Colossal? “Jamé”! Habituem-se… raramente me engano

22/07/2011
Colocado por: antoniolarguesa

Passos Coelho

 

Crédito: Pedro Elias/Jornal de Negócios

 

Mostram as imagens da RTP que afinal Pedro Passos Coelho nunca falou em “desvio colossal”? Não importa. Também se comprovou que Alchochete não era um deserto mas um bom local para construir o novo aeroporto de Lisboa; que, afinal, as notícias na comunicação social (como se viu no caso Bairrão via-Marcelo Rebelo de Sousa) até interferem em parte na escolha das equipas governativas; e que Cavaco Silva acabou por se enganar algumas vezes durante os dez anos de maioria absoluta e no primeiro mandato como Presidente da República.

 

As “verdades” passam. As expressões mantém-se durante meses no espaço público até entrarem para a galeria das expressões históricas da política portuguesa. Entretanto são usadas até à exaustão, particularmente em trocadilhos no debate parlamentar, mas também nas banais conversas de café.

 

Passos Coelho vai bisar a entrada nessa “galeria”. A 13 de Maio de 2010, depois de acordar com José Sócrates um aumento de impostos, convocou a imprensa para pedir “desculpa” aos portugueses. Nas semanas seguintes não se falou de outra coisa e ainda no debate do programa do governo, no início de Julho e já como primeiro-ministro, lhe perguntaram se agora não ia pedir desculpa pelo lançamento do imposto extraordinário.

 

Nos últimos dias a palavra “colossal” tem aparecido nos mais diversos contextos, dos blogues de esquerda que falam de “colossal mentira” e de um “gamanço colossal” até às redes sociais, onde jornalistas lamentam que “a ‘silly season’ nunca foi tão colossalmente silly”. No Parlamento, o deputado do PCP, Honório Novo, perguntou hoje ao ministro das Finanças, Vítor Gaspar, por que é que o novo imposto não se aplicará aos dividendos: “É um esquecimento colossal ou tem um fundamento ideológico na direita mais radical?”.

 

E se nas outras alturas a expressão ficou para consumo doméstico, desta vez a exposição mediática da crise portuguesa lá fora ajudou à disseminação internacional da expressão. Ajudando, claro, a palavra escrever-se da mesma maneira em inglês. “Portugal's Prime Minister Pedro Passos Coelho discovers 'colossal' budget hole”, escreveu há dias o The Telegraph.

 

Imagine-se agora, com a velocidade de transmissão nesta era da Internet, se o actual primeiro-ministro se fosse agora lembrar de proclamar que “há vida além do orçamento”, como Jorge Sampaio fez a 25 de Abril de 2003. Curiosamente – porque a interpretação das palavras do então Presidente foi entendida com essa intenção – a expressão celebrizou-se como “há mais vida para além do défice”.

 

Ah! E quando o “cherne” (perdão Durão Barroso!) anunciou ao chegar ao governo em 2002 que o país estava “de tanga” é porque Portugal já não era certamente o “oásis” que Braga de Macedo anunciara uns anos antes… Não consegue contabilizar todas estas expressões famosas? Pois “é fazer as contas”, como disse António Guterres depois de tentar cálculos de cabeça em função do PIB que duraram cinco segundos (uma eternidade em televisão).

 

Se ficou irritado com tanto trocadilho político faça como Augusto Santos Silva sugeriu numa reunião com militantes do PS: pode “malhar” neste que vos escreve na caixa de comentários que encontra em baixo. Prometo não apresentar queixa alegando a existência de “asfixia democrática”, como protestou a ex-líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, na campanha eleitoral de 2009…