Recuperação no emprego adiada para 2014

15/11/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de desemprego aumentou para 15,8% no terceiro trimestre. Os desenvolvimentos no mercado de trabalho reflectidos nos dados divulgados ontem pelo INE surpreenderam pela negativa. A taxa de desemprego para o ano deverá aproximar-se dos 17% e o pico na taxa de desemprego será atingido no final do ano ou em 2014, o que adia a recuperação no mercado de trabalho pelo menos até 2014, analisa José Miguel Moreira, do Montepio. O adiamento da recuperação no emprego também é notada por Filipe Garcia da IMF. Paula Carvalho, do BPI, sublinha o forte contributo do desemprego de longa duração para o aumento do desemprego total, mas encontra também sinais positivos no ajustamento no mercado de trabalho, nomeadamente o facto de grande parte do agravamento recair sobre os sectores de bens não transacionáveis.

  

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A taxa de desemprego fixou-se nos 15.8% no 3ºT2012, um resultado que traduz um forte agravamento face aos 15.0% observados no trimestre anterior, em linha com as nossas perspectivas, representando um valor 3.4 p.p. superior ao observado no trimestre homólogo de 2011 e o nível mais elevado da actual e da anterior série histórica.

 

2. Quer a subida trimestral, quer a subida homóloga da taxa de desemprego resultaram de aumentos do desemprego e de quedas do emprego Considerando os dados ajustados de sazonalidade (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), a taxa de desemprego no 3ºT2012 é idêntica, de 15.8% (15.2% no 2ºT2012), representado o nível mais elevado desde, pelo menos, o 1ºT1977 (considerando os dados ajustados de sazonalidade das séries trimestrais do Banco de Portugal).

 

3. Refira-se igualmente que esta taxa de desemprego ajustada de sazonalidade no 3ºT2012 é ligeiramente superior à média das estimativas mensais avançadas pelo Eurostat ao longo do trimestre (em +0.1 p.p.), o que deverá implicar uma ligeira revisão em alta da série do Eurostat, provavelmente corrigindo assim o estranho ligeiro desagravamento de 0.1 p.p. que as estimativas mensais do Eurostat para a taxa de desemprego haviam reportado para o mês de Setembro.

 

4. Estes dados persistem assim a revelar um mercado em crescente deterioração, constituindo um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa, devendo continuar a agravar-se, ademais que este e 2013 serão particularmente difíceis, tendo em consideração o conjunto de medidas de ajustamento com que a economia se está a confrontar. De resto, em termos prospectivos, e reflectindo as medidas constantes na Proposta de OE 2013, revimos recentemente em alta a nossa previsão de taxa de desemprego para 2013, de 16,4% para 16,8%, devendo o pico trimestral máximo ser atingido somente entre o final do próximo ano e o início de 2014.

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do BPI

 

1. A taxa de desemprego revelou um acréscimo significativo, reagindo ao agravamento da tendência de queda da actividade económica. O número de desempregados aumentou a um maior ritmo que no trimestre anterior, o emprego continuou a contrair em torno dos 4% y/y; a taxa de desemprego de longa duração aumentou (8,8% face a 6,4% há um ano atrás) e contribuiu com mais de 50% para o aumento do número de desempregados. Acresce referir que considerando os inactivos disponíveis, a taxa de desemprego passaria de 15.8% para 19.4%. Em geral, é uma leitura bastante desfavorável.

2. No entanto, existem alguns aspectos que tornam esta perspectiva menos negativa, pelo menos do ponto de vista do ajustamento estrutural da economia a evolução em direcção a um modelo mais sustentado, assente nos sectores transaccionáveis:

– a queda do emprego concentrou-se sobretudo nos sectores tipicamente não transaccionáveis: o sector da construção contribuiu com 43% para a queda total do número de empregados (y/y); o comércio por grosso e a retalho com 23%, a administração pública, defesa e seg. social com 14%;

 

– a parte menos positiva: também a indústria transformadora, sector transaccionável, registou um contributo para a redução do emprego (cerca de 25%).

 

– registou-se aumento do emprego a tempo parcial, o que revela aumento do grau de flexibilidade do mercado de trabalho;

 

– aumentou o emprego da população com nível de escolaridade completo igual ao ensino superior (embora a taxa de desemprego tenha aumentado também para este grau de escolaridade, o que significa que o acréscimo de indivíduos com ensino superior à procura de emprego foi superior à criação de emprego);

 

– verificou-se um aumento do emprego no sector agrícola (embora a interpretação desta evolução deva ser lida com cuidado, pois o sector continua a ter pouco peso comparativo no VAB).

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. O desemprego subiu mais do que esperávamos. Sabíamos que o desemprego iria voltar a aumentar, atingindo novamente o nível mais alto de que há memória, mas não tanto. A trajectória permanece clara e ainda sem sinais de inversão, com a economia incapaz de gerar emprego. 

 

2. O fluxo migratório está longe de se poder considerar como um fenómeno marginal e há já muitos portugueses que não se inscrevem nos centros de emprego – só por isso a taxa de desemprego não é mais alta. Em todo o caso, parece-nos tão ou mais relevante analisar os números do emprego do que da taxa de desemprego. E, mais uma vez, o número de empregos na economia voltou a diminuir, desta vez 4.1% em termos homólogos, o que é verdadeiramente preocupante.

 

3. Importa relembrar que a criação de emprego é uma variável que sofre de desfasamento em relação ao ciclo económico. Ou seja, é de esperar que a situação apenas mostre melhorias algum tempo após o produto crescer ou, pelo menos estabilizar. Dado que os indicadores relativos ao PIB voltaram a deteriorar-se, a inversão da tendência no desemprego continua “adiada”.

 

Rui Peres Jorge