Transportes e energia com inflação acima dos 8%

14/12/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

A inflação homóloga caiu para os 4% em Novembro. José Miguel Moreira, do Montepio, explica que são as classes dos transportes (inflação homóloga de 8,2%) e da habitação, electricidade (inflação homóloga de 10,5%) que continuam a puxar pelo aumento de preços. O economista aponta para que a inflação média de 2011 fique pelos 3,5% (valor, aliás, já atingido este mês), em linha com previsões da OCDE, Comissão Europeia e Governo.     

   

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A inflação desacelerou de 4.2% para 4.0% em novembro, retomando a tendência descendente iniciada em maio que fora interrompida nos dois meses anteriores, após duas intensas acelerações que haviam colocado a inflação em máximos desde julho de 2010, a última das quais refletindo fundamentalmente o aumento das taxas do IVA sobre a eletricidade e o gás natural. Continuamos a apontar para uma inflação média anual de 3.5% em 2011.

 

2. Em novembro, o índice de preços no consumidor (IPC) registou um crescimento homólogo de 4.0%, desacelerando pela 1ª vez em três meses (+4.2% em outubro), retomando assim a tendência descendente iniciada em maio, após um longo período de quase 2 anos em ascensão. Note-se, no entanto, que esta diminuição da taxa de inflação somente conseguiu reverter cerca de 15% do agravamento observado nos dois meses anteriores, que haviam colocado a inflação em máximos desde julho de 2010, e que no mês de outubro tinham refletido, essencialmente, as alterações das taxas do IVA sobre a eletricidade e o gás natural.

 

3. Em termos mensais, o IPC registou um decréscimo de 0.1%, depois dos fortes acréscimos de 0.8% e 1.1% verificados nos meses de setembro e outubro, respetivamente, o que compara com o crescimento de 0.2% registado no mês homólogo do ano anterior. Esta queda mensal do IPC traduziu sobretudo o efeito das variações das classes dos transportes e dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, cujos preços caíram 0.2%, evidenciando contributos de -0.04 p.p. e -0.03 p.p. para a variação mensal do IPC. É de salientar que a grande maioria das restantes classes apresentou contribuições reduzidas para a variação mensal do índice total.

 

4. A inflação homóloga continuou a ser impulsionada, pela classe dos transportes, que manteve a maior contribuição, não obstante ter observado uma desaceleração do crescimento, de 9.0% para 8.2%, seguida da de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, cuja variação homóloga observou igualmente uma desaceleração, mas bem mais modesta (de +10.7% para +10.5%). As únicas contribuições negativas para a variação homóloga do IPC continuaram a advir das classes do vestuário e calçado e do lazer, recreação e cultura, em ambos os casos inferiores a 0.1 p.p..
 

5. A taxa de variação homóloga do IPC core (que exclui a energia e os bens alimentares não transformados) foi de 2.1%, revelando uma desaceleração superior à verificada no IPC geral (-0.4 p.p. vs -0.2 p.p. no último caso) e mantendo-se num nível bastante inferior à do IPC geral. O diferencial entre a taxa de variação homóloga deste indicador e a do IPC permaneceu negativa pelo 24º mês consecutivo, mantendo-se a evidenciar que as pressões inflacionistas advêm, essencialmente, dos preços da energia. Todavia, a inflação core também não está imune às alterações fiscais que têm vindo a ser efetuadas desde meados de 2010, embora a recente subida do IVA na eletricidade e no gás natural, em outubro, não tivesse afetado esta classe.

 

6. O índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) registou um decréscimo mensal da mesma intensidade (-0.1%), tendo a sua variação homóloga também desacelerado o mesmo que no caso do IPC, mas mantendo-se num nível inferior (passou de +4.0% para +3.8%). O IPCH português apresenta um crescimento homólogo acima do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (+3.0%), o que acontece desde agosto de 2007, tendo-se assistido a uma diminuição dessa diferença, de 1.0 p.p. para 0.8 p.p.. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um caráter largamente temporário, prevendo-se o regresso da inflação para níveis mais modestos, traduzindo uma evolução mais em linha com a dos habituais determinantes macroeconómicos, num contexto de estabilização do preço do petróleo e de crescimentos moderados do preço das importações de bens não energéticos e dos custos salariais.

 

7. Recorde-se que as últimas previsões económicas oficiais para o país, publicadas pela OCDE e pela Comissão Europeia (CE), nos passados dias 28 e 10 de novembro, vieram apontar para uma taxa de inflação de 3.5%, para 2011, um valor idêntico aos previstos pelo Ministério das Finanças e pelo Banco de Portugal, e que se deverão concretizar até final do ano, com o mês de dezembro a dever trazer uma nova ligeira diminuição mensal dos preços no país.

 

8. Para 2012, a OCDE e a CE projetam taxas de inflação um pouco diferentes (+2.6% e +3.0%, respetivamente), mas em ambos os casos abaixo dos 3.1% avançados pelo Governo no OE 2012 e representando um abrandamento da inflação, que traduzirá uma desaceleração tanto da componente não-energética, como da energética. Esta evolução reflete, por um lado, a dissipação de efeitos de base decorrentes do aumento da taxa normal do IVA no início de 2011 e, por outro, o abrandamento dos preços de importação de bens não-energéticos, sendo que o crescimento dos custos salariais deverá ser bastante moderado, num contexto de persistente fraqueza da procura interna. Os riscos para a inflação apresentam-se relativamente equilibrados, sendo de destacar, do lado ascendente, o impacto das diversas medidas orçamentais (alteração das tabelas do IVA e o aumento de diversos preços fixados administrativamente, por exemplo), bem como a necessidade de especificação de medidas adicionais, que poderão determinar um aumento dos preços superior ao antecipado, e, do lado descendente, o abrandamento da economia mundial e os consequentes impactos descendentes sobre a procura e os preços internacionais de matérias-primas, que poderão conduzir a um menor crescimento dos preços das importações.

 

Rui Peres Jorge