Portugal a caminho de uma recessão de 2% em 2013

15/11/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

PIB contraiu 3,4% no terceiro trimestre. A economia portuguesa registou a maior queda homóloga desde 2009 sublinha a equipa de economistas da Universidade Católica, apontando para o corte salarial na função pública com factor relevante para este desempenho. O NECEP espera uma contracção da economia de 2% no próximo ano. Uma queda de 2% é também a expectativa do Montepio: Rui Bernardes Serra atribui uma parte do mau desempenho do último trimestre a um aumento mais forte que o esperado das importações e aponta para uma recessão de 3% este ano e de 2% no próximo. No BPI, Paula Carvalho avisa que o pior de 2012 ainda estará para vir. E, embora aponte para uma recessão de apenas 1,5% em 2013, sublinha que o risco de revisão em baixa deste valor. Filipe Garcia, da IMF, destaca as dificuldades que este desempenho económico coloca aos objectivos orçamentais e o facto do investimento continuar a cair, reduzindo assim as hipóteses de um relançamento sustentado da economia.

     

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1. No 3º trimestre de 2012, a economia portuguesa registou uma quebra de 0,8% face ao trimestre anterior e de 3,4% em termos homólogos, evoluindo abaixo do seu ritmo de crescimento tendencial.

 

2. Este é o oitavo trimestre consecutivo de contracção do PIB e a maior quebra homóloga do produto desde o 2º trimestre de 2009. As taxas de crescimento verificadas no 2º trimestre foram revistas, em alta muito ligeira, para -1,1% e -3,2%, respectivamente.

 

3. O crescimento do PIB no 3º trimestre ficou em linha com o projectado pelo NECEP e é consistente com as expectativas do NECEP quanto ao impacto da recente evolução desfavorável da conjuntura externa e das restrições orçamentais. Neste caso, é de destacar o efeito específico da supressão do subsídio de férias na função pública, que certamente influenciou o desempenho do PIB, quer em termos absolutos quer em termos do seu perfil intra-anual.

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do BPI

 

1. Em geral, o comportamento do PIB evoluiu em linha com as previsões, sendo de destacar a menor queda da actividade em cadeia. De facto, esta leitura refere-se ainda ao período entre Julho e Setembro, não reflectindo ainda (ou reflectindo só marginalmente) a retracção dos índices de confiança posterior aos acontecimentos políticos registados em meados de Setembro (que por sua vez resultaram de percepções desajustadas sobre o estado da consolidação orçamental e os esforços necessários no futuro) ou a época de greves variadas, designadamente nos sectores portuário e de transportes, e que deverão ter impacto quer na procura interna (nomeadamente no consumo privado) quer na externa (exportações) a partir do quarto trimestre.

 

2. Relativamente aos dados do terceiro trimestre, o detalhe da informação não deverá também trazer novidades, sendo de antecipar que o desagravamento da tendência do investimento possa ter resultado da formação de stocks, que por sua vez terão influenciado as importações, pesando desfavoravelmente na procura externa líquida.

 

3. Sem surpresas e sem grandes alterações nas tendências antes em curso e não tendo influência no cenário relativo ao conjunto do ano. Continuamos a antecipar uma retracção do produto de 3% este ano e de 1,5% em 2013, sendo o risco de revisão em baixa, sobretudo a previsão do próximo ano.

Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A estimativa preliminar do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) português do 3ºT2012 revelou-se pior do que o esperado, ao apontar para uma queda de 0.8%, superior às nossas perspectivas, bem como à mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (-0.6%).

 

2. Apesar de em ligeiro abrandamento face à queda de 1.1% observada no 2ºT2012 (valor revisto face aos anteriores -1.2%), tratou-se de uma nova forte contracção, depois de no 1ºT2012 a economia apenas ter caído 0.1%, naquela que continua a ser a menor contracção do actual período de recessão, que já dura há 8 trimestres.

 

3. Refira-se a queda de 0.8% agora reportada pelo INE nas contas nacionais é, como temos vindo a referir, bastante difícil de compatibilizar com os dados mensais de actividade divulgados pelo INE, num trimestre que ficou marcado por um mês de Agosto com dados francamente positivos e inesperados, que deverão ter estado a acusar alguma dificuldade nos ajustamentos de sazonalidade das séries devido às férias.

 

4. Mesmo com as correcções evidenciadas pelos dados de Setembro, a indústria, os serviços e a construção terminaram o 3ºT2012, segundo os dados mensais do INE, a registar crescimentos trimestrais, o que per si indiciaria um crescimento da atividade económica.  Apesar de com esta estimativa inicial o INE ainda não divulgar dados em detalhe do PIB, face a este resultado, continuamos a considerar que, na ótica da despesa, a procura interna terá permanecido condicionada pelos efeitos das fortes medidas de austeridade, estimando-se quebras no investimento em capital fixo (FBCF), no consumo privado e no consumo público, mas nos dois primeiros casos bem menos intensas do que as observadas no trimestre anterior, com a causa para esta forte queda da atividade a estar neste trimestre associada a um contributo negativo das exportações líquidas, refletindo um crescimento das importações bem superior ao das exportações.

 

5. A principal surpresa face ao que inicialmente se antevia poderá estar assim no provável forte crescimento em cadeia das importações (só dessa forma é possível haver um abrandamento da contração homóloga referida pelo INE), que aparenta ser difícil de compatibilizar com as quedas que se estimam para o consumo privado e para a FBCF, mas que poderá ser explicado, pelo menos em parte, pelo comportamento da variação de existências. Com efeito, estas deverão ter apresentado um forte contributo positivo, que poderá ter sido suficiente para compensar a queda estimada para a FBCF, levando o investimento total a crescer. 

 

6. Esta maior queda da economia portuguesa no 3ºT2012, tem consequências para o comportamento anual, concorrendo para uma revisão em baixa das nossas perspetivas para 2012, de uma queda de 2.8% para uma na ordem dos 3.0%, em linha com o recentemente previsto pelo Banco de Portugal e pela troika. Esta nossa previsão tem implícita uma nova forte contracção trimestral da actividade económica no 4ºT2012, para valores em torno dos 1.0%, em natural agravamento, reflectindo o recente anúncio de um novo conjunto de fortes medidas de austeridade para 2013, medidas que acabaram desde logo por se começar a refletir na confiança e atitude dos agentes económicos. Recorde-se que com a divulgação da Proposta de OE 2013, revimos também em forte baixa a previsão de crescimento para 2013, para uma queda de cerca de 2.0%, bem mais acentuada do que a prevista no OE 2013 (-1.0%), pese embora mantendo-se ainda condicional à aprovação do documento na especialidade. A economia apenas deverá retomar o processo de recuperação (em cadeia) no final de 2013, mas a ritmos baixos, continuando condicionada pela desalavancagem do sector privado e pela consolidação orçamental.

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. Para que o processo de convergência orçamental original tivesse alguma hipótese de ter sucesso, seria necessário que a economia portuguesa tivesse já estabilizado em termos de queda do produto. Os números do INE confirmam o que todos observam – essa estabilização ainda não ocorreu. Desta forma, o cumprimento dos objectivos será adiado e dada evolução do montante da dívida pública, colocam-se dúvidas sobre a sustentabilidade nas actuais condições.

 

2. A trajectória global da economia portuguesa continua a ser negativa, reflectindo as condições que já vinham de trimestres anteriores, nomeadamente as dificuldades de financiamento, queda da confiança, desaceleração da Zona Euro e medidas de austeridade que afectam empresas e famílias.  É provável que a greve dos portos e a situação económica em Espanha tenham contribuído para uma redução nas exportações, deteriorando mais o PIB.

 

3. Apesar de não se conhecer a desagregação do número, vale a pena destacar um aspecto que tem sido pouco focado, apesar de toda a cobertura mediática em torno da economia portuguesa – a evolução do investimento. O investimento tem contribuído negativamente para ao produto, o que é um sinal preocupante e reflecte simultaneamente as dificuldades de financiamento e a falta de confiança dos agentes económicos. O facto de o investimento continuar em queda constitui um elemento de preocupação relativamente à capacidade de a economia se conseguir renovar e adaptar do ponto de vista competitivo. Notar que a previsões mais recentes do BdP voltam a apontar para uma queda substancial do investimento. As condições concorrenciais das empresas portuguesas, em termos de acesso ao financiamento, continuam a prejudicar a sua actividade no contexto internacional.

Rui Peres Jorge