Arquivo da categoria: Pontos críticos

Análises diárias aos temas que marcam a actualidade

Acções de empresas militares disparam com ataque a Paris

24/11/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

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Valorização em Bolsa das empresas de equipamento militar, depois dos ataques terroristas.

Os ataques terroristas em Paris provocaram uma onda de indignação em todo o mundo e motivaram François Hollande a declarar guerra ao auto-proclamado Estado Islâmico. No entanto, estes não estão a ser dias terríveis para todas as organizações. Para os maiores grupos de armamento em todo o mundo, os últimos dias foram de fortes ganhos na Bolsa.

 

Este exercício foi feito logo no dia a seguir ao atentado pelo site The Intercept, mas com apenas seis empresas e analisando um período ainda curto de tempo. Passado mais de uma semana, o Massa Monetária olha agora para 11 gigantes do armamento internacional e para o que ganharam nos últimos dias nos mercados financeiros.

 

Não é difícil perceber o racional por trás destas valorizações. Uma escalada dos conflitos internacionais como aquele que se adivinha significa um engordar do orçamento de Defesa de vários países, assim como mais encomendas de armamento e equipamento bélico. Como escrevia segunda-feira o Negócios, os ataques terroristas tendem a não ter grande impacto na economia, mas provocam um crescimento dos gastos militares.

 

Todas as empresas referidas em baixo estão a valorizar mais de 3% no espaço de sete dias, muitas ultrapassam os 6% e algumas chegam aos dois dígitos de ganhos. O dia do ataque está assinalado em cada gráfico para melhor se perceber a tendência que se observa desde esse dia.

 

 

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Fonte: Bloomberg; Gráficos: Rosa Castelo.

 

Confia no jornal que lê?

25/09/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

Acha que aquilo que lê todos os dias nos jornais reflecte correctamente o que se está a passar na economia? Tenho boas e más notícias para si. Primeiro as boas. O optimismo ou pessimismo dos textos jornalísticos sobre a evolução da economia segue a evolução dos indicadores macroeconómicos e isso não depende do partido que está no poder. As más notícias? O número de artigos que os jornais produzem sobre a economia parece flutuar conforme o seu alinhamento ideológico. Se são próximos do governo, haverá mais espaço para notícias positivas; se estão mais afastados, as notícias negativas têm mais destaque.

 

 

Redacção

A atenção que os jornais dedicam aos temas depende do seu alinhamento ideológico. Crédito: Krisztian Bocsi/Bloomberg

 

Estas conclusões fazem parte de um estudo de Mark Andreas Kayser e Michael Peress intitulado “Os Media, a Economia e o Voto”, publicado este mês. No paper, os autores procuram esclarecer três pontos: se o que se está a passar na economia se reflecte correctamente na cobertura jornalística; se a forma como os dados são reportados muda conforme o partido que está no poder; e se essa cobertura influencia o sentido de voto dos eleitores.

 

O tema não podia ser mais actual em Portugal, onde vivemos uma campanha eleitoral quente, muito centrada na evolução de indicadores económicos e financeiros. Ainda esta quarta-feira passámos o dia a debater se a frase do primeiro-ministro sobre o impacto do Novo Banco no défice ser “meramente estatístico” era verdadeira (spoiler alert: não é).

 

A base de dados do estudo é muito grande. Parte da análise em larga escala de mais de dois milhões de artigos jornalísticos em 32 jornais de 16 países, recuando, em alguns casos, até 1977. Portugal está representado pelo Jornal de Notícias (1997-2013) e pelo Correio da Manhã (2012-2013). Os indicadores económicos usados são o PIB, o desemprego e a inflação.

 

As conclusões são heterogéneas. Por um lado, os jornais parecem transmitir aos leitores um sentimento que acompanha a evolução dos indicadores macroeconómicos.Isto é, a utilização de expressões mais positivas ou negativas nos textos é consistente com um crescimento melhor ou pior, por exemplo. Isso não significa que as notícias sigam totalmente a variação desses indicadores, mas estes resultados mostram que a evolução dos dados económicos (principalmente os de mais longo-prazo) conduz a cobertura mediática.

 

Outra conclusão positiva é que a forma como os media noticiam temas económicos em nada parece ser influenciado pelo alinhamento do jornal à esquerda ou à direita. Isto é, o tom dos artigos é semelhante, independentemente do partido que está no Governo. “Os resultados são impressionantes: o partidarismo não tem qualquer efeito no sentimento dos media”, escrevem os autores do estudo. “O tom da cobertura num jornal não muda quando o partido que está no poder é substituído por outro com uma orientação ideológica diferente. As notícias que os jornais escrevem sobre economia apresentam a mesma proporção de histórias positivas, independentemente da ideologia do partido que governe.”

 

Por outro lado, se o tom das notícias não é influenciado pelo alinhamento ideológico do jornal, a atenção dos media aos temas parece flutuar conforme a cor do Governo. Os jornais escrevem mais notícias sobre a economia quando as coisas estão a correr bem e o governo com quem estão mais “alinhados” está no poder; e escrevem ainda mais notícias quando as coisas estão a correr mal e está no governo um partido de quem estão mais afastados ideologicamente. Ainda assim, isto não se verifica com todos os indicadores. O estudo conclui que não há parcialidade na cobertura do crescimento do PIB e da inflação, mas que ela existe no desemprego.

 

 

Então e o tipo de cobertura mediática influencia ou não o sentido de voto dos eleitores? De uma forma simplificada, as pessoas tendem a penalizar os partidos que estão no governo com base em notícias de crescimento baixo do PIB, enquanto o desemprego lhes chega de forma mais directa. Nas palavras dos autores, “o efeito do crescimento económico no voto é totalmente mediado pela cobertura [dos media], enquanto, em contraste, a inflação e o desemprego influenciam directamente o voto”.

 

Outras conclusões avulsas:

 

– Independentemente do partido, os jornais tendem a dar mais atenção ao PIB, desemprego e inflação quando estes indicadores estão a evoluir de forma débil. Além disso, a cobertura varia mais conforme o nível desse indicador do que com as últimas mudanças observadas. Uma conclusão diferente daquela que se tira na análise ao tom das notícias.

 

– Os eleitores são mais influenciados por períodos longos de crescimento baixo (ou recessão) e por níveis relativamente recentes de desemprego e inflação. Segundo os autores, isso pode ser explicado porque os eleitores são informados sobre o PIB pelos media e sentem o desemprego e a inflação directamente nas suas vidas.

 

Fed e BCE em divergência: veja as diferenças

17/09/2015
Colocado por: Rui Peres Jorge

Enquanto o BCE admite continuar a comprar dívida pública para lá de 2016 reagindo à fragilidade da recuperação, nos EUA a Reserva Federal pondera voltar a subir juros, quase 10 anos depois do último aumento, e um ano após ter terminado o seu programa de compra de dívida. A divergência entre os dois lados do Atlântico reflecte realidades muito distintas no balanço dos bancos centrais (o reflexo de abordagens diferentes à crise) e no desempenho económico dos dois blocos. Veja as diferenças em oito gráficos que resumem os dilemas da Fed e os desafios do BCE.

 

1. Fed mais agressiva na resposta à crise

 

Juros Fed e BCE

Fonte: FRED e BCE

 

Entre Agosto de 2007 e Dezembro de 2008 a Reserva Federal baixou a taxa de juro central de 5,25% para 0%, mantendo-a nesse valor desde então. Já o BCE cortou menos na taxa de juro, chegou a subi-loas em 2011, e só atingiu o “0” já no final de 2014. Foi também nessa altura que se preparou para iniciar o seu programa de compra de dívida pública (operação conhecida por “quantitative easing”) – algo que a Fed tinha iniciado logo em 2008 e manteve até 2014.

 

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Portugal voltou a crescer como antigamente?

04/06/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

O Negócios publicou hoje um trabalho sobre a possibilidade de regresso de alguns dos “vícios” que caracterizaram o crescimento da economia portuguesa no período pré-crise. Perante o aumento do investimento em construção, o disparar do consumo privado e do crédito às famílias, assim como o avanço das importações, estará Portugal a regressar ao seu crescimento tradicional? Contactados por nós, três economistas explicaram  por que não estão preocupados. Seguem em baixo as suas respostas completas às nossas perguntas.

 

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As pessoas só lêem 2,4% do livro de Piketty (mais coisa menos coisa)

20/05/2015
Colocado por: Nuno Aguiar
E vocês, leram todas as páginas do livro de Thomas Piketty?

E vocês, leram todas as páginas do livro de Thomas Piketty?

 

“O Capital no Século XXI” foi um sucesso de vendas, mas de certeza que já se perguntou quantas pessoas leram todas as 700 páginas do livro? A resposta é: muito poucas. Grande parte dos leitores parece nem sequer passar das primeiras páginas.

 

As contas são feitas por Jordan Ellenberg, um professor de matemática, que desenvolveu um indicador intitulado “Índice Hawking”, em homenagem a Stephen Hawking, físico popstar e autor do que muitos dizem ser o livro menos lido de sempre, “Uma Breve História do Tempo”. Isto é, muitos compraram, mas poucos leram mais do que um par de páginas.

 

Como é que é feito este exercício? As páginas da versão Kindle de todos os livros apresentam sempre a lista de cinco passagens mais “destacadas” pelos leitores da versão electrónica de cada obra. Ellenberg utiliza essa ferramenta da Amazon, partindo do princípio que, em média, as citações deveriam estar distribuídas ao longo do livro. “Se cada leitor chegar ao fim, esses destaques podem estar espalhados ao longo do livro. Se ninguém passar da introdução, os destaques mais populares estarão concentrados no início”, escreve o matemático.

 

Portanto, o método passa por pegar nos números das páginas dos cinco principais destaques do livro, calcular a média e dividi-la pelo número total de páginas da obra. A lógica é que quanto mais alto for este rácio, mais o livro foi lido. “Aviso: isto não é minimamente científico e serve apenas como entretenimento!”, avisa Ellenberg.

 

Aceitamos o aviso, mas avançamos por nossa conta e risco. O potencial de conclusões é demasiado delicioso. Nesse exercício, o livro de Thomas Piketty, “O Capital no Século XXI” tem uma classificação terrível, com a média dos destaques a ir apenas até 2,4% do livro (mais ou menos 17 páginas).“The Goldfinch”, de Donna Tartt atinge um valor de 98,5%. “As Cinquenta Sombras de Grey”? 25,9%.

 

Mas não se pense que Piketty está sozinho no registo de valores desoladores. Com ele estão as memórias de Hillary Clinton, com 2,04% (“Hard Choices”), as memórias do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com 2,78% (“Promises do Keep”). Barack Obama está um pouco melhor. “Dreams from My Father” apresenta um rácio de 17,94%.

 

Claro que classificações mais baixas podem dever-se ao facto de as passagens mais “citáveis” e interessantes estarem concentradas no início do livro ou ao facto de os leitores se sentirem mais motivados para destacar passagens do livro quando o começam a ler, desistindo progressivamente ao longo da leitura, principalmente se ela for longa. No caso de Piketty, outro factor provoca ruído: o livro tinha saído há três meses quando a primeira avaliação foi feita.

 

Cinismos à parte, 1,5 milhões de pessoas terem comprado um livro de 700 páginas sobre evolução histórica da desigualdade já é um feito impressionante. Lerem-no todo já podia ser pedir demais.