Quanto vale (mesmo) o sistema bancário?

14/12/2011
Colocado por: Pedro Romano

A importância dos bancos enquanto mediadores de fluxos financeiros é bastante consensual. O sistema financeiro capta as poupanças dos agentes económicos com excedentes e canaliza-as para os agentes económicos com défices financeiros, garantindo aos primeiros que as suas poupanças poderão ser remuneradas com juros e aos segundos que os seus investimentos não serão travados por falta de capital. Mas estaremos a medir bem a importância deste serviço?

 

Para “quantificar” este serviço, os estaticistas costumam utilizar o modelo aplicado ao resto da economia, que consiste em medir o Valor Acrescentado Bruto (VAB). De forma simplificada: VAB = Produção (vendas) – consumos intermédios (inputs do processo produtivo). Na óptica do sistema bancário, isto pode ser apurado (de novo, de forma simplificada) através da diferença entre os juros cobrados aos agentes económicos a quem o empréstimo é feito e os juros pagos ao aos financiadores (depositantes, compradores de obrigações, etc.).

 

Um problema identificado por Christina Wang, investigadora da Reserva Federal de Boston, explicitado no artigo “Real Output of Bank Services: What Counts Is What Banks Do, Not What They Own” e resumido em What is the value added of banks, no Vox, é que este sistema faz com que o VAB bancário (VABb, de agora em diante) aumente contabilisticamente apenas pelo facto de o banco em causa estar a fazer empréstimos mais arriscados – e, logo, necessariamente mais rentáveis. O paradoxo é fácil de entender: se um banco enveredar por actividades mais arriscadas, verá o VABb aumentar apesar de não estar, de facto, a aumentar (ou melhorar a qualidade) da sua produção.

 

O que fazer? Segundo a economista, a solução será reajustar o VABb, introduzindo um factor de ponderação do risco. Wang utilizou o procedimento para tentar recalcular o VABb e concluiu que, quando o nível de risco dos activos é levado em conta, aquele diminui em cerca de 21%. A banca continua a dar um contributo grande para o PIB americano, mas consideravelmente menor do que na forma ortodoxa de cálculo do PIB.

 

 

 

 

Outra implicação é que o retorno do capital investido na banca torna-se também mais baixo. Na verdade, calcula a economista, a taxa de retorno da “indústria bancária”, fica mais baixa do que no resto da economia quando o VABb é reduzido através da nova forma de cálculo. “In fact, banks appear to generate slightly lower returns than the average firm”, lê-se na coluna da Vox.

 

 

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