São cada vez mais os que trabalham de mais e os que trabalham de menos

17/03/2011
Colocado por: Manuel Esteves

“Em nome do emprego, os poderes públicos dos países avançados procuram compensar a subida da produtividade com aumentos da produção, independentemente dos custos ambientais e ecológicos, em vez de reduzirem a duração do trabalho”. A frase é de Alain Euzeby e foi retirada de um artigo publicado na revista Courrier Internacional.

 

O autor defende neste artigo uma redução da carga horária como solução para dois problemas prementes: o desemprego e o aquecimento global da Terra. O raciocínio é simples: se os que estão empregados trabalharem menos tempo, haverá mais trabalho para os que não têm emprego. Quanto à questão ambiental, Euzeby argumenta que o crescimento económico desenfreado, com a produção e consumo crescentes, acabará por arruinar o planeta. Ou seja, não é preciso produzir mais. Basta manter os níveis de produção e distribuir melhor o emprego. Se este for mais bem distribuído, haverá comida para todos. É que “se há pobreza, não é devido a uma insuficiência de produção, mas devido ao emprego”.

 

Euzeby está a pregar no deserto. A tendência neste momento é precisamente a contrária. Em Portugal, por exemplo, há cada vez mais gente a trabalhar demais e cada vez mais gente a trabalhar de menos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 18,1% dos trabalhadores portugueses trabalharam, em média, mais de 40 horas semanais, contra 16,5% em 2006. Por outro lado, os que trabalham menos de 31 horas passaram de 10,2% para 11,9%. Quanto à taxa de desemprego, esta passou de 7.7%, em 2006, para 10,8%, em 2010.

 

Manuel Esteves