A voz dos jovens e a voz do Presidente

10/03/2011
Colocado por: Manuel Esteves

Hoje são vários os jornais que retiram do discurso de tomada de posse do Presidente da República um apoio implícito à manifestação da “Geração à Rasca”, deste sábado. Com efeito, a três dias do protesto, Cavaco Silva fez um “vibrante apelo aos jovens”, pedindo-lhes que “façam ouvir a sua voz”.

 

Porém, durante o seu longo e, por vezes, detalhado discurso, o Presidente da República não se referiu uma única vez às principais reivindicações dos jovens. Se é verdade que Cavaco alude, de forma bem explícita, ao “flagelo do desemprego”, acaba por nunca mencionar a questão que mais tem sido discutida no âmbito deste protesto e na sequência da mediática canção do grupo Deolinda: os baixos salários e a precariedade laboral dos jovens.

 

E esta questão é importante porque permite traçar caminhos de governação e de políticas públicas. Os partidos de esquerda e o movimento sindical batem-se, tradicionalmente, por direitos laborais rígidos e opõem-se à contenção salarial, reclamada pela Comissão Europeia e, em particular, a Alemanha. Os partidos de direita e os representantes das empresas respondem que a rigidez da legislação laboral e dos salários é um espartilho para as empresas, deprimindo a economia e, em última análise, o mercado de emprego.

 

Esta discussão esteve ausente no discurso do Presidente.

 

Cavaco Silva pediu aos jovens que “façam ouvir a sua voz”, mas não se fez ouvir sobre este problema dos jovens.

Manuel Esteves