Os indicadores de confiança do INE e da Comissão Europeia diferem na avaliação que fazem da confiança dos consumidores (INE diz que caiu em Maio, Comissão diz que aumentou). Ambas as instituições apontam, sem surpresa, para uma degradação da situação económica no País. Miguel Moreira do Montepio analisa em detalhe os dados da Comissão Europeia e conclui que apontam para uma contracção do PIB de 0,4%. O NECEP, que também analisou os dados da Comissão, também faz uma análise negativa, mas evidencia que “os indicadores relacionados com a actividade externa continuam a apresentar uma evolução razoável, o que representa um factor esperança num quadro em que a procura interna enfrenta uma forte correcção em baixa”.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Núcleo Estudos de Conjuntura sobre Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
1. No mês de Maio, o indicador de sentimento económico de Portugal elaborado pela Comissão Europeia registou nova quebra, evoluindo abaixo da sua dinâmica recente. Este indicador mantém-se, por isso, em patamares absolutos extremamente baixos – semelhantes aos observados em meados de 2009 -, substancialmente inferiores ao seu valor médio e consistentes com um cenário de contracção da actividade económica.
2. Este resultado negativo reflecte uma tendência transversal aos diversos sectores de actividade, não obstante algumas oscilações mensais (sobretudo no caso dos consumidores), determinadas pela sucessão de eventos marcantes que têm afectado a economia portuguesa. Apesar de tudo, os indicadores relacionados com a actividade externa continuam a apresentar uma evolução razoável, o que representa um factor esperança num quadro em que a procura interna enfrenta uma forte correcção em baixa.
Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. Indicador de Sentimento Económico da CE registou uma descida de 1.9 pontos, em Maio, para 85.2 pontos, representando a 3ª consecutiva, depois de já ter caído 1.6 e 6.0 pontos nos dois meses anteriores, ficando, agora, num mínimo desde Outubro de 2009, reflectindo uma nova degradação da Confiança na generalidade dos sectores, com as únicas excepções da Confiança dos Consumidores e do Comércio a Retalho, ambas ligadas ao Consumo, mas depois de terem sido das mais penalizadas (em termos médios) nos dois anteriores meses.
2. Em termos trimestrais, e apesar de ainda com um terço da informação relativa ao 2ºT2011 em falta, o Indicador de Sentimento Económico encontra-se a sinalizar uma queda de 0.4% do PIB (admitindo que permanecerá, em Junho, no nível médio observado nos dois primeiros meses do trimestre – uma hipótese algo conservadora –, na medida em que implicará, inclusive, uma subida mensal do Sentimento Económico), que passará a ser de 0.5% se assumirmos que o indicador cairá em Junho o mesmo que desceu, em média, nos dois anteriores meses. Trata-se de um resultado que, para já, e ainda sem qualquer dado quantitativo disponível, não temos ainda muitas bases para contrariar, com o nosso cenário central a ser, de resto, igualmente o de uma contracção da actividade, eventualmente, superior – de acordo com as últimas previsões económicas da própria CE, a economia deverá experimentar uma queda bastante mais intensa no 2ºT2011 (-1.4%), um valor que, para já, também consideramos excessivo – e que representará a 3ª descida trimestral consecutiva do PIB português, depois da contracção de 0.7% observada no 1º trimestre do ano.
3. A Confiança dos Consumidores registou uma subida de 4.3 pontos, em Maio, para -49.2 pontos, corrigindo parcialmente das quedas evidenciadas nos últimos dois meses (-6.8 pontos, em Abril), que, recorde-se, haviam provocado uma correcção de um máximo desde Setembro de 2010 para um mínimo de Fevereiro de 2009, ou seja, quando a economia se encontrava em recessão. A Confiança foi impulsionada, precisamente, por aquela componente que mais a havia penalizado nos dois meses anteriores – as Expectativas relativamente à evolução da Economia –, reflectindo, na altura, as expectativas relativamente ao impacto das medidas de austeridade, a que se somaram as medidas entretanto impostas pela Troika. Na verdade, e não obstante esta correcção, a Confiança dos Consumidores permaneceu bastante abaixo da sua média histórica e a sinalizar uma contracção do Consumo Privado, de 0.6% (admitindo que a Confiança permanecerá, em Junho, no nível médio observado nos dois primeiros meses do trimestre), uma queda, ainda assim, inferior à que prevemos ter-se observado no 1ºT2011 – de cerca de 1.0%, a avaliar pela indicação dada pelo nosso Indicador Compósito para o Consumo Privado –, atendendo à antecipação do Consumo registada no 4ºT2010. A subida da Confiança resultou das já referidas Expectativas mais favoráveis, sobretudo, relativamente à Economia, mas, também, para a Situação Financeira do Agregado Familiar e para as Expectativas de Poupança, originando, em qualquer uma destas componentes, ligeiras correcções face aos mínimos históricos das séries (iniciadas em 1986) observados no mês anterior.
4. As Expectativas de Desemprego também revelaram um comportamento favorável, mas apenas corrigindo cerca de metade do que se havia deteriorado no mês anterior, permanecendo em níveis compatíveis com a destruição de Emprego. Fora dos indicadores que não concorrem para o Indicador de Confiança dos Consumidores, a única queda observou-se na componente de Expectativas face a Grandes Aquisições, o que facilmente se compreende, na medida em que, perante o esperado maior aperto nas condições de vida dos portugueses, será, precisamente, neste tipo de bens – tipicamente, menos essenciais – que os Consumidores irão cortar. Refira-se que, com estes dados mais favoráveis para os índices de Expectativas, estes permaneceram, em regra, acima dos indicadores análogos referentes à Situação dos últimos 12 meses, o que não deixa de constituir um sinal animador (embora historicamente também seja essa a tendência).
5. Do ponto de vista dos empresários, o comportamento ao nível dos sectores foi globalmente desfavorável, com a única excepção a vir do lado do Comércio a Retalho – que, tal como a já referida Confiança dos Consumidores, fora das mais penalizadas nos últimos meses –, embora tendo permanecido relativamente inalterada, subindo apenas 0.1 pontos, depois de uma perda acumulada de 12.1 pontos, nos 3 anteriores meses, que a haviam colocado em mínimos desde Julho de 2009. A Construção foi dos sectores que registou uma maior quebra da Confiança (-2.0 pontos), tendo sido o único a cair para níveis mínimos desde o início da série (em 1989) e reforçando, assim, a sua posição de sector de actividade em que os empresários se encontram mais pessimistas, reflectindo, designadamente, o fraco nível da Carteira de Encomendas (que, de resto, observou um novo agravamento). A Confiança dos Serviços caiu pelo 3º mês consecutivo, passando, neste período, de um máximo desde Julho, para um mínimo desde Novembro de 2009, mas, em Maio, evidenciando uma degradação apenas nas componentes de Situação, com as de Expectativas (Procura e Emprego nos próximos 3 meses) a corrigirem de duas quedas consecutivas. Por último, a Indústria, se, em Abril, havia sido a única a observar uma melhoria da Confiança, registou, agora, uma queda (a mais intensa entre os sectores analisados, de 3.6 pontos), mais do que anulando a anterior subida e caindo para um mínimo desde Junho de 2010, pese embora representando, apenas, a 2ª descida dos últimos 7 meses, permanecendo como o sector em que os empresários se revelam menos pessimistas, seguido do dos Serviços.
6. De referir que, apesar de, neste mês, até terem revelado um comportamento menos favorável do que no mês anterior, os empresários continuaram a apresentar-se mais pessimistas relativamente à Produção nos últimos 3 meses do que nos próximos 3, pese embora tendo regressado a níveis que teoricamente sugerem a diminuição da Produção nos próximos três meses (ainda que marginal), após ter estado, em 4 dos anteriores 5 meses, a sugerir aumentos (igualmente marginais).
7. Ao nível dos indicadores de Expectativas de Emprego dos empresários (próximos 3 meses) do survey da CE, assistiu-se a uma ligeira melhoria, de 2.4 pontos, para -14.5 pontos, embora depois de 5 quedas consecutivas (-5.8 pontos, no mês anterior), que as haviam colocado num mínimo desde Maio de 2009, tendo sido beneficiadas, essencialmente, pelos Serviços (apesar de na Indústria também se ter registado uma ligeira subida, permanecendo com o nível mais elevado, embora, em termos teóricos, ainda negativo), e com a Construção a registar a maior queda, continuando, neste caso, como o sector mais penalizado. Apesar desta ligeira correcção, as Expectativas de Emprego para o total da economia permaneceram afastadas do limiar teórico da criação de Emprego, sendo que, do ponto de vista empírico, depois de 5 meses a sinalizar um crescimento do Emprego, passaram, pelo 5º mês consecutivo, a evidenciar uma eliminação de postos de trabalho, algo que, de resto, vai de encontro ao nosso cenário de degradação da situação do Mercado Laboral, atendendo à esperada contracção da actividade no decurso deste ano. Também os Consumidores (mais sensíveis às medidas de austeridade anunciadas) melhoraram ligeiramente as suas Expectativas de Desemprego para os próximos 12 meses, mas corrigindo apenas parcialmente das deteriorações observadas nos dois meses anteriores (que as haviam colocado em mínimos desde Junho de 2009), permanecendo, também, teórica e empiricamente consistentes com um agravamento do Desemprego na economia portuguesa.
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