O primeiro-ministro português, Passos Coelho. Fonte: DR
Enquanto a Comissão Europeia se dedica a analisar a qualidade das suas previsões – melhores que as do FMI mas piores do que as da OCDE, Passos Coelho desvalorizou, no debate quinzenal de 18 de Janeiro, as do seu próprio Governo. Mas nem sempre é assim. Nos últimos dias o primeiro-ministro desvalorizou-as quando estiveram erradas, mas destacou-as quando nelas se vê uma convergência com as do Executivo.
A 18 de Janeiro, interpelado pela deputada d'Os Verdes Heloísa Apolónia, Passos Coelho justificou as discrepâncias nas apostas do Governo para a recessão deste ano (1%) com as do Banco de Portugal (1,9%, quase o dobro). “O Governo apresentou uma previsão contida de recessão macroeconómica. Isso estava em linha com as nossas expectativas”, e com as do “FMI, BCE e Comissão Europeia”. Passos lembrou que previões são previsões: por exemplo, “houve a ideia de que a recessão seria mais grave em 2011 e não tanto em 2012, mas isso inverteu-se”.
É por isso que, continuou, “quando as instituições fazem previsões lhe chamam previsões. As previsões não estão certas nem erradas. São o exercício que fazemos com as informações disponíveis naquele momento, se outras coisas não vierem a ocorrer. Como não há bruxaria, o Governo é sempre prudente” quando as faz, explicou.
Heloísa Apolónia reagiu: “de acordo com o que nos diz, as previsões não servem para rigorosamente nada”. Ora, mas essa também não é a posição do primeiro-ministro… pelo menos quando as previsões do Banco de Portugal coincidem com as do Governo,
Na quarta-feira, por exemplo, Passos Coelho mostrou-se mais confiante nas previsões, e destacou, precisamente, o facto de todas apontarem para o mesmo cenário: “o que posso dizer e reafirmar é que todas as previsões apontam num sentido: de que, em 2014, a economia portuguesa recupere em termos de crescimento e que, por essa razão, ao longo de 2013 se espera uma inversão dessa tendência recessiva”.
Estas afirmações vão na linha do que já havia dito dias antes: “O Banco de Portugal também prevê que algures este ano haverá uma inversão no ciclo económico, isso prova que não estamos numa espiral em que a recessão é cada vez maior”. O problema é saber quando. “Saber em que mês isso vai ocorrer e o nível de crescimento que se vai registar, só um bruxo pode adivinhar”.
Perante tamanha amplitude de interpretação dos números, uma coisa é certa: um bruxo faria mesmo falta.