Segundo publicou hoje o INE, a economia portuguesa continua em contracção face a 2012, mas voltou a registar um crescimento em cadeia entre Julho e Setembro (0,2%). Para Rui Bernardes Serra, economista chefe do Montepio, “apesar desta estimativa do INE ter ficado aquém das nossas expetativas, continuamos a considerar que, de um modo geral, os sinais das nossas estimativas estão corretos”, continuando a apostar numa quebra de 1,6% do PIB para este ano. Ligeiramente abaixo da previsão do Governo (-1,8%). Os economistas do NECEP da Universidade Católica não têm dúvidas: “De facto, os sinais positivos são inequívocos.” Já Filipe Garcia, do IMF, avisa que os riscos nos próximos trimestres estão relacionados “com a aplicação do Orçamento 2014, com ou sem alterações que decorram do Tribunal Constitucional, que pode influenciar negativamente a procura interna”.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio
1 – A estimativa preliminar do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal no 3ºT2013 apontou para uma subida de 0.2%, inferior à mediana das projeções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.3%), bem como as nossas perspetivas um pouco mais otimistas (Montepio: +0.5%), devendo o nosso erro de previsão estar associado sobretudo ao facto de as exportações líquidas poderem ter apresentado um contributo negativo ainda superior ao que tínhamos estimado. Note-se que este crescimento de 0.2% surge após um avanço de 1.1%, o maior desde o 1ºT2007 (+1.5%).
2 – Com esta estimativa inicial o INE ainda não divulga dados em detalhe do PIB. Apesar desta estimativa do INE ter ficado aquém das nossas expetativas, continuamos a considerar que, de um modo geral, os sinais das nossas estimativas estão corretos, com a procura interna a apresentar um contributo positivo (suportada pelos contributos positivos do consumo privado e do investimento em capital fixo e penalizada apenas pelo contributo negativo do consumo público) e com as exportações líquidas, como referido, a terem um contributo negativo. Relativamente à ótica da oferta, a atividade económica no 3ºT2013 terá sido suportada por um ligeiro crescimento dos serviços, por um crescimento da construção, enquanto o setor industrial, ao contrário do que tínhamos estimado anteriormente, poderá ter penalizado o crescimento do PIB.
3 – Para o conjunto do ano de 2013, continuamos a apontar para uma queda de 1.6%, em linha com o previsto recentemente pelo Banco de Portugal (8-out) e menos desfavorável do que os -1.8% constantes da Proposta de OE 2014, esta última uma previsão que também já havia sido avançada pelo Executivo e pela troika, no âmbito da apresentação dos resultados da 8ª e 9ª avaliação à execução do PAEF.
4 – Apontamos para que a economia regresse aos crescimentos consistentes (mas moderados) sobretudo a partir da primavera de 2014, já que até lá a procura interna será condicionada, quer pelo referido anúncio, quer pela entrada em vigor, no início de 2014, das novas medidas de consolidação orçamental constantes do OE 2014. Em termos anuais, mantemos a nossa previsão de um crescimento de 0.5% em 2014, inferior aos 0.8% previstos pelo Governo.
Filipe Garcia – IMF
1 – É um número positivo. Trata-se do segundo crescimento positivo em cadeia, o que não acontecia desde o 3º trimestre de 2010. Em termos homólogos é a taxa de crescimento menos negativa desde o 2º trimestre de 2011. No mesmo trimestre a Zona Euro cresceu 0.1% em cadeia e contraiu 0.4% em termos homólogos.
2 – Prossegue o processo de estabilização da economia portuguesa, desta vez mais com base numa queda menor do consumo privado do que pelo contributo da procura externa. Este é um número coerente com outros indicadores avançados e coincidentes entretanto divulgados. É importante notar que o PIB cresceu em cadeia e que, segundo o INE, o trimestre anterior tinha sido influenciado de forma positiva via exportações devido a um efeito de calendário. É mais um aspeto positivo deste número.
3 – Mesmo com a recuperação registada, segundo os dados da Reuters, o PIB está ainda cerca de 7% abaixo do que se registava no “pico” antes da crise. Assumindo que o contexto internacional seja favorável, os riscos estão relacionados com 2014, nomeadamente com a aplicação do Orçamento 2014, com ou sem alterações que decorram do Tribunal Constitucional, que pode influenciar negativamente a procura interna. Em junho terminará o programa de ajustamento e a forma como o país se financiará a partir daí, seja com outro “resgate”, com um plano cautelar, ou algo diferente, também influenciará de forma importante o comportamento do PIB.
Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
1 – No 3.º trimestre de 2013, a economia portuguesa registou uma subida de 0.2% face ao trimestre anterior e uma quebra de 1.0% em termos homólogos, evoluindo acima da sua dinâmica recente. Confirmaram-se, desta forma, os sinais favoráveis do segundo trimestre, com o crescimento em cadeia a permanecer em terreno positivo, apesar da desaceleração face ao 2.º trimestre (crescimento de 1.1%).
2 – O crescimento do PIB no 3.º trimestre reflete uma dinâmica menos desfavorável do consumo privado, e mesmo a aceleração registada nas importações pode sinalizar alguma recuperação do investimento. O ritmo de crescimento das exportações deverá ter abrandado, embora permaneça em patamares elevados em termos históricos.
3 – O comportamento hesitante de algumas variáveis no 3.º trimestre mantém viva a hipótese de recuperação cíclica. De facto, os sinais positivos são inequívocos. Ainda assim, o crescimento pode também ter sido suportado por algum relaxamento orçamental que, aliás, terá contribuído para a revisão em alta do crescimento no 2.º trimestre.
4 – O crescimento trimestral em Portugal está agora alinhado com o da zona euro (0.1%) sendo até ligeiramente mais favorável face ao das principais economias comparáveis tais como Espanha e Itália.”
Paula Carvalho – Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
1 – Os resultados do PIB estão em linha com aquilo que estávamos à espera. O consumo privado teve uma variação menos negativa e terá sido influenciado pelo comportamento dos bens duradouros, que tinham atingido níveis dos anos 90, pelo que qualquer variação pode ter um impacto significativo, através do efeito base. Ao mesmo tempo, o consumo de bens duradouros poderá estar relacionado com o aumento das importações, também referido pelo INE.
2 – No último trimestre poderá observar-se nova queda do PIB, devido ao anúncio de novas medidas de austeridade para 2014, que poderão levar as famílias a antecipar poupanças e ter um comportamento mais cauteloso, mesmo que o seu rendimentos disponível não seja afectado.
3 – No entanto, o mais relevante é continuar a observar-se uma recuperação. Apesar de ser um erro concentrar a análise em dados em cadeia, a verdade é que a comparação homóloga mostra também um desagravamento progressivo da queda do PIB. A economia parece mesmo ter batido no fundo no primeiro trimestre deste ano.
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