Os indicadores de conjuntura do Banco de Portugal apontam para uma contínua degração das condições e mercado de crédito em Portugal, analisa José Miguel Moreira, do Montepio, que não espera melhorias no inicio do ano.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. Os Empréstimos Bancários Concedidos ao Sector Não Monetário (excluindo administrações públicas) registaram, em Dezembro, um crescimento homólogo de 1.4%, o que representa uma considerável desaceleração (a 3ª consecutiva) de 0.3 p.p. face ao mês anterior. Esta evolução reflectiu a desaceleração observada nos Empréstimos Concedidos ao Sector Privado Não Financeiro (de +1.9% para +1.1%), já que os Empréstimos às Instituições Financeiras Não Monetárias observaram um comportamento favorável, passando de uma queda de 1.5% para um acréscimo de 6.8%.
2. O comportamento desfavorável dos Empréstimos Concedidos ao Sector Privado Não Financeiro foi comum aos seus dois segmentos, com a taxa de crescimento dos Empréstimos às Sociedades Não Financeiras a passar de 1.4% para uma estagnação e a dos Empréstimos a Particulares a desacelerar de 2.2% para 1.9%. No segmento dos particulares, quer os Empréstimos para Habitação, quer os Empréstimos para Consumo e Outros Fins, mantiveram a tendência de desaceleração evidenciada nos meses anteriores (há 6 e 7 meses consecutivos, respectivamente), tendo, neste último caso, passado mesmo a contrair (-0.6% vs +0.2%, em Novembro), ao passo que, na Habitação, o ritmo de crescimento diminuiu 0.2 p.p., para 2.5%.
3. Estes dados vieram, assim, confirmar o retrocesso observado no mês precedente nos sinais de melhorias que se tinham anteriormente registado (embora essas melhorias também só estivessem a observar-se em alguns segmentos – designadamente no de Empresas). Nesse sentido, continuaram a revelar uma fraca dinâmica do Mercado de Crédito, o qual se encontra afectado pela deterioração das condições de financiamento da economia portuguesa nos mercados internacionais, mantendo-se, assim, como um constrangimento à recuperação mais célere da actividade económica.
4. Estes dados vêem de encontro aos resultados do último Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, realizado em Janeiro, em que os cinco maiores grupos bancários portugueses confirmaram ter adoptado Critérios de Concessão de Empréstimos consideravelmente mais exigentes, no 4ºT2010, tendo o aumento de restritividade sido particularmente intenso no segmento de Empresas, mas menos pronunciado nos Particulares. A Procura de Empréstimos diminuiu ligeiramente no segmento de Empresas, mas acentuadamente no de Particulares, para o que terá contribuído, designadamente, a forte quebra da Confiança dos Consumidores e a deterioração das expectativas para o mercado da habitação.
5. Acresce que as perspectivas para o actual trimestre também não são muito favoráveis, num contexto macroeconómico que se antevê particularmente adverso, reflectindo, designadamente, as medidas de austeridade adoptadas pelo Governo. É também nesse sentido que vão os resultados do Inquérito aos Bancos, que prevêem, para o 1ºT2011, a adopção de Critérios de Concessão de Empréstimos ligeiramente mais restritivos em todos os segmentos, em especial para a aprovação de empréstimos a longo prazo a empresas, antecipando uma ligeira de Empréstimos em todos os segmentos, relativamente mais pronunciada no crédito à diminuição da Procura Habitação.
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