“Peinture (Etoile Bleue)”, quadro que bateu record num leilão da Sotheby's em 2012, atingindo quase 33 milhões de dólares. Fonte: Via Bloomberg
Quem acompanha o Massa Monetária desde início poderá saber que Joan Miró está entre os pintores preferidos cá da casa. É por isso com interesse que acompanhamos a polémica que se instalou nos últimos dias em torno da tentativa pelo Governo de vender os 85 quadros do surrealista espanhol, a qual acabou por não se concretizar esta semana devido a incertezas legais que amedrontaram a leiloeira responsável por levar as peças à praça.
Reconhecendo que 36 milhões de euros (estimativa para o conjunto das 85 obras) é uma gota no oceano dos problemas financeiros nacionais; concordando que não é aceitável que o Governo venda património sem preencher todos os requisitos legais; e preferindo até que as obras fiquem por cá até para que alguma boa memória possa ficar desse pesadelo chamado BPN – é justo reconhecer que além de serem activos do BPN comprados com o mesmo dinheiro que criou o buraco financeiro que todos pagamos, do ponto de vista financeiro, o momento da venda era muito oportuno: é que o optimismo está a tomar conta do mercados de arte nas economias desenvolvidas à medida que a gravidade da crise dos últimos anos diminuiu, e isso tem-se sentido em feiras e leilões. Miró não tem aliás passado ao lado: “Em termos de mercado, o momento não poderia ser melhor”, escreveu mesmo há duas semanas o site especializado “Art price” numa análise ao leilão. Alguns dados:
– Em 2012 as obras do surrealista espanhol geraram em leilão perto de 135 milhões de euros, mais que triplicando dos valores de 2011 – para o que contribuíram dois quadros: Peinture (Etoile Bleue) e Painting Poem que atingiram, respectivamente, 32,9 milhões de dólares e 23,8 milhões de dólares.
– 2013 o melhor resultado foi conseguido por “Femme rêvant de l'évasion” (1945) que rendeu 11,8 milhões de euros. O ano foi menos espectacular, mas ainda assim dez obras foram vendidas por mais de um milhão de euros.
– 2014 prometia ser novamente um ano forte para Miró. A colecção do Governo português conta com 85 obras, duas delas com estimativas superiores a 4 milhões de euros: “Femmes et oiseaux” (6,5 milhões e 11,5 milhões) e “Painting” (4 milhões a 5,7 milhões).
Prometia, mas poderá afinal não acontecer depois do embróglio das últimas semanas que promete continuar.
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