Somos cada vez mais a Grécia: correlação de 0,91 nos juros

20/12/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A propósito da queda da taxa de juro das obrigações portuguesas a 10 anos abaixo da barreira dos 7%, Luciano Amaral, no Crise Crónica (obrigado ao Pedro Lains), lembra-nos que “Nós somos a Grécia“. Uma simples análise à correlação entre as taxas de juro das obrigações a 10 anos de Portugal e da Grécia permite-nos ir um pouco mais longe e afirmar que, pelo menos desde Julho deste ano, nós somos cada vez mais a Grécia. Se tal for efectivamente verdade então desaconselham-se quaisquer euforias sobre o que nos está a dizer este indicador de mercado.

 

Ninguém pode deixar de ficar satisfeito ao ver a taxa de juro portuguesa baixar a fasquia dos 7%. Mesmo sabendo-se que não há um mercado para estes títulos – em que se possa confiar na sua tarefa essencial de criar preços – a taxa das obrigações a 10 anos é sempre uma referência e a barreira dos 7% um símbolo. 

 

Perante uma certa euforia em torno dos resultados e das suas leituras nacionais, Luciano Amaral veio hoje defender que a baixa de juros em Portugal se deve essencialmente ao último acordo dos ministros das Finanças do euro que, no final de Novembro, avançou com uma leve renegociação da dívida grega – o que sinalizou, no seu entender, que os líderes europeus se comprometeram a tudo fazer para salvar a Grécia.

 

Esta ideia de que tudo será feito para manter a Grécia no euro (ou qualquer outro país da Zona Euro) surgiu pela primeira vez com credibilidade pela voz de Mario Draghi em Julho, quando avisou que o BCE faria “o que for preciso” para salvar o euro, acrescentando-lhe: “acreditem, vai ser suficiente”. (Na The Atlantic há mesmo que defenda que a Time teria feito melhor colocar Draghi no lugar de Obama como personalidade do ano de 2012).

 

Uma análise à correlação dos juros permite representar o poderoso impacto das declarações de Draghi: no ano entre 20 de Dezembro de 2011 e 20 de Dezembro de 2012, o coeficiente de correlação entre as taxas de juro de Portugal e da Grécia foi de 0,79. Desde 27 de Julho para cá (dia seguinte ao discurso do presidente do BCE), o coeficiente de correlação subiu para 0,91, suportando que, de faacto, nós somos cada vez mais a Grécia. (A correlação entre os vários países do Sul em dificuldades também aumentou de forma muito significativa).

 

 

  

Um coeficiente de correlação de “1” significa que as duas variáveis (juros de Portugal e juros da Grécia) variam exactamente no mesmo sentido e proporção; Já uma correlação de “-1” significa exactamente o oposto: quando um sobe, outro desce na mesma proporção. É essencial ter presente que, como explica Pedro Rodrigues correlação não é causalidade. Ou seja, a elevada correlação não significa que seja a Grécia a determinar o comportamento dos juros de Portugal, ou vice versa. Mas significa que estamos cada vez mais alinhados com a Grécia e que o BCE teve um papel essencial.

 

Olhando para o que a Grécia tem pela frente (envolvendo provavelmente mais perdas na sua dívida nomeadamente para Estados da Zona Euro), considerando os riscos em torno de Espanha e Itália, e tendo presentes as elevadas correlações entre os juros destes países, desaconselham-se euforias sobre os recentes resultados registados nos juros portugueses: são um sinal de melhores condições na Europa. Ajudam o País, mas estão ainda longe de significar um passo seguro no sentido do regresso aos mercados em 2013.

 

 

 

 

 

Rui Peres Jorge