Um balanço da União Bancária (e a importância do exemplo cipriota)
Klaus Regling, o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo que recapitalizará os bancos numa união bancária e Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo Fonte: EU Council Eurozone_Flickr_CC
Simplificando poder-se-á afirmar que os bancos portugueses caíram pelo risco do seu soberano, e que o soberano irlandês caiu pelo risco dos seus bancos. Este “ciclo diabólico” entre sistema financeiro e as finanças públicas é a razão central para a criação de uma união bancária na UE. Dada a fragilidade de Portugal e da Irlanda um avanço rápido nesta frente é visto como importante para aliviar a pressão dos mercados. Em que ponto está este projecto europeu?
Controlo de capitais em Chipre: uma história de dois euros
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Preços em euro num supermercado cipriota Fonte: Simon Dawson/Bloomberg
Começam a conhecer-se as medidas de controlo de capital em Chipre.
Segundo o Guardian, depósitos a prazo não poderão ser levantados antes
de tempo; cheques podem ser depositados mas não levantados; os
pagamentos para fora de Chipre estão proibidos (com excepções: os
cipriotas podem sair do país com um máximo de 3 mil euros; os pagamentos
de importações são permitidos contra apresentação da “documentação
relevante”; e os cipriotas poderão transferir um máximo de 10 mil euros
por trimestre para filhos que estudem no estrangeiro); além disso, e
entre outras, os pagamentos com cartão de crédito no estrangeiro não
podem ultrapassar os cinco mil euros por mês. As medidas deverão vigorar
durante 7 dias.
O que é que isto significa para a união monetária?
São
impressionantes as análises que se lêem nestes dias sobre este tema.
Não é para menos: é que se o caso cipriota anima o debate geral sobre os
benefícios e malefícios dos controlos de capitais, a sua dimensão única
é estas limitações acontecerem dentro de uma união monetária. Isso é
único significará, em termos substantivos e se se prolongar por mais que
uns dias, que deixou rigorosamente de existir apenas uma moeda na união
monetária europeia, como escreve Tim Duy no seu Fed’s Watch. Guntram B. Wolff, no Bruegel, argumenta na mesma linha: com o controlo de capitais, um euro em Chipre vale menos que um euro em qualquer noutro país da Zona Euro,
um desenvolvimento político “que mina o sistema monetário único” e
“arrisca enviar um sinal fatal aos mercados que poderá muito bem iniciar
futuras corridas aos depósitos noutros locais”. Wolff e Darvas, também
no Bruegel, num post publicado já hoje avisam para cinco riscos
concretos da decisão de controlar capitais, entre elas a violação de
principios básicos do Tratado da União Europeia. Além destes textos
estamos também a ler:
2. Capital controls and the Cypri-outlier.
Uma boa análise de Cardiff Garcia no Alphaville sobre o debate em torno
dos controlos de capitais e a distinção que deve ser feita quando se
aplicam numa união monetária;
Chipre e os três tipos de crises financeiras: liquidez, solvência e estupidez
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Cartoon de Patrick Chappatte Fonte: Acting Man
Os cartoons ajudam a relativizar: aqui fica contributo de Pater
Tenebrarum de onde pedimos emprestado o desenho acima com que abrimos
este “Estamos a ler” dedicado à crise cipriota e que segue com a análise
de Nicolas Véron aos desenvolvimentos da última semana, com enfoque na
proposta inicial que, ao financiamento de 10 mil milhões de euros da UE e
do FMI, juntava uma taxa sobre todos os depósitos, incluindo os de
valor abaixo de 100 mil euros. O autor diz que lhe vem à cabeça uma
frase de um ex-economista chefe do FMI, Mike Musa, que a propósito das
crises asiatáticas do final dos anos 90 terá dito: “há três tipos de
crise financeiras: crises de liquidez, crises de solvência e crises de
estupidez”. Vale a pena ler o texto de Véron pela forma como enquadra as
várias dimensões – política, económica e financeira – da crise
cipriota, na qual se evidenciam os riscos da decisão irreflectida de
taxar depósitos abaixo de 100 mil euros e a forma como as eleições e a
política alemã estão a prejudicar a gestão da crise. Estamos também a
ler:
2. Options for Cyprus.
Zsolt Darvas, no Bruegel, analisa as opções disponíveis para o Chipre à
entrada do fim de semana que, no limite, poderá ditar a saída do país
da Zona Euro. O “Ciprexit” seria pontencialmente desastroso, diz,
defendendo no entanto a posição do BCE de fechar a torneira caso não
exista acordo;
3. Cyprus crisis: EU risks the unthinkable if bailout ultimatum fails. Larry Elliot, no The Guardian, analisa o cenário mais drámático desta crise: uma saída do Chipre;
4. A short history of bank deposit levies.
Más noticias para os que vêem as taxas sobre depósitos como uma
excentricidade cipriota: já aconteceu várias vezes e na Europa, nota o
Tyler Cowen no Merginal Revolution;
O importante discurso de Carlos Costa sobre o pós-troika
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Fonte: Negócios
Para o governador Portugal deverá candidatar-se a um programa
cautelar do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (com possível apoio
do programa de compra de dívida pública do BCE) para, no pós-Junho de
2014, substituir o actual programa de assistência.
Se juntarmos a posição tornada pública ontem,
às declarações já deste ano de Olli Renh, então torna-se como cada vez
mais provável que ao actual programa de ajustamento se siga um outro
programa – como aqui havíamos notado em Fevereiro
– com características diferentes, mas com condicionalidade de políticas
económicas e avaliações regulares à economia. Vale a pena ler o que
disse Carlos Costa, num discurso que analisamos em seis pontos.
Arquitectos da reestruturação grega propõem resgate alternativo para Chipre
T-shirt à venda para turistas no Chipre Fonte: Chris Ratcliffe / Bloomberg
Lee
Buchheit e Mitu Gulati, os arquitectos da reestruturação grega, estão a
fazer furor com um texto de ontem onde propõem um plano alternativo
para o resgate cipriota. Em “Walking Back From Cyprus”
os autores criticam a opção europeia de atacar os depósitos de valor
inferior à garantia euopeia de 100 mil euros ao mesmo tempo que se
protegem os detentores de obrigações do Estado grego. A sua solução, passa por proteger
esses depositantes, fazer uma reestruturação ligeira da dívida pública
grega e dos depósitos nos montantes acima de 100 mil euros, mas sempre
garantindo o capital e alguns juros. Vale a pena ler.
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