Abenomics vai salvar o Japão?
Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês esta semana em Tóquio Fonte: Kiyoshi Ota/Bloomberg
O primeiro ministro japonês que entrou em funções em Dezembro elegeu como objectivo acabar com a deflação e retirar o País da profunda crise que atravessa. Para isso decidiu usar todos os instrumentos disponíveis num plano que já foi baptizado por “Abenomics” e que inclui um plano de investimento público (100 mil milhões de euros), uma política monetária agressiva, e um plano de desenvolvimento industrial baseado em tecnologia – que deverá apresentar hoje, escreve a Bloomberg. Com Abe no poder, o iene desvalorizou e a bolsa disparou; as exportações subiram e o consumo também. No entanto, o investimento ainda não chegou para suportar a retoma e a deflação continua. A “Abenomics” está no palco mediático internacional e ocupa um espaço de destaque no “Estamos a Ler” de hoje:
2. Abe’s master plan. A The Economist faz o balanço dos cinco meses do plano de Abe baseado em forte estímulo económico e numa mensagem nacionalista. “A política económica parece melhor que o nacionalismo”, lê-se na edição desta semana.
3. El experimento japonés dispara el PIB. O El País também dá a sua versão da experiência japonesa, considerando que, por enquanto, oferece um balanço misto.
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Controlo de capitais em Chipre: uma história de dois euros
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Preços em euro num supermercado cipriota Fonte: Simon Dawson/Bloomberg
Começam a conhecer-se as medidas de controlo de capital em Chipre.
Segundo o Guardian, depósitos a prazo não poderão ser levantados antes
de tempo; cheques podem ser depositados mas não levantados; os
pagamentos para fora de Chipre estão proibidos (com excepções: os
cipriotas podem sair do país com um máximo de 3 mil euros; os pagamentos
de importações são permitidos contra apresentação da “documentação
relevante”; e os cipriotas poderão transferir um máximo de 10 mil euros
por trimestre para filhos que estudem no estrangeiro); além disso, e
entre outras, os pagamentos com cartão de crédito no estrangeiro não
podem ultrapassar os cinco mil euros por mês. As medidas deverão vigorar
durante 7 dias.
O que é que isto significa para a união monetária?
São
impressionantes as análises que se lêem nestes dias sobre este tema.
Não é para menos: é que se o caso cipriota anima o debate geral sobre os
benefícios e malefícios dos controlos de capitais, a sua dimensão única
é estas limitações acontecerem dentro de uma união monetária. Isso é
único significará, em termos substantivos e se se prolongar por mais que
uns dias, que deixou rigorosamente de existir apenas uma moeda na união
monetária europeia, como escreve Tim Duy no seu Fed’s Watch. Guntram B. Wolff, no Bruegel, argumenta na mesma linha: com o controlo de capitais, um euro em Chipre vale menos que um euro em qualquer noutro país da Zona Euro,
um desenvolvimento político “que mina o sistema monetário único” e
“arrisca enviar um sinal fatal aos mercados que poderá muito bem iniciar
futuras corridas aos depósitos noutros locais”. Wolff e Darvas, também
no Bruegel, num post publicado já hoje avisam para cinco riscos
concretos da decisão de controlar capitais, entre elas a violação de
principios básicos do Tratado da União Europeia. Além destes textos
estamos também a ler:
2. Capital controls and the Cypri-outlier.
Uma boa análise de Cardiff Garcia no Alphaville sobre o debate em torno
dos controlos de capitais e a distinção que deve ser feita quando se
aplicam numa união monetária;
Chipre e os três tipos de crises financeiras: liquidez, solvência e estupidez
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Cartoon de Patrick Chappatte Fonte: Acting Man
Os cartoons ajudam a relativizar: aqui fica contributo de Pater
Tenebrarum de onde pedimos emprestado o desenho acima com que abrimos
este “Estamos a ler” dedicado à crise cipriota e que segue com a análise
de Nicolas Véron aos desenvolvimentos da última semana, com enfoque na
proposta inicial que, ao financiamento de 10 mil milhões de euros da UE e
do FMI, juntava uma taxa sobre todos os depósitos, incluindo os de
valor abaixo de 100 mil euros. O autor diz que lhe vem à cabeça uma
frase de um ex-economista chefe do FMI, Mike Musa, que a propósito das
crises asiatáticas do final dos anos 90 terá dito: “há três tipos de
crise financeiras: crises de liquidez, crises de solvência e crises de
estupidez”. Vale a pena ler o texto de Véron pela forma como enquadra as
várias dimensões – política, económica e financeira – da crise
cipriota, na qual se evidenciam os riscos da decisão irreflectida de
taxar depósitos abaixo de 100 mil euros e a forma como as eleições e a
política alemã estão a prejudicar a gestão da crise. Estamos também a
ler:
2. Options for Cyprus.
Zsolt Darvas, no Bruegel, analisa as opções disponíveis para o Chipre à
entrada do fim de semana que, no limite, poderá ditar a saída do país
da Zona Euro. O “Ciprexit” seria pontencialmente desastroso, diz,
defendendo no entanto a posição do BCE de fechar a torneira caso não
exista acordo;
3. Cyprus crisis: EU risks the unthinkable if bailout ultimatum fails. Larry Elliot, no The Guardian, analisa o cenário mais drámático desta crise: uma saída do Chipre;
4. A short history of bank deposit levies.
Más noticias para os que vêem as taxas sobre depósitos como uma
excentricidade cipriota: já aconteceu várias vezes e na Europa, nota o
Tyler Cowen no Merginal Revolution;
Política do BCE beneficiou mais o centro da Europa
Vítor Constâncio e Mario Draghi, vice-presidente e presidente do BCE na conferência de imprensa mensal de 7 de Fevereiro Fonte: Ralph Orlowski/Bloomberg
É talvez a análise económica mais interessante nas notícias de hoje. O
Financial Times dá conta de uma análise do Barclays ao financiamento
obtido no mercado de capitais pelas empresas europeias na segunda metade
de 2012 (Eurozone core cashes in on cheap borrowing).
As empresas sedeadas em França, Alemanha, Bélgica e Holanda terão
aumentado em termos líquidos o seu financiamento em 37 mil milhões de
euros em empréstimos baratos, beneficiando das medidas adoptadas pelo
BCE para baixar risco da região. Já em Itália, Espanha, Portugal e
Grécia o sector empresarial não financeiro aumentou o seu endividamento
mercado apenas 12 mil milhões de euros em termos líquidos, um montante
concentrado em grandes empresas como a Telecom Itália e Telefonica. Ao
mesmo tempo, escreve o jornal, estes países viram o financiamento
bancário reduzir-se 65 mil milhões de euros. A fragmentação da Zona Euro
pode ter-se reduzido, mas o problema mantém-se agudo. Além disso,
estamos também a ler:
2. Carney says his Job is helping with BoE refounding.
O futuro presidente do Banco de Inglaterra assume uma refundação na
autoridade monetária britânica. Carney, que sai do Banco de Canadá, tem
defendido que um banco central deve ter como referência de actuação o
PIB nominal e não a inflação, como acontece com a maioria dos bancos
centrais.
3. G-20 signals support for japan easing without yean talk.
Os líderes do G-20 voltaram a vincar a importância dos principais
blocos e países permitirem que as suas moedas flutuem ao sabor dos
fundamentais económicos, mas suavizaram a posição sobre o Japão, que
cuja política monetária recente tem explicitamente favorecido uma
desvalorização do Yen.
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Tentando perceber a reestruturação irlandesa
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A Irlanda reestruturou cerca de metade da dívida que contraiu durante
a crise para fazer face aos problemas no seu sistema financeiro. A
operação, anunciada no final da semana passada, é um marco na história
da crise do país, mas também da Zona Euro: um sinal de flexibilização e
negociação dentro da Zona Euro que merece ser analisado com detalhe.
Alguns elementos centrais:
– A Irlanda troca 28 mil milhões de euros das agora famosas “notas
promissórias” que emitiu no pico da crise para salvar os seus bancos por
obrigações do Tesouro irlandês.
– A taxa de juro
poderá ser um pouco mais baixa, mas a grande alteração está na
maturidade. As primeiras, com uma maturidade de 7 a 8 anos, obrigavam o
Estado a pagar 3,1 mil milhões de euros ao ano nesse período. As
segundas têm uma maturidade média de 34 anos, e adiam a primeira
amortização para daqui a 27 anos, aliviando a pressão no regresso aos
mercados de um país com um “stock” de dívida acima dos 120% do PIB.
– O negócio, que envolve essencialmente o Governo e o banco central
irlandês, mas conta com a anuência do BCE, poderá configurar
financiamento monetário (isto é empréstimos do banco central ao Estado),
o que está proibido pelos Tratados da UE – este é um tema que ainda
promete dar que falar.
– Para tentar aliviar essa possível interpretação, o Banco da Irlanda
irá procurar vender no mercado as obrigações irlandesas com que ficará
em balanço (que substitutem as notas promissórias) e este é referido
como um dos riscos de médio prazo da operação.
– Uma das grandes vantagens do alargamento das maturidades é o efeito
da inflação sobre a dívida: pagar 28 mil milhões de euros daqui a 34
anos é muito diferente de ter de pagar o mesmo montante hoje ou daqui a 7
ou 8 anos. O Free Exchange, da The Economist, faz um bom resumo dos
pontos essenciais do acordo (Untangling the promissory knot).
Karl Whelan, o economista que toda a gente lê para perceber a dimensão
financeira dos desafios irlandeses, aprofunda o tema no seu artigo na
Forbes (Ireland's Promissory Note Deal). Além disso, e sobre o mesmo tema, estamos também a ler:
2. Rescheduling of promissory notes is monetary financing in all but name.
Wolfgang Munchau, no FT, escreve sobre o acordo irlandês, diz que não
há dúvidas que é financiamento monetário, mas defende que mesmo assim é a
melhor forma de tentar resolver os problemas irlandeses.
3. Irish bank debt deal breaks deposit taboo.
P O Neil, no “a fistful of euros”, escreve sobre uma dimensão pouco
referida mas muito interessante da reestruturação irlandesa: alguns
depositantes deverão perder parte do seu dinheiro. (O envolvimento dos depositantes está também a ser estudado no Chipre, escreveu esta semana o FT, aqui citado pela CNBC)