Portugal pode ter escapado à contracção no 4Tri. 2010

31/01/2011
Colocado por: massamonetaria

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

Os indicadores de produção industrial e vendas a retalho divulgados hoje pelo INE permitem esperar que Portugal tenha escapado à contracção do PIB no último trimestre do ano passado. Essa é pelo menos a leitura e expectativa de José Miguel Moreira, do departamento de estudos do Montepio.

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio: “Vendas a Retalho – Antecipação do Consumo de Bens Duradouros suporta crescimento do Consumo Privado, no 4ºT2010

 

1. As Vendas a Retalho, deflacionadas e corrigidas de sazonalidade e de dias úteis, registaram um forte acréscimo mensal de 4.7%, em Dezembro, a segunda dos últimos três meses e corrigindo do igualmente forte decréscimo observado no mês anterior (-4.1%, em Novembro). O acréscimo reflectiu um comportamento favorável de ambos os agrupamentos, com as Vendas de Produtos Alimentares a subirem 4.3% (-4.2%, em Novembro), enquanto as de Produtos Não-Alimentares cresceram 5.1% (-4.0%, no mês precedente).

 

2. Apesar desta melhoria mensal, em termos trimestrais, e completada a informação relativa ao 4ºT2010, as Vendas a Retalho evidenciam um decréscimo de 2.0% (-2.7%, apenas com os dados de Outubro e Novembro), depois do acréscimo de 0.6% observado no 3ºT2010.

 

3. Este comportamento favorável das Vendas a Retalho no final do trimestre já era esperado, essencialmente ao nível das aquisições de bens duradouros, antecipando o anunciado aumento da taxa de IVA no início deste ano, efeito que, de resto, ocorreu, igualmente, e de forma mais notória, com as Vendas de Automóveis (componente que, como é sabido, não faz parte das estatísticas das Vendas a Retalho) – que subiram fortemente em Dezembro (+43.7%, quando ajustadas de sazonalidade – cálculo do Departamento de Estudos do Montepio), constituindo, dessa forma, o suporte temporário do Consumo Privado que temos vindo a defender.

 

4. Reflectindo este comportamento favorável das Vendas a Retalho, o Indicador Compósito para o Consumo Privado, calculado pelo Departamento de Estudos do Montepio, manteve-se a sinalizar um crescimento trimestral deste agregado de 0.6%, no 4ºT2010, mas, agora, com riscos ascendentes, representando, assim, um regresso ao crescimento (-0.2%, no 3ºT2010), mas que deverá ser fugaz, já que deverá voltar a contrair neste início de 2011. Com efeito, o principal factor responsável pela expansão nesse trimestre – a já referida antecipação de aquisições de Bens Duradouros (com destaque para os Automóveis) decorrente do agravamento da carga fiscal, no início deste ano – irá, por sua vez, exercer uma pressão adicional sobre o Consumo, no 1ºT2011, ademais mediante a redução do Rendimento Disponível real das famílias que as medidas de austeridade agora implementadas irão provocar.

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio: “Evolução mensal da produção industrial favorável não evita o regresso às contracções do VAB da Indústria, no 4ºT2010”

 

1. A Produção Industrial, ajustada de sazonalidade e de efeitos de calendário, registou um forte acréscimo de 3.8%, no último mês de 2010, depois de já ter expandido 0.9% no mês anterior (valor revisto em alta, em 0.2 p.p.), embora colocando a actividade industrial apenas num nível máximo desde Agosto de 2010, resultado das intensas quedas que haviam sido observadas nos dois meses precedentes (-1.9%, em Outubro, e -4.2%, em Setembro).

 

2. Em termos de Grandes Agrupamentos Industriais, apenas o de Bens de Consumo evidenciou um contributo negativo (-1.2 p.p.), com o agrupamento da Energia, por outro lado, a apresentar um contributo determinante para a variação mensal favorável do índice total (+3.9 p.p.), originado por um forte acréscimo variação mensal de 23.4%

 

3. Terminada a informação relativa ao 4ºT2010, a Produção Industrial exibe, em termos trimestrais, uma contracção de 1.7%, depois de ter apresentado uma relativa estagnação nos dois trimestres anteriores (-0.2%, no 3ºT2010, e -0.1%, no 2ºT2010), um comportamento negativo, mas, ainda assim, menos intenso do que era sugerido apenas com os dados de Outubro e Novembro (-2.4%). Neste sentido, e depois do VAB da Indústria ter registado, no 3ºT2010, um ligeiro crescimento trimestral de 0.1%, representando a 3ª expansão consecutiva do sector, com a actividade no sector a ascender ao nível mais elevado desde o 4ºT2008, este terá regressado às contracções no último trimestre de 2010, trimestre que, conforme temos vindo a referir, foi especialmente marcado pelas medidas de austeridade anunciadas pelo Governo 

 

4. No entanto, com estes dados mensais favoráveis sobre o sector industrial (embora, em parte, já esperados), bem como com a igualmente já aguardada evolução positiva das Vendas a Retalho, no final de 2010, mantemos a nossa perspectiva de uma estagnação trimestral do PIB, no 4ºT2010 – de acordo com a indicação dada, actualmente, pelo nosso Indicador Compósito para o PIB português -, com a economia a dever, assim, ter conseguido evitar a contracção (contra a previsão das principais entidades), embora impulsionada, essencialmente, por um factor extraordinário – antecipação nas aquisições de Bens Duradouros, atendendo ao agravamento da carga fiscal neste início de ano.

 

5. Este efeito extraordinário tem, no entanto, um reverso da medalha, com  a antecipação do consumo a dever, por sua vez, provocar uma pressão adicional sobre a actividade económica, no 1ºT2011, a qual, conforme temos vindo a defender, deverá, então, regressar às contracções, reflectindo, essencialmente, as referidas medidas de austeridade previstas no Orçamento de Estado para 2011, parte destas (as mais severas) implementadas, precisamente, no início deste mês.