Arquitectos da reestruturação grega propõem resgate alternativo para Chipre

19/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

T-shirt à venda para turistas no Chipre Fonte: Chris Ratcliffe / Bloomberg

 

Lee Buchheit e Mitu Gulati, os arquitectos da reestruturação grega, estão a fazer furor com um texto de ontem onde propõem um plano alternativo para o resgate cipriota. Em “Walking Back From Cyprus” os autores criticam a opção europeia de atacar os depósitos de valor inferior à garantia euopeia de 100 mil euros ao mesmo tempo que protegem os detentores de obrigações do Estado grego. A sua solução, passa por proteger esses depositantes, fazer uma reestruturação ligeira da dívida pública grega e dos depósitos nos montantes acima de 100 mil euros, mas sempre garantindo o capital e alguns juros. Vale a pena ler.

 

Os autores apresentam as quatro opções que estavam em cima da mesa:

 

Entering Friday’s meeting, the leaders had four options on the table, none of them pleasant:

 

(i) Give Cyprus a complete bailout (estimated to cost €18 billion);

 

(ii) Restructure the outstanding Cypriot bonds, €4.4 billion of which are governed by Cypriot law and €3.8 billion by English law;

 

(iii) Haircut excess deposits in the Cypriot banking system; that is, deposits in excess of the €100,000 minimum covered by the local deposit insurance scheme. These represent about half of the total deposit base;

 

(iv) Haircut the insured deposits;  

 

A solução escolhida pela troika e pelo governo cipriota usou as opções (iii) e (iv) com as seguintes implicações:

 

a) A proposta inicial passou por taxar depósitos acima de 100 mil euros em 9,9% e os depósitos abaixo de 100 mil euros em 6,75%. Entretanto estão a ser negociadas alterações a estes valores, mas os 5,8 mil milhões de receita deverão manter-se;

 

b) Os detentores de obrigações, entre os quais, notam Buchheit e Gulati, estão vários “hedge funds” que investiram em títulos gregos, comprando a desconto de 25% e 30% saem sem perdas. A 3 de Junho vence uma obrigação de 1,4 mil milhões de euros;

 

Se os líderes europeus tivessem decidido proteger os depósitos e privilegiassem os perdas aos detentores de obrigações, então os autores propõem:

 

1) Assegurar que todos depósitos abrangidos pelo sistema de garantia de depósitos (100 mil euros) são estão, efectivamente garantidos;

 

2) Aos montantes em excesso a 100 mil euros seria imposta uma troca por certificados de depósito, no mesmo montante em excesso, com uma maturidade entre 5 e 10 anos, e com uma taxa variável. Estes títulos, pelo menos nas maturidades mais longas, poderiam receber uma garantia através das reservas de gás natural;

 

3) A maturidade de todas as obrigações seria estendida, por exemplo, por 5 anos – o que adiaria aos cofres do Estado cerca de 6,6 mil milhões em despesas nos próximos três anos (período do “bailout” a ser financiado pela troika)

 

Com esta solução, defendem:

1) Garantir-se-ia por cinco a dez anos financiamento para os bancos, o que lhes permitiria atravessar a crise melhor  e tornaria mais fácil desenhar um plano de estabilização para o sistema financeiro;

 

2) Por outro lado, adiar-se-iam despesas significativas de refinanciamento da dívida (com um reestruturação muito ligeira), o que aliviaria em muito as necessidades de financiamento oficial;

 

Está feito o resumo, mas o melhor é mesmo ler o texto.

Rui Peres Jorge