A economia grega que vai a eleições em 11 gráficos

30/12/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge
New Democracy's Samaras Seeks Mandate From President Papoulias To Form New Greek Government

Antonis Samaras, líder da Nova Democracia (direita) e Alexis Tsipras, líder do Syriza, em 2012. Fonte: Petros Giannakouris, Bloomberg

 

Os gregos deverão escolher um novo governo a 25 de Janeiro. À frente nas sondagens (mas por pouco) vai o Syriza, de Alexis Tsipras, um partido de esquerda anti-austeridade e anti-troika. Em segundo lugar está a Nova Democracia, liderada por Antonis Samaras, o partido que desde 2012 (após vitória tangencial sobre o Syriza) conduz os destino gregos e as negociações com a troika de credores, recusando uma estratégia de choque com FMI, BCE e Comissão Europeia.

 

A Grécia foi o primeiro país da Zona Euro a ficar excluido dos mercados e a recorrer a um programa de assistência financeira da troika em Maio de 2010 – solicitado na altura pelos socialistas do PASOK, que ganharam as eleições de Outubro de 2009 para revelarem no final desse ano que, afinal, o défice orçamental grego desse ano não ficaria nos cerca de 6,7% projectados pela Comissão Europeia com base em dados do anterior governo, mas seria de 12,7% (foi de mais de 15% do PIB). A partir daí a crise saltou de nível e um ano e meio depois Portugal pedia o seu próprio resgate.

 

Cinco anos volvidos, contam-se vários  planos de austeridade, a maior reestruturação de dívida pública da história, muitas promessas e expectativas goradas entre duras negociações com a troika e uma economia colapsada. Os gregos vão a votos no final do mês, ainda sem um acesso aos mercados garantido, mas com a perspectiva de uma ligeira recuperação após o furacão. Aqui fica um retrato da economia grega nos últimos anos.

 

Economia contrai cerca de 25% entre 2009 e 2013. Primeiro ano de crescimento à vista.

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Como nos restantes países europeus, a recessão chegou antes da troika, mas o descalabro coincide com a entrada dos credores oficial em Maio de 2010. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos. A troika diz que sem ela e sem acesso aos mercados, o ajustamento grego teria sido bem mais duro. Os críticos acusam a estratégia europeia de transformar um pesadelo económico num inferno de austeridade.

 

Mais de um quarto da população activa sem emprego

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Não haverá melhor indicador do descalabro que se registou na Grécia nos últimos anos do que o abrupto aumento do desemprego para níveis que ultrapassaram os 25% da população activa. Mesmo agora, com uma ligeira recuperação à vista, esse é ainda o nível de referência. Os impactos de médio e longo prazo destes níveis de desemprego são difíceis de medir, mas não há duvidas de que esta é uma das cicatrizes mais profundas da crise.

 

Peso do investimento no PIB cai para metade

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Um dos principais indicadores sobre as restrições ao potencial de crescimento futuro de uma economia é o investimento que faz no presente. É certo que os níveis de investimento pré-crise poderiam resultar de uma economia sobreaquecida, com excesso de despesa pública e endividamento privado. Mas o que se passou nos últimos anos dificilmente dá espaço a optimismo: o peso do investimento no PIB caiu para metade de cerca de 26% para apenas 13% – o valor mais baixo da Zona Euro (em Portugal é de 15%/16% do PIB).

 

 Menos 150 mil pessoas, menos 850 mil emprego desde 2009

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Replicando um resultado habitual em contextos de crises profundas, o País viu o número de habitantes cair assim como o número de empregos. Desde 2009, segundo os dados do FMI, a Grécia perdeu 150 mil residentes (-1,3%) para cerca de 11 milhões de habitantes, e destruiu 850 mil empregos (-18%) para os 3,75 milhões.

Inflação negativa, mas pouco

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A inflação no País abrandou e registou mesmo valores negativos em 2013 e 2014, para recuperar para menos de 1% em 2015, apontam as últimas previsões do FMI. Um dos objectivos do programa de ajustamento europeu era o de promover uma desvalorização interna que permitisse uma queda de preços e salários face ao restantes parceiros europeus, de forma a oferecer competitividade via preço aos gregos. Mas o preço a pagar em termos de queda de PIB e desemprego para obter apenas dois anos de deflação é considerado por muitos como desproporcional e até aberrante. Além disso, os efeitos dessa desvalorização serão ainda menores num contexto de baixa inflação generalizada no bloco, o que impede os desejados ganhos de competitividade.

 

Dívida pública ainda ameaça

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A Grécia operou em 2012 a maior reestruturação de dívida pública da história e mesmo assim esta continua a ser a variável económica grega que mais preocupa. O “stock” de dívida continua acima dos 170% do PIB, um valor que a troika e o governo de Antonis Samaras consideram sustentável, ou pelo menos gerível no contexto de uma relação assistida entre credores oficiais e autoridades gregas. O Syriza, partido que vai à frente nas sondagens tem defendido a urgência de renegociar esta dívida de forma a libertar recursos para outra despesa pública.

 

Receita e despesas públicas com forte ajustamento

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Mesmo com o PIB a afundar 25% desde 2009, o peso da despesa pública no PIB caiu quase 10 pontos de PIB para os 47% do PIB em 2014, em linha com o registado em Portugal, acima do valor da Alemanha (44% do PIB), mas muito inferior à França (57%). Valores para alguns países de pequena e média dimensão: 54% na Bélgica, 42% no Chipre, 46% na Holanda, 46% na Eslovénia.

Do lado da receita, as sucessivas subidas de tributação também fizeram efeito: o peso da receita no PIB subiu de menos de 40% do PIB em 2009 para perto de 45% do PIB em 2014 – acima dos 43% nacionais. França e Alemanha arrecadam 52% e 44% do PIB, respectivamente. Valores para alguns países de pequena e média dimensão: 51% na Bélgica, 42% no Chipre, 43% na Holanda, 42% na Eslovénia.

 

Défice orçamental com forte ajustamento

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Após muitos planos austeridade feitos e refeitos os resultados na frente orçamental fizeram-se notar, no que é apontado pela troika como uma das provas do sucesso (relativo) da intervenção: o défice público baixou de mais de 15% em 2009 para valores abaixo dos 3% do PIB em 2014. Os críticos apontam que os resultados foram conseguidos impondo uma ruptura no funcionamento do Estado – incluindo os apoios aos mais desfavorecidos e o funcionamento do sistema de saúde – e um colapso da economia privada.

 

Exportações desiludiram

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Foi um dos falhanços na estratégia económica desenhada para a Grécia: as exportações não cresceram como previsto. O plano inicial para o ajustamento apostava numa política de fortes restrições financeiras e na promoção de uma desvalorização interna que promoveria a competitividade da economia e o crescimento pelas exportações. O problema é que tal nunca chegou a suceder verdadeiramente. Vários factores terão contribuído para essa desilusão no desempenho externo: por um lado a economia europeia teve um desempenho pior que o esperado; por outro, a estrutura das exportações gregas (turismo e transportes marítimos) não terá sido a mais favorável para reagir à crise; finalmente, fica desafiada a relação entre quedas de preços e salários e o aumento das exportações.

 

Saldo externo positivo em 2013

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O mau desempenho das exportações foi acompanhado de uma queda acentuada das importações (recuaram durante cinco anos ocnsecutivos), o que permitiu um excedente externo ao país. É outra das vitórias da troika. Mas embora não seja de menosprezar a criação de excedentes, esta arrisca a ser uma vitória de Pirro: foi conseguida em troco do colapso da economia e poderá não ser sustentável com a recuperação que se espera para os próximos anos.

 

Acesso estável ao mercado ainda por garantir

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Tal como nos restantes países da periferia, os juros exigidos ao governo grego afundaram desde meados de 2012, coincidindo com a garantia do BCE de que compraria dívida pública da Zona Euro se em risco estivesse o futuro da própria união monetária. Ainda assim, e mesmo com alguma emissões de dívida bem sucedidas em 2014, o acesso regular e estável ao mercado não está garantido. Findo o actual programa em Fevereiro, é dado como certo um programa pós-troika – pelo menos de assistência cautelar – considerado essencial para os investidores confiarem no país. (A perspectiva de chumbar nos exames da troika no final deste ano e de o Syriza chegar ao poder levaram os juros a 10 anos de perto de 5% em Setembro para quase 10% no final do ano).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rui Peres Jorge