O INE confirmou o crescimento do PIB de 1,5% no segundo trimestre de 2015, puxado pelo consumo das famílias e pelo investimento, embora, no caso do segundo, bastante influenciado pelo reforço dos stocks. O NECEP aponta que a formação bruta de capital fixo contraiu face ao trimestre anterior, enquanto a o BPI sublinha a resiliência das exportações, mesmo com quedas pronunciadas das vendas a Angola.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Núcleo de Estudos sobre a Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
1 – No 2º trimestre de 2015, o PIB voltou a evoluiu acima da sua dinâmica recente com taxas de crescimento de 0.4% em cadeia e de 1.5% em termos homólogos, idênticas às registadas no 1º trimestre do ano. O crescimento no ano terminado no 2º trimestre foi de 1.2% o que, não sendo um valor muito elevado, é o melhor registo dos últimos 4 anos (17 trimestres). A recuperação face ao nível mínimo do 1º trimestre de 2013 é agora de 2.8%. Tal como no 1º trimestre, o crescimento do PIB voltou a ser influenciado pela variação de existências se bem que de forma mais discreta.
2 – O principal aspecto positivo dos dados hoje divulgados pelo INE é a evolução das exportações muito acima de uma dinâmica, já de si, elevada com expressivos crescimentos em cadeia e homólogos de, respectivamente, 3.9% e 7.8%. Também as importações evoluíram bastante acima da sua dinâmica recente, tendo já alcançado o patamar anterior à crise financeira do verão de 2008. Em termos nominais, o saldo da balança de bens e serviços manteve-se no terreno positivo (cerca de 83 milhões de euros), o que equivale a 0.2% do PIB.
3 – Algo inesperado foi o andamento do investimento (FBCF) que, após um crescimento de 3.9% no 1º trimestre, contraiu 2.4% em cadeia. Neste âmbito, as maiores contracções registaram-se no investimento em construção (5.3%) e em máquinas e equipamentos (2.6%). Já o investimento em material de transporte aumentou 11.7% em cadeia. Apesar da contracção em cadeia, o investimento cresceu 3.9% em termos homólogos e 4.9% no ano terminado no 2º trimestre.
4 – Para além das exportações, também o consumo privado está dar sinais muito fortes já que cresceu 1.3% em cadeia e 3.3% em termos homólogos. A persistência de elevados níveis de confiança dos consumidores pode ajudar a explicar o facto deste agregado continuar a evoluir bastante acima da sua dinâmica recente. Desta forma, continua a ser difícil apurar qual dos agregados, o consumo privado ou o PIB, reflecte melhor a posição cíclica da economia portuguesa na actualidade.
5 – De um modo geral, estes dados confirmam a continuação da trajectória de recuperação da economia portuguesa se bem que a ritmo mais lento face ao perspectivado pelo NECEP em Julho último. A manter-se o crescimento homólogo do PIB de 1.5% na segunda metade do ano, tal corresponderia a uma dinâmica positiva face a 2014, ano em que a economia portuguesa cresceu, recorde-se, 0.9%
Paula Carvalho – economista-chefe do BPI
1 – O detalhe do PIB do segundo trimestre revela a recuperação da procura interna, com destaque para o consumo privado e investimento (ainda que em menor escala) salientando-se também o bom comportamento das exportações (aumentaram 7.2% no primeiro semestre) ainda que o seu resultado seja compensado pela aceleração das importações.
2 – Relativamente à procura interna, destaca-se o dinamismo do consumo das famílias, em linha com o reforço da confiança dos consumidores. Os últimos dados divulgados pelo INE referem que as famílias estão mais confiantes, nomeadamente no que diz respeito às perspectivas no mercado de trabalho, situação financeira do agregado familiar e situação económica do país. Quanto ao Investimento, analisando apenas a formação bruta de capital fixo (sem stocks) verifica-se que continuou a crescer, embora a um ritmo inferior, facto que traduz uma evolução positiva atendendo ao seu peso muito baixo no PIB; adicionalmente, o investimento em construção regista também um comportamento positivo pelo segundo trimestre consecutivo depois de um longo período de queda.
3 – Quanto às componentes externas, é notório o maior conteúdo importado das exportações (os combustíveis são a classe de bens que maior contributo deu para o crescimento do agregado, em valor, no primeiro semestre). Por outro lado, esta componente tem beneficiado da estratégia de diversificação, quer em termos de mercados destino quer a nível de produtos e serviços vendidos ao exterior. Repare-se que apesar da queda do saldo da balança de bens e serviços, este mantém-se positivo, apesar da forte redução das vendas para Angola e da recuperação da procura interna (e aumento de dois dígitos do consumo de bens duradouros).
4 – Em suma, são boas notícias pois o crescimento económico aparenta ter algum grau de sustentação. Todavia, é necessário ter em conta que Portugal está a beneficiar de uma conjuntura muito favorável, designadamente taxas de juro muito baixas no mercado internacional, preços do petróleo também baixos e desvalorização da moeda. Pelo que se revelam necessários esforços continuados para reforçar o crescimento potencial.
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