buiter, o agora economista-chefe do Citigroup, responde a Tom Keene, sobre porque é que o BCE ainda não actuou. O inspirado início da conversa a meio de Novembro segue depois uma análise da crise europeia e do potencial “default” grego, mas mais ou menos peloa minuto 5″ o economista britânico avança uma proposta de intervenção do BCE no mercado de dívida sem criar pressões inflaccionistas (a entrevista em vídeo foi a 16 de Novembro). Ilian Mihov faz um resumo da proposta de Buiter, que passa essencialmente por usar os lucros do BCE (de senhoriagem) para financiar compras de dívida de países em dificuldades. Neste caso, não haveria impressão de moeda para financiar as compras. Draghi, numa entrevista publicada hoje, quebra o tabu e fala sobre uma desagregação do euro. Mais logo, às 15:30, vai ao Parlamento Europeu. Além disso estamos também a ler:
2. A desalavancagem bancária no panorama europeu e os efeitos da dívida soberana, descrevem Stephen Kinsella e Vincent O'Sullivan (VoxEU.org)
3. Antonio Fatas descreve “um pacto europeu de instabilidade e estagnação” (Antonio Fatas e Ilian Mihov)
Transportes e energia com inflação acima dos 8%
A inflação homóloga caiu para os 4% em Novembro. José Miguel Moreira, do Montepio, explica que são as classes dos transportes (inflação homóloga de 8,2%) e da habitação, electricidade (inflação homóloga de 10,5%) que continuam a puxar pelo aumento de preços. O economista aponta para que a inflação média de 2011 fique pelos 3,5% (valor, aliás, já atingido este mês), em linha com previsões da OCDE, Comissão Europeia e Governo.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.