Arquivo mensal: Março 2013

Arquitectos da reestruturação grega propõem resgate alternativo para Chipre

19/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

T-shirt à venda para turistas no Chipre Fonte: Chris Ratcliffe / Bloomberg

 

Lee
Buchheit e Mitu Gulati, os arquitectos da reestruturação grega, estão a
fazer furor com um texto de ontem onde propõem um plano alternativo
para o resgate cipriota. Em “Walking Back From Cyprus
os autores criticam a opção europeia de atacar os depósitos de valor
inferior à garantia euopeia de 100 mil euros ao mesmo tempo que se
protegem os detentores de obrigações do Estado grego. A sua solução, passa por proteger
esses depositantes, fazer uma reestruturação ligeira da dívida pública
grega e dos depósitos nos montantes acima de 100 mil euros, mas sempre
garantindo o capital e alguns juros. Vale a pena ler.

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Imposto cipriota sobre depósitos renderia 18 mil milhões de euros em Portugal


Colocado por: Rui Peres Jorge

Vítor Gaspar, ministro das Finanças português e Luis de Guindo, ministro da Economia espanhol, num Eurogrupo. Fonte: Jock Fistick / Bloomberg

 

Mais
um grande evento na Zona Euro: um novo resgate e mais um porta aberta à
forma de financiamento dos Estados: taxas sobre património e neste
caso, mais concretamente, sobre depósitos. Quanto renderia nos
periféricos? Bom, segundo a Goldmans Sachs um impostos cipriota em
Portugal poderia render 18 milhões de euros (11% do PIB).

Inflação de 0% em Fevereiro

12/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

Os preços não variaram em Fevereiro deste ano face a 2011, mediu o INE. Filipe Garcia, da IMF, comenta os resultados, diz que a inflação só não foi negativa porque o preços dos combustíveis subiu, mas lembra também que Fevereiro é tipicamente um mês de inflação baixa. José Miguel Moreira, do Montepio lê neste valor um sinal de confirmação das análises que vieram fazendo durante o ano passado de que as pressões inflacionistas de 2012 seriam, em grande medida, temporárias. 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Exportações de Janeiro são bom augúrio para 2013


Colocado por: Rui Peres Jorge

Exportações de bens cresceram 5,6% em Janeiro, mediu o INE. Filipe Garcia, da IMF, analisa os dados referentes aos três meses findos em Janeiro para evidenciar que, nesse período, a redução do défice comercial aconteceu mais pela queda das importações do que pelo crescimento das exportações. Ainda assim, resultado positivo, sem dúvida, diz. José Miguel Moreira, do Montepio, evidencia por seu lado, o bom arranque de 2013 com os dados de Janeiro a apontarem para um uma recuperação significativa das exportações. Paula Carvalho, do BPI, faz uma leitura semelhante e espera que que o pior, no que ao mercado externo diz respeito, esteja para trás. 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

Há três trimestres que as exportações não crescem

11/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

O INE confirmou uma queda do PIB de 3,2% em 2012. O mau desempenho das exportações foi evidente no último trimestre, mas não se confinou ao final de 2012: há três trimestres consecutivos que as exportações não crescem, nota a equipa de economistas da Universidade Católica que, pela positiva, destaca um abrandamento da queda do investimento. Filipe Garcia, da IMF, também sublinha a rasteira que as exportações estão a colocar à retoma e associa a menor queda do investimento com uma “ligeira melhoria nas condições de financiamento da economia”. José Miguel Moreira, do Montepio, salienta o mau desempenho das exportações e do consumo privado. O Montepio espera agora uma recessão entre 2% e 2,5%.   

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A estimativa final do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) português do 4ºT2012 veio confirmar a contracção em cadeia de 1.8%, reportada na estimativa inicial, a qual, recorde-se, se havia revelado superior às nossas perspectivas, que eram idênticas à mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (-1.0%). Trata-se de uma duplicação do ritmo de contracção observado no 3ºT2012 e da maior queda desde o 1ºT2009, quando a economia mundial se encontrava em plena Grande Recessão.

 

2. De resto, também a contracção de 0.6% observada no conjunto da Zona Euro foi a maior desde aquele trimestre. O actual período de recessão já dura há 9 trimestres, sendo que no ano de 2012 se registou simultaneamente a menor (-0.1% no 1ºT2012) e a maior contracção trimestral durante esta recessão. Em termos homólogos, o PIB contraiu 3.8%, também confirmando a estimativa inicial e representando igualmente a maior queda desde o 1ºT2009 (-3.5% no 3ºT2012). Esta maior queda da economia portuguesa no 4ºT2012 teve consequências para o comportamento anual, pelo que no conjunto do ano de 2012 acabou por se observar uma diminuição do PIB de 3.2% (-1.6% em 2011), uma contracção superior à nossa anterior previsão (-3.0%, idêntica à do Banco de Portugal e à da troika).

 

3. Tratou-se de uma forte aceleração do ritmo de queda anual da economia, com este comportamento a resultar, segundo o INE, de uma diminuição do contributo positivo da procura externa líquida, que passou de 4.7 p.p. em 2011 para 3.9 p.p., em resultado da desaceleração das exportações de bens e serviços, e o contributo negativo mais significativo da procura interna, traduzindo a redução mais intensa do consumo privado.

 

4. Em termos de perspectivas, recorde-se que com a divulgação da Proposta de OE 2013, já tínhamos revisto em forte baixa a previsão de crescimento para 2013, para uma queda de cerca de 2.0%, bem mais acentuada do que a prevista no OE 2013 (-1.0%). Em termos trimestrais, para o 1ºT2013 prevê-se uma queda do PIB inferior à do 4ºT2012 (na ordem de -0.5%, e que poderá mesmo se aproximar da que se verificou no período homólogo de 2012: -0.1%), embora a informação disponível ainda seja escassa.

 

5. A procura interna deverá continuar condicionada pelos efeitos directos no consumo privado da subida de impostos, pela continuação da redução dos gastos públicos (quer de consumo corrente, quer de investimento), com o investimento privado a ser penalizado pelo excesso de capacidade instalada e pelas expectativas dos empresários.

 

6. Admitindo posteriormente uma certa estabilização da actividade no 2ºT2013 e no 3ºT2013 e o início da recuperação (em cadeia) no final do ano (ainda que a ritmos baixos, continuando condicionada pela desalavancagem do sector privado e pela consolidação orçamental), as previsões de uma descida do PIB de 2% em 2013 parecem inclusivamente optimistas, na medida que o “carry-over” negativo é de 2%. Isto é, se o PIB ao longo dos 4 trimestres de 2013 fosse idêntico ao do 4ºT2012 a economia cairia 2%. Neste sentido, mantemos o que já tínhamos afirmado aquando da estimativa preliminar: a contracção do PIB em 2013 deverá situar-se entre 2.0% e 2.5%.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. A trajectória global da economia portuguesa continua a ser negativa, reflectindo as condições que já vinham de trimestres anteriores, nomeadamente as dificuldades de financiamento, queda da confiança, desaceleração da Zona Euro e medidas de austeridade que afectam empresas e famílias.

 

2. No contexto do programa de ajustamento, resulta claro que só a procura externa seria capaz de mitigar o mau desempenho da procura interna. Os números de hoje confirmam que no quarto trimestre de 2012 as exportações não tiveram o mesmo comportamento de trimestres anteriores, pelo que a evolução PIB foi muito influenciada pelos esperados recuos no consumo privado, gastos públicos e investimento.

 

3. Este comportamento menos positivo das exportações estará relacionado com o mau desempenho da economia espanhola e com a greve dos portos, mas deve ser lido num contexto global de abrandamento económico. A generalidade das economias mundiais registou um abrandamento ou mesmo um recuo no último trimestre de 2012, a que Portugal não ficou imune. A queda menos pronunciada do investimento estará relacionada a uma ligeira melhoria nas condições de financiamento da economia, mas esta componente está ainda longe de apresentar um contributo positivo par ao PIB.

 

4. Naturalmente, para que o processo de convergência orçamental originalmente acordado tenha alguma hipótese de ter sucesso, será necessário que a economia portuguesa estabilize em termos de queda do produto. Os números do INE confirmam o que todos observam – essa estabilização ainda não ocorreu. Desta forma, o cumprimento dos objectivos será consecutivamente adiado até que o produto comece a crescer.

5. Para 2013 espera-se que todas as componentes da procura interna voltem a ter um comportamento negativo que é relativamente previsível (-3.7% segundo a CE e -4% segundo o BdP). Deste modo, os resultados da economia portuguesa em termos de evolução do PIB estarão sobretudo ligados ao comportamento da balança comercial, portanto, do comportamento da economia mundial.
Pela positiva, destaque-se a capacidade de a economia nacional se auto financiar, permitindo a estabilização da dívida externa, o que acontece pela primeira vez em muitos anos.

 

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1. No 4º trimestre de 2012, a economia portuguesa registou uma contracção de 1,8% face ao trimestre anterior e de 3,8% em termos homólogos (-0,9% e -3,5%, respectivamente, no 3º trimestre). Este é o nono trimestre consecutivo de quebra do PIB, que em termos reais atingiu no último trimestre de 2012 o seu valor mais baixo desde 2000. A taxa média de crescimento do PIB em 2012 foi de -3,2% (-1,6% em 2011).

 

2. O desempenho particularmente negativo do PIB no último trimestre de 2012 repete o cenário já observado no final de 2011 (no 4ºT de 2011, o PIB registou uma contracção de 1,6% em cadeia). Esta semelhança sugere a influência de factores comuns, como a reacção antecipada dos agentes económicos às medidas de redução do défice inscritas no Orçamento do Estado e eventuais fenómenos  contabilísticos e de calendário. A ser assim, uma componente substancial deste mau resultado pode ser pontual.

 

3. O final de 2012 foi dominado pelo mau desempenho das exportações, que registaram uma forte quebra em cadeia (a maior desde o 1º trimestre de 2009). Note-se ainda que este é o terceiro trimestre consecutivo sem crescimento real das exportações, o que acentua a preocupação. Parte substancial deste resultado negativo advém do segmento de serviços, que se tem mostrado especialmente sensível à conjuntura europeia. Também o consumo privado registou uma forte quebra, dominada novamente pelo segmento de bens duradouros. É uma quebra explicada, em larga medida, pela diminuição do rendimento disponível das famílias, mas que pode ter sido também muito influenciada pelos referidos factores pontuais.

 

4. Pela positiva, é de destacar a melhoria ligeira do investimento, depois da evolução positiva já verificada no 3º trimestre. É importante realçar que esta melhoria tem um significado bastante relativo: em termos reais, os níveis absolutos de investimento permanecem abaixo dos registados em 1996 e a contracção média deste agregado em 2012 situou-se próximo dos 14%. Contudo, perante os indicadores disponíveis não é excessivo admitir que o investimento em Portugal pode ter atingido patamares mínimos e que, caso as condições de financiamento continuem a melhorar, possamos ter já em 2013 um cenário mais animador.