Nota do editor: João Galamba, do Jugular, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Fevereiro, publicará os seus posts também nesta casa.
Axel Weber, presidente demissionário do Bundesbank, está para a economia como Kant está para a moralidade: o seu rigorismo legal é tão obtuso e dogmático que se transforma numa espécie de sadismo. Num artigo publicado no Financial Times – Europe's reforms may come at a high price – Weber diz que o fundo de estabilização está bem como está e que todas as propostas que visem facilitar a vida aos incumpridores devem ser liminarmente rejeitadas. Mesmo numa crise, a responsabilidade pelas finanças públicas tem de ser estritamente nacional. Não podemos ser brandos com aqueles que se desviaram da virtude – caso contrário, estaríamos a pôr em perigo a própria natureza da união monetária, uma espécie de juízo moral económico sintético a priori. Para Weber, o facto da situação actual não contribuir para qualquer regeneração dos incumpridores é uma impossibilidade lógica: no seu universo moral económico só não se regenera quem não quer. Não ocorre a Weber que, sim, o que está em causa tem mesmo de ser a natureza da união monetária, ou melhor, o que está em causa é a actual configuração institucional do euro, uma contingência – e não uma inevitabilidade – que pertence à história do projecto europeu e que a realidade mostrou ser insustentável. Mas, como todos os fanáticos, Weber só tem olhos para a Lei e para a culpa que decorre da sua violação. Isto torna-se claro no modo como ele define a solidariedade europeia: ajudar é pôr os cumpridores a pagar os pecados erros dos outros. Pagar pecados erros, mais nada. Ainda bem que nos livrámos desta criatura.
João Galamba, Jugular
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