Desemprego e produtividade em alta

16/02/2011
Colocado por: massamonetaria

Segundo o INE, a taxa de desemprego ultrapassou os 11% no último trimestre de 2010. Rui Bernardes Serra, do Montepio diz que o desemprego está elevado e que vai permanecer elevado, salientando ainda o aumento do número de desempregados desencorajados. Gonçalo Pascoal, do Millennium BCP, também espera um aumento do desemprego, e salienta um efeito indirecto sobre a economia: um forte aumento da produtividade. Paula Carvalho, do BPI, dia que no meio de tão maus resultados, vale a pena salientar que o ritmo de degradação do mercado de trabalhou abrandou.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do banco BPI

 

1. É difícil encontrar aspectos positivos no último relatório do emprego: a taxa de desemprego nunca esteve tão alta; o número de postos de trabalho alcançou valores mínimos desde 1999; quando a população activa (disponível e em idade de trabalhar) era inferior em cerca de 500 mil indivíduos; entre os desempregados, os indivíduos com qualificações superiores ao secundário foi a classe que mais aumentou: no 4T2009 os desempregados com qualificações iguais ou superiores ao secundário eram 27% do total de desempregados; no 4T2010 o seu peso aumentou para 32%; a taxa de desemprego de longa duração alcançou 6.1% no último trimestre de 2010, e aumentou de 4.4% para 5.9%, em média no ano; entre os jovens disponíveis para trabalhar (15 aos 24 anos), cerca de 23% estão desempregados; finalmente, o desemprego afecta mais as mulheres, sendo a respectiva taxa de desemprego de 12.3% face a 10.1% entre a população masculina.

 

2. Por outro lado, importa salientar alguns aspectos que despertam uma visão menos pessimista. Por um lado, o ritmo de degradação dos indicadores do mercado de trabalho está a abrandar: o número de desempregados aumentou 9.9%, em termos homólogos, no 4T2010, que compara favoravelmente com +28.7% no 4T2009; por outro lado, entre a população empregada, verificou-se uma redução dos indivíduos com menores qualificações e uma variação positiva, em termos homólogos e trimestrais, dos empregados com qualificações superiores ou iguais ao ensino secundário. Ou seja, gradualmente a força de trabalho torna-se mais qualificada, o que à partida favorece a capacidade de crescimento económico a médio prazo. Por outro lado, o facto de existirem movimentos aparentemente contraditórios afectando a população mais qualificada deverá indiciar desencontro entre a oferta e a procura relativamente ao tipo de qualificações/área de especialidade escolhidas pelos educandos e as privilegiadas pelo sector empresarial.

 

3. Vale a pena ainda destacar que os sectores mais afectados continuam a ser a indústria transformadora e construção, sectores onde se verificou maior contributo para a queda do emprego: dos 75.9 mil empregos que se perderam em 2010, 48.2 mil perdas ocorreram nos sectores referidos, quase repartidos equitativamente; no sector agrícola perderam-se cerca de 22.6 mil empregos e nos serviços 5100 empregos. Se a retracção do emprego na construção sinaliza que a reestruturação no sector ainda continua a decorrer, por outro lado, a redução de postos de trabalho na industria transformadora indica que ainda não há sinais no mercado de trabalho de aposta ou reforço dos sectores de bens transaccionáveis.

 

Gonçalo Pascoal – Gabinete de Estudos Económicos do Millennium BCP

 

1. Os números do mercado de trabalho relativos ao quarto trimestre revelam um aumento da taxa de desemprego para 11,1% (1 p.p. superior ao valor do período homólogo), uma redução do emprego (1,5% face ao período homólogo) e uma redução de cerca de 0,3% da população activa, um fenómeno associado a ciclos recessivos. Em termos médios anuais, a taxa de desemprego situou-se em 10,8% e a população empregada reduziu-se em 1,5%. Desde o segundo trimestre de 2008, à excepção do final de 2009 quando o emprego estagnou, que a população empregada tem vindo a diminuir de forma consecutiva.

 

2. Em 2009 a redução do emprego ocorreu numa conjuntura recessiva, mas, desta feita, ocorreu num período de expansão da actividade. Esta evolução implica um incremento muito significativo da produtividade por empregado. Em média, esta variável cresceu 2,9% ao longo de 2010, uma prestação que apenas foi ultrapassada no período imediatamente anterior à adesão ao euro.

 

3. A evolução da produtividade está naturalmente influenciada por uma componente cíclica, mas o patamar alcançado tem algum significado. Se mantido, ou preservado em parte, constituirá um importante contributo para a reavaliação de expectativas relativas ao crescimento potencial da economia. A evolução demográfica evidencia uma capacidade muito limitada para crescer por via do factor trabalho nos próximos anos, cabendo o principal esforço a avanços da produtividade. Este comportamento também ganha significado acrescido no actual contexto em que os investidores e autoridades externas avaliam a sustentabilidade do país a médio prazo.

 

4. Contudo, a queda do emprego e o aumento do desemprego assinalam o lado perverso deste “bom” desempenho. Racionalmente, os empregadores procuram manter flexibilidade face à incerteza do enquadramento económico e financeiro que enfrentam. Mas esta flexibilidade também tem custos, na dificuldade de obtenção do primeiro emprego e na desadequação progressiva das competências profissionais da população desempregada. A população empregada entre os 15 e os 34 anos desceu em termos trimestrais e homólogos, 1% e 6%, respectivamente. O desemprego de longa duração manteve-se em 6.1% da população total, um acréscimo de 21% em termos homólogos.

 

5. Tendo em conta um contexto em que a dinâmica de crescimento será quase exclusiva do sector externo, fortemente competitivo, num quadro de ajustamento da procura interna, prevemos um agravamento da taxa de desemprego em termos médios de 0.7 p.p. ao longo de 2011.

 


 

Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. Em Portugal, segundo o INE, a Taxa de Desemprego agravou-se, no 4ºT2010, de 10.9% para 11.1%, o nível trimestral mais elevado da actual série histórica, encontrando-se 1.0 p.p. acima do verificado no trimestre homólogo. A População Desempregada foi estimada em 619.0 mil indivíduos, verificando-se um acréscimo de 9.9% face ao trimestre homólogo de 2009, bem acima do crescimento patente no número de desempregado inscritos no IEFP, de 4.7%, tendo subido 1.6% em relação ao trimestre anterior, contrariando a queda de 0.8% de desempregados inscritos no IEFP.

 

2. Refira-se ademais, que se terá assistido a um aumento do nº de Desempregados “Desencorajados”, visto que cerca de 13.7% dos indivíduos Desempregados passaram para a População Inactiva, que terá resultado quer de reformas antecipadas, quer do facto de, atendendo à dificuldade em obter um emprego, não era classificado como Desempregado, visto não ter cumprido o requisito de “ter procurado um trabalho, isto é, tinha feito diligências ao longo de um período especificado (período de referência ou nas três semanas anteriores) para encontrar um emprego remunerado ou não”.

 

3. O número de Empregados diminuiu 1.5% quando comparado com o do mesmo trimestre de 2009 e 0.3% relativamente ao trimestre anterior. Sectorialmente, apenas no sector dos Serviços, o emprego permaneceu praticamente inalterado. A população empregada com nível de escolaridade correspondente ao ensino secundário e pós-secundário e ao ensino superior, pelo contrário, aumentou 6.9% e 4.3% (60.6 mil e 34.9 mil), respectivamente. Todavia, a Taxa de Desemprego dos indivíduos com nível de escolaridade correspondente ao ensino secundário e pós-secundário aumentou 1.9 p.p. face ao trimestre homólogo e 0.1 p.p. face ao trimestre anterior, enquanto nos indivíduos com ensino superior subiu 1.8 p.p. face ao trimestre homólogo e 0.4 p.p. face ao trimestre anterior. Ou seja, apesar de a economia criar empregos nos segmentos de mais elevada formação académica, estes são ainda insuficientes para absorver os novos diplomados.

 

4. Considerando os dados ajustados de sazonalidade (Cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), a Taxa de Desemprego, no 4ºT2010, é ligeiramente inferior, de 11.0% (10.9%, no 3ºT2010), mas representado, o nível mais elevado desde, pelo menos, o 1ºT1977 (considerando os dados ajustados de sazonalidade das séries trimestrais do Banco de Portugal). Tendo em conta que a média trimestral das estimativas mensais do Eurostat para a Taxa de Desemprego para Portugal se situava em 10.9%, 0.1 p.p. abaixo dos dados do INE por nós ajustados de sazonalidade, poderá haver lugar a uma futura revisão em alta da série do Eurostat.

 

5. Com efeito, e não obstante alguns sinais de melhoria evidenciados pelos últimos dados mensais – designadamente pelos referentes ao Desemprego Registado -, nunca considerámos que se tratava de uma inversão de ciclo deste mercado, vindo estes dados do INE até contrariar aqueles sinais de melhoria, o que significa que haverá muitos desempregados que, não tendo direito ao subsídio de desemprego, não contam com o IEFP para obter um emprego.

6. A situação deteriorada em que o Mercado Laboral se encontra mantém-se como um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa, podendo, designadamente num ano que se espera difícil, sofrer uma deterioração adicional. De resto, os indicadores mais prospectivos, como as Expectativas de Emprego dos Empresários (próximos 3 meses) do survey da Comissão Europeia, depois de terem evidenciado um comportamento globalmente favorável nos dois últimos meses de 2010, vieram, em Janeiro, dar conta de uma degradação da situação, passando a sinalizar, do ponto de vista empírico, uma estagnação do Emprego, depois de 5 meses consecutivos a sugerir criação de postos de trabalho na economia. Por sua vez, os Consumidores (mais sensíveis às medidas de austeridade anunciadas) mantiveram, grosso modo, as suas Expectativas de Desemprego para os próximos 12 meses, mas após 3 subidas consecutivas, que tinham colocado o indicador no nível mais elevado desde Junho de 2009, um valor que se revela teórica e empiricamente consistente com um aumento do Desemprego na economia portuguesa.